Os cinco croatas que passaram pelo Benfica antes de Musa |
Anunciado recentemente
como reforço do Benfica
para 2022-23, o ponta de lança Petar Musa vai juntar-se a uma ainda
curta lista de croatas que passaram pelas águias. O avançado que na
época que agora findou esteve emprestado ao Boavista
pelo Slávia Praga, vai juntar-se a um grupo de cinco compatriotas
(um treinador e quatro jogadores). Vale a pena recordá-los.
Tomislav Ivic |
Treinador com pergaminhos, que em
1987-88 tinha conquistado campeonato, Taça
de Portugal, Supertaça Europeia e Taça Intercontinental ao leme
do FC
Porto e que tinha vencido títulos nacionais na Jugoslávia (pelo
Hajduk Split), na Holanda
(Ajax),
na Bélgica (Anderlecht)
e em França
(Marselha), foi o escolhido para suceder a Sven-Göran Eriksson, que
tinha rumado à Sampdoria.
Em cerca de dois meses à
frente da equipa do Benfica,
somou sete vitórias, três empates e duas derrotas em 12 partidas,
tendo deixado o cargo após entrar em conflito com os russos Yuran,
Kulkov e Mostovoi, uma derrota em Alvalade
(0-2) e um empate em Barcelos (1-1), acabando substituído por Toni.
No pouco tempo que esteve no comando técnico pediu ao presidente
Jorge de Brito para reduzir o campo do Estádio da Luz em largura
para exercer melhor pressão sobre os adversários.
Curiosamente, Ivic já
tinha passado pelo Benfica
oito anos antes, no verão de 1984, também para suceder a Eriksson.
Na altura chegou a apresentar-se aos jogadores, a dirigir treinos e
um jogo particular e a participar na apresentação dos reforços,
mas acabou por bater com a porta por desacordo financeiro com o
presidente Fernando Martins, numa altura em que ainda não tinha
contrato assinado, e assinar pelos italianos do Avellino, que lhe
pagavam em dólares.
Mario Stanic |
Dois anos depois, aterrou
em Lisboa outro croata para reforçar o Benfica,
neste caso um futebolista, o médio ofensivo/avançado Mario
Stanic, proveniente dos espanhóis do Sporting Gijón, já depois
de ter passado pelos bósnios do Zeljeznicar e pelos croatas do
Dínamo Zagreb, numa altura em que contabilizava duas
internacionalizações pela Jugoslávia.
Preterido por Artur Jorge
durante vários meses, não foi além de 15 jogos e cinco golos de
águia
ao peito. No entanto, disparou na reta final da temporada, tendo tido
uma sequência de quatro golos em três partidas nas derradeiras
jornadas do campeonato.
Embora não tivesse
vingado de águia
ao peito, veio a fazer uma carreira muito interessante, tendo
representado Club Brugge, Parma
e Chelsea
e participado no Euro 1996 e nos Mundiais 1998 e 2002.
Tomo Sokota |
O segundo croata a jogar
pelo Benfica
também era avançado e foi talvez o jogador do seu país que deixou
mais saudades na Luz: Tomo Sokota. Avançado muito combativo,
chegou a Lisboa no verão de 2001 após quase meia centena de golos
pelo Dínamo Zagreb nas duas épocas anteriores, numa altura em que
ainda nem era internacional AA pela Croácia. “[Fui indicado] pelo
professor Jesualdo Ferreira. Ele viu-me a jogar pela seleção de
sub-21 da Croácia e sugeriu a minha contratação. No primeiro dia
entrei na Luz e conheci o Eusébio. Telefonei logo ao meu pai, que o
adorava. Parecia tudo um sonho, tudo perfeito”, recordou ao
Maisfutebol
em fevereiro de 2019.
Bastante condicionado por
uma lesão no tendão de Aquiles, não foi além de 20 jogos e seis
golos nas duas primeiras temporadas de águia
ao peito. “No Benfica,
principalmente no Benfica,
treinava demasiado. Queria dar tudo todos os dias, não geria a minha
condição física. É ótimo poder falar sobre isto, tantos anos
depois. Um alívio. Eu sempre fui um lutador, um guerreiro, e sempre
que voltava de uma lesão queria provar a todos que estava totalmente
bem. E forçava. Forçava muito”, lembrou.
“Sabe quem é o meu
melhor amigo português? o fisioterapeuta António Gaspar. Tinha de
ser, certo? É como um irmão para mim, vem quase todos os anos de
férias à Croácia. Mas também era próximo do Simão Sabrosa, do
Nuno Gomes, do Zahovic e do Drulovic”, acrescentou.
