Hugo Viana tenta fugir a Toni Vidigal e Paulo Piedade |
Falar das minhas primeiras
memórias de jogos entre Sporting
e Varzim leva-me de volta à época do “Só eu sei porque não fico em casa”, em
que a dupla de sonho composta por João Pinto e Jardel ajudou (e de que maneira!)
os leões
de Laszlo Bölöni a conquistar o título nacional, o último do clube até 2020-21.
Após um início de época
atribulado, com três derrotas e dois empates nas primeiras nove jornadas, os verde
e brancos começaram a carburar. À entrada para a receção ao Varzim a 9 de
dezembro de 2001, em partida da 14.ª jornada da I
Liga, o Sporting
vinha de quatro vitórias consecutivas, duas delas com goleada (6-0 em Paços
de Ferreira e 5-1 em Vidal Pinheiro), uma sobre o campeão em título (2-0
sobre o Boavista
em Alvalade)
e a outra numa deslocação tradicionalmente difícil (2-0 nos Barreiros). Além
disso, as derrotas de FC
Porto (em
Guimarães, 0-2) e Benfica
(em
Paços de Ferreira, 1-2) davam a possibilidade a Jardel e companhia para
subirem à liderança do campeonato
em caso de triunfo sobre uns poveiros que ocupavam o último lugar da tabela,
com apenas nove pontos em 13 jornadas.
O contexto parecia bastante
favorável para os sportinguistas,
o que se confirmou logo no primeiro minuto, quando um jovem de 18 anos chamado Ricardo
Quaresma, que tinha ficado com a missão de fazer todo o corredor direito, inaugurou
o marcador através de um remate de trivela.
Aos 19 minutos, Quaresma
arrancou pela direita e cruzou para o coração da área, onde Mário Jardel fez o
2-0 de forma acrobática. “Será?”, perguntava o avançado brasileiro na camisola
interior, na última temporada em que foi permitida a exibição de mensagens e
imagens nas por baixo das camisolas de jogo.
Aos 28’, mais do mesmo: cruzamento
de Quaresma
(de pé esquerdo, algo raro no extremo…) a partir da direita e cabeceamento
certeiro de Jardel ao segundo poste, depois de o guarda-redes Hilário não ter
conseguido intersetado a bola.
E para não ser sempre o mesmo a
faturar, Quaresma
entregou o 4-0 de bandeja a João Vieira Pinto, que fechou as contas ainda antes
do intervalo (42’).
“Uma moldura humana entusiástica
e um Sporting
supermotivado pelas derrotas na véspera do FC
Porto e do Benfica,
criaram as condições propícias a uma grande exibição, como a que os leões
realizaram na primeira parte. A avalancha de futebol ofensivo submergiu
literalmente um Varzim que acabou por pagar as favas pelo clima de euforia e de
empolgamento criados em redor da equipa
leonina pela circunstância de a dupla derrota dos rivais abrir o caminho à
liderança na I
Liga. Mas se o Sporting
fez, do ponto de vista coletivo, uma grande primeira parte, houve um jogador
que esteve em noite absolutamente inspirada e imparável. Um puto de dezoito
anos que não deixou um ‘prato’ intacto na ‘cozinha’ poveira. Que razia!”,
escreveu o Record.
“O Sporting
é o novo líder da I
Liga depois da categórica vitória (4-0) desta tarde sobre o Varzim, em jogo
da 14.ª jornada, na sequência de uma primeira parte de alto nível, em que os
jogadores, com destaque para Ricardo
Quaresma, se excederam nas suas capacidