O chileno três vezes campeão no Benfica que quase deu o segundo campeonato ao Belenenses. Quem se lembra de Fernando Riera?
Riera comandou o Benfica em 62-63, 66-67 e no início de 67-68
O Belenenses
sagrou-se campeão nacional pela única vez na sua história em 1945-46, mas
esteve a um pequeníssimo passo de alcançar um segundo título em 1954-55. Dentro
de campo a equipa andou à boleia dos 32 golos de Matateu ao longo das 26
jornadas do campeonato, mas o homem do leme era Fernando Riera, um antigo internacional
chileno que havia acabado de terminar a carreira de futebolista no futebol
francês.
Os azuis
entraram na última jornada com mais um ponto que o principal perseguidor, o Benfica,
e mais dois do que o Sporting,
precisamente o seu adversário na derradeira ronda, no Estádio das Salésias. As
ruas de Belém e da Ajuda, particularmente as contíguas ao recinto, estavam
engalanadas e cobertas de azul para a possível festa, mas acabaram num mar de
lágrimas. O Belenenses
foi para intervalo a vencer por 2-1, e na segunda parte Matateu esteve perto de
fazer o terceiro, mas o guarda-redes Carlos Gomes defendeu a bola sobre a linha
de golo – meio século depois, o guardião confessou ao jornal A Bola que
“a bola estava, efetivamente, mais de um palmo dentro da baliza”. E, aos 86
minutos, João Martins fez o golo do empate na sequência de um lance de
contra-ataque, fazendo o mundo desabar sobre jogadores e adeptos do Belenenses.
“Drama nas Salésias. As trevas comeram o sol”, resumiu o jornal desportivo. “O
árbitro anulou dois golos ao Belenenses
e assinalou um penálti para o Sporting
por a bola bater, acidentalmente, no braço do Pires, num centro do Albano. Por
isso lhe digo: se fosse só esse golo não validado… Houve mais casos, a
arbitragem foi muito polémica”, admitiu João Martins ao jornal A Bola
meio século depois. O Benfica
acabou por se sagrar campeão nacional em 1954-55, em igualdade pontual com o conjunto
de Belém, e o Belenenses
nunca mais festejou a conquista de um campeonato. Mas o trabalho de Riera, um
homem que amava o futebol bonito e que viria ainda a guiar os azuis
ao terceiro lugar na I
Divisão nas duas épocas seguintes, foi valorizado. Logo após levar o Chile
ao terceiro lugar do Mundial 1962, disputado em casa, voltou ao futebol português
para suceder ao bicampeão europeu Bela Guttmann no comando técnico do Benfica,
que à última hora o desviou de um regresso ao Belenenses.
Nessa primeira passagem pela Luz,
de apenas uma época, conquistou o título nacional e guiou os encarnados
a uma terceira final consecutiva da Taça
dos Campeões Europeus, desta vez perdida para o AC
Milan em Wembley
(1-2). Porém, foi criticado por não ter preparado um plano para travar Pelé nos
jogos da Taça Intercontinental frente ao Santos
(2-3 no Maracanã e 2-5 na Luz).
Entretanto voltou à América do
Sul para orientar Universidade Católica e Nacional
de Montevideu, mas regressou ao Benfica
no verão de 1966 para levar as águias
ao título de 1966-67, tendo ainda iniciado a campanha rumo ao cetro nacional de
1967-68. Quando se despediu da Luz,
deixou a equipa nos quartos de final da Taça
dos Campeões Europeus – Fernando Cabrita e depois Otto Glória completaram a
caminhada até mais uma final em Wembley,
desta
feita perdida para o Manchester United (1-4). Regressaria ainda a Portugal para
orientar o FC
Porto em 1972-73 e o Sporting
em 1974-75, fazendo assim o pleno no que concerne aos chamados três grandes.
Porém, não foi feliz nas Antas nem em Alvalade. Orientou ainda clubes como os
espanhóis de Espanyol
e Deportivo,
os argentinos do Boca
Juniors e os franceses do Marselha.
É, ainda hoje, mais de 35 anos após ter treinado pela última vez, considerado o
melhor treinador chileno de todos os tempos. Viria a falecer a 23 de setembro
de 2010, aos 90 anos.
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