No entanto, explodiu em
2003-04, quando explodiu (14 golos em 40 partidas) e obrigou o
treinador José António Camacho a abdicar do 4x2x3x1 que até então
era o seu sistema preferido para implementar um 4x4x2, com Sokota e
Nuno Gomes a formarem a dupla de avançados, tendo concluído a época
com a conquista da Taça
de Portugal e a participação no Euro 2004. “O Camacho terá
sido o [treinador] que me marcou mais, porque joguei muito bem
naquela época. Estava bem fisicamente e ele apostou em mim”,
afirmou ao Maisfutebol
em setembro de 2012.
Em 2004-05 também
começou a um nível elevado, com oito golos em 19 partidas, mas a
partir de dezembro deixou de ser opção, não por motivos técnicos
mas porque terminava contrato em junho de 2005, tendo acabado por
assinar pelo FC
Porto no final dessa temporada. “O meu contrato com o Benfica
acabava em 2005. Tive várias reuniões com a direção, chegámos
perto do acordo, mas quando pensei que tudo ia acabar bem… não
houve acordo e mandaram-me para a equipa B. Senti que as pessoas do
Benfica
deixaram de acreditar em mim”, lembrou Sokota, que, ainda assim,
contribuiu para a conquista do título nacional que escapava aos
encarnados
há onze anos.
“O meu coração é
mais benfiquista do que portista. Fui sempre muito bem tratado e
recebido por todos no FC
Porto, atenção, mas no Benfica
estive quatro anos e consegui jogar mais vezes. Envolvi-me mais com a
equipa e com o clube (…) No Benfica
encontrei amor, emoção, uma grandeza incrível. Certa vez na Suíça
fomos recebidos por cinco mil pessoas. Na pré-época. A ligação
dos adeptos ao clube é quase militar, de obediência e fidelidade”,
rematou.
Kalaica |
Mais de uma década
depois da saída de Sokota, chegou à Luz em 2016 o central
internacional jovem croata Branimir Kalaica, proveniente do
Dínamo Zagreb e que ainda pertence aos quadros do Benfica
mas está prestes a terminar contrato.
Embora ainda fosse
júnior, começou a jogar desde logo na equipa B dos encarnados,
pela qual amealhou 100 encontros e três golos entre 2016 e 2022,
tendo contribuído para a obtenção do quarto lugar na II
Liga em 2016-17 e 2018-19.
Paralelamente, disputou
um jogo pela equipa principal, logo com um golo marcado ao Boavista
no Estádio do Bessa, em maio de 2017. A participação nessa partida
valeu-lhe a conquista do título nacional nessa temporada.
Filip Krovinovic |
Quem coincidiu com
Kalaica na Luz foi Filip
Krovinovic, médio de características ofensivas contratado
no verão de 2017 ao Rio
Ave, depois de duas épocas de muito bom nível em Vila do Conde.
Após escassa utilização
nos primeiros meses de águia
ao peito, agarrou a titularidade em novembro e obrigou o então
técnico encarnado
Rui Vitória a abdicar do 4x1x3x2 que remontava aos tempos de Jorge
Jesus para implementar um 4x3x3 em que Krovinovic
e Pizzi pudessem coexistir no meio-campo. No entanto, numa altura em
que já tinha conquistado o estatuto de titular indiscutível, o
centrocampista
croata sofreu uma rotura do ligamento cruzado anterior do joelho
direito em janeiro de 2018 e só voltou a jogar a jogar dez meses
depois.
Entretanto, Bruno
Lage sucedeu a Rui Vitória, implementou um sistema de 4x4x2 com
dois médios posicionais e não encontrou espaço para Krovinovic,
que também não voltou a exibir ao nível patenteado entre novembro
de 2017 e janeiro de 2018.
Seguiram-se empréstimos
a West Bromwich e Nottingham Forest antes de assinar a título
definitivo pelo Hajduk Split no verão de 2021.
Pelo meio, foi tornado
público um áudio em que o jogador surge a insultar o então novo
treinador das águias
Jorge
Jesus, na pré-época de 2020-21. “Imagina que estás na minha
situação. Ontem tiveram jogo, eu fui o único jogador que não
entrou um minuto. Jogaram duas equipas e eu não entrei. Depois o
treinador adjunto foi lá perguntar ao Jesus: ‘O Krovi
entra?’. E ele disse ‘não, ele fica lá, se alguém se lesionar,
ele entra’. Mano, filho da puta. Pá, incrível. Tipo, não podia
sair para ir para casa e tinha de ficar lá”, diz na altura o
croata, num português quase irrepreensível.
Sem comentários:
Enviar um comentário