sexta-feira, 27 de maio de 2022

Croatas no Benfica. Um treinador e quatro jogadores antes de Musa

Os cinco croatas que passaram pelo Benfica antes de Musa
Anunciado recentemente como reforço do Benfica para 2022-23, o ponta de lança Petar Musa vai juntar-se a uma ainda curta lista de croatas que passaram pelas águias. O avançado que na época que agora findou esteve emprestado ao Boavista pelo Slávia Praga, vai juntar-se a um grupo de cinco compatriotas (um treinador e quatro jogadores). Vale a pena recordá-los.

Tomislav Ivic
Se a independência da Croácia foi declarada a 25 de junho de 1991, o primeiro croata da história dos encarnados chegou à Luz no verão do ano seguinte, e logo para ocupar o cargo de treinador: Tomislav Ivic. 
Treinador com pergaminhos, que em 1987-88 tinha conquistado campeonato, Taça de Portugal, Supertaça Europeia e Taça Intercontinental ao leme do FC Porto e que tinha vencido títulos nacionais na Jugoslávia (pelo Hajduk Split), na Holanda (Ajax), na Bélgica (Anderlecht) e em França (Marselha), foi o escolhido para suceder a Sven-Göran Eriksson, que tinha rumado à Sampdoria.
Em cerca de dois meses à frente da equipa do Benfica, somou sete vitórias, três empates e duas derrotas em 12 partidas, tendo deixado o cargo após entrar em conflito com os russos Yuran, Kulkov e Mostovoi, uma derrota em Alvalade (0-2) e um empate em Barcelos (1-1), acabando substituído por Toni. No pouco tempo que esteve no comando técnico pediu ao presidente Jorge de Brito para reduzir o campo do Estádio da Luz em largura para exercer melhor pressão sobre os adversários.
Curiosamente, Ivic já tinha passado pelo Benfica oito anos antes, no verão de 1984, também para suceder a Eriksson. Na altura chegou a apresentar-se aos jogadores, a dirigir treinos e um jogo particular e a participar na apresentação dos reforços, mas acabou por bater com a porta por desacordo financeiro com o presidente Fernando Martins, numa altura em que ainda não tinha contrato assinado, e assinar pelos italianos do Avellino, que lhe pagavam em dólares.


Mario Stanic
Dois anos depois, aterrou em Lisboa outro croata para reforçar o Benfica, neste caso um futebolista, o médio ofensivo/avançado Mario Stanic, proveniente dos espanhóis do Sporting Gijón, já depois de ter passado pelos bósnios do Zeljeznicar e pelos croatas do Dínamo Zagreb, numa altura em que contabilizava duas internacionalizações pela Jugoslávia.
Preterido por Artur Jorge durante vários meses, não foi além de 15 jogos e cinco golos de águia ao peito. No entanto, disparou na reta final da temporada, tendo tido uma sequência de quatro golos em três partidas nas derradeiras jornadas do campeonato.
Embora não tivesse vingado de águia ao peito, veio a fazer uma carreira muito interessante, tendo representado Club Brugge, Parma e Chelsea e participado no Euro 1996 e nos Mundiais 1998 e 2002.
“Saí do Benfica porque não joguei o suficiente”, afirmou ao jornal Record em junho de 2021.



Tomo Sokota
O segundo croata a jogar pelo Benfica também era avançado e foi talvez o jogador do seu país que deixou mais saudades na Luz: Tomo Sokota. Avançado muito combativo, chegou a Lisboa no verão de 2001 após quase meia centena de golos pelo Dínamo Zagreb nas duas épocas anteriores, numa altura em que ainda nem era internacional AA pela Croácia. “[Fui indicado] pelo professor Jesualdo Ferreira. Ele viu-me a jogar pela seleção de sub-21 da Croácia e sugeriu a minha contratação. No primeiro dia entrei na Luz e conheci o Eusébio. Telefonei logo ao meu pai, que o adorava. Parecia tudo um sonho, tudo perfeito”, recordou ao Maisfutebol em fevereiro de 2019.
Bastante condicionado por uma lesão no tendão de Aquiles, não foi além de 20 jogos e seis golos nas duas primeiras temporadas de águia ao peito. “No Benfica, principalmente no Benfica, treinava demasiado. Queria dar tudo todos os dias, não geria a minha condição física. É ótimo poder falar sobre isto, tantos anos depois. Um alívio. Eu sempre fui um lutador, um guerreiro, e sempre que voltava de uma lesão queria provar a todos que estava totalmente bem. E forçava. Forçava muito”, lembrou.
“Sabe quem é o meu melhor amigo português? o fisioterapeuta António Gaspar. Tinha de ser, certo? É como um irmão para mim, vem quase todos os anos de férias à Croácia. Mas também era próximo do Simão Sabrosa, do Nuno Gomes, do Zahovic e do Drulovic”, acrescentou.
No entanto, explodiu em 2003-04, quando explodiu (14 golos em 40 partidas) e obrigou o treinador José António Camacho a abdicar do 4x2x3x1 que até então era o seu sistema preferido para implementar um 4x4x2, com Sokota e Nuno Gomes a formarem a dupla de avançados, tendo concluído a época com a conquista da Taça de Portugal e a participação no Euro 2004. “O Camacho terá sido o [treinador] que me marcou mais, porque joguei muito bem naquela época. Estava bem fisicamente e ele apostou em mim”, afirmou ao Maisfutebol em setembro de 2012.
Em 2004-05 também começou a um nível elevado, com oito golos em 19 partidas, mas a partir de dezembro deixou de ser opção, não por motivos técnicos mas porque terminava contrato em junho de 2005, tendo acabado por assinar pelo FC Porto no final dessa temporada. “O meu contrato com o Benfica acabava em 2005. Tive várias reuniões com a direção, chegámos perto do acordo, mas quando pensei que tudo ia acabar bem… não houve acordo e mandaram-me para a equipa B. Senti que as pessoas do Benfica deixaram de acreditar em mim”, lembrou Sokota, que, ainda assim, contribuiu para a conquista do título nacional que escapava aos encarnados há onze anos.
“O meu coração é mais benfiquista do que portista. Fui sempre muito bem tratado e recebido por todos no FC Porto, atenção, mas no Benfica estive quatro anos e consegui jogar mais vezes. Envolvi-me mais com a equipa e com o clube (…) No Benfica encontrei amor, emoção, uma grandeza incrível. Certa vez na Suíça fomos recebidos por cinco mil pessoas. Na pré-época. A ligação dos adeptos ao clube é quase militar, de obediência e fidelidade”, rematou.



Kalaica
Mais de uma década depois da saída de Sokota, chegou à Luz em 2016 o central internacional jovem croata Branimir Kalaica, proveniente do Dínamo Zagreb e que ainda pertence aos quadros do Benfica mas está prestes a terminar contrato.
Embora ainda fosse júnior, começou a jogar desde logo na equipa B dos encarnados, pela qual amealhou 100 encontros e três golos entre 2016 e 2022, tendo contribuído para a obtenção do quarto lugar na II Liga em 2016-17 e 2018-19.
Paralelamente, disputou um jogo pela equipa principal, logo com um golo marcado ao Boavista no Estádio do Bessa, em maio de 2017. A participação nessa partida valeu-lhe a conquista do título nacional nessa temporada.



Filip Krovinovic
Quem coincidiu com Kalaica na Luz foi Filip Krovinovic, médio de características ofensivas contratado no verão de 2017 ao Rio Ave, depois de duas épocas de muito bom nível em Vila do Conde.
Após escassa utilização nos primeiros meses de águia ao peito, agarrou a titularidade em novembro e obrigou o então técnico encarnado Rui Vitória a abdicar do 4x1x3x2 que remontava aos tempos de Jorge Jesus para implementar um 4x3x3 em que Krovinovic e Pizzi pudessem coexistir no meio-campo. No entanto, numa altura em que já tinha conquistado o estatuto de titular indiscutível, o centrocampista croata sofreu uma rotura do ligamento cruzado anterior do joelho direito em janeiro de 2018 e só voltou a jogar a jogar dez meses depois.
Entretanto, Bruno Lage sucedeu a Rui Vitória, implementou um sistema de 4x4x2 com dois médios posicionais e não encontrou espaço para Krovinovic, que também não voltou a exibir ao nível patenteado entre novembro de 2017 e janeiro de 2018.
Seguiram-se empréstimos a West Bromwich e Nottingham Forest antes de assinar a título definitivo pelo Hajduk Split no verão de 2021.
Pelo meio, foi tornado público um áudio em que o jogador surge a insultar o então novo treinador das águias Jorge Jesus, na pré-época de 2020-21. “Imagina que estás na minha situação. Ontem tiveram jogo, eu fui o único jogador que não entrou um minuto. Jogaram duas equipas e eu não entrei. Depois o treinador adjunto foi lá perguntar ao Jesus: ‘O Krovi entra?’. E ele disse ‘não, ele fica lá, se alguém se lesionar, ele entra’. Mano, filho da puta. Pá, incrível. Tipo, não podia sair para ir para casa e tinha de ficar lá”, diz na altura o croata, num português quase irrepreensível.











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