segunda-feira, 23 de setembro de 2024

O chileno três vezes campeão no Benfica que quase deu o segundo campeonato ao Belenenses. Quem se lembra de Fernando Riera?

Riera comandou o Benfica em 62-63, 66-67 e no início de 67-68
O Belenenses sagrou-se campeão nacional pela única vez na sua história em 1945-46, mas esteve a um pequeníssimo passo de alcançar um segundo título em 1954-55. Dentro de campo a equipa andou à boleia dos 32 golos de Matateu ao longo das 26 jornadas do campeonato, mas o homem do leme era Fernando Riera, um antigo internacional chileno que havia acabado de terminar a carreira de futebolista no futebol francês.
 
Os azuis entraram na última jornada com mais um ponto que o principal perseguidor, o Benfica, e mais dois do que o Sporting, precisamente o seu adversário na derradeira ronda, no Estádio das Salésias. As ruas de Belém e da Ajuda, particularmente as contíguas ao recinto, estavam engalanadas e cobertas de azul para a possível festa, mas acabaram num mar de lágrimas.
 
O Belenenses foi para intervalo a vencer por 2-1, e na segunda parte Matateu esteve perto de fazer o terceiro, mas o guarda-redes Carlos Gomes defendeu a bola sobre a linha de golo – meio século depois, o guardião confessou ao jornal A Bola que “a bola estava, efetivamente, mais de um palmo dentro da baliza”. E, aos 86 minutos, João Martins fez o golo do empate na sequência de um lance de contra-ataque, fazendo o mundo desabar sobre jogadores e adeptos do Belenenses. “Drama nas Salésias. As trevas comeram o sol”, resumiu o jornal desportivo. “O árbitro anulou dois golos ao Belenenses e assinalou um penálti para o Sporting por a bola bater, acidentalmente, no braço do Pires, num centro do Albano. Por isso lhe digo: se fosse só esse golo não validado… Houve mais casos, a arbitragem foi muito polémica”, admitiu João Martins ao jornal A Bola meio século depois.
 
O Benfica acabou por se sagrar campeão nacional em 1954-55, em igualdade pontual com o conjunto de Belém, e o Belenenses nunca mais festejou a conquista de um campeonato. Mas o trabalho de Riera, um homem que amava o futebol bonito e que viria ainda a guiar os azuis ao terceiro lugar na I Divisão nas duas épocas seguintes, foi valorizado.
 
Logo após levar o Chile ao terceiro lugar do Mundial 1962, disputado em casa, voltou ao futebol português para suceder ao bicampeão europeu Bela Guttmann no comando técnico do Benfica, que à última hora o desviou de um regresso ao Belenenses. Nessa primeira passagem pela Luz, de apenas uma época, conquistou o título nacional e guiou os encarnados a uma terceira final consecutiva da Taça dos Campeões Europeus, desta vez perdida para o AC Milan em Wembley (1-2). Porém, foi criticado por não ter preparado um plano para travar Pelé nos jogos da Taça Intercontinental frente ao Santos (2-3 no Maracanã e 2-5 na Luz).

 
Entretanto voltou à América do Sul para orientar Universidade Católica e Nacional de Montevideu, mas regressou ao Benfica no verão de 1966 para levar as águias ao título de 1966-67, tendo ainda iniciado a campanha rumo ao cetro nacional de 1967-68. Quando se despediu da Luz, deixou a equipa nos quartos de final da Taça dos Campeões Europeus – Fernando Cabrita e depois Otto Glória completaram a caminhada até mais uma final em Wembley, desta feita perdida para o Manchester United (1-4).
 
Regressaria ainda a Portugal para orientar o FC Porto em 1972-73 e o Sporting em 1974-75, fazendo assim o pleno no que concerne aos chamados três grandes. Porém, não foi feliz nas Antas nem em Alvalade.
 
Orientou ainda clubes como os espanhóis de Espanyol e Deportivo, os argentinos do Boca Juniors e os franceses do Marselha. É, ainda hoje, mais de 35 anos após ter treinado pela última vez, considerado o melhor treinador chileno de todos os tempos.
 
Viria a falecer a 23 de setembro de 2010, aos 90 anos. 



 

  




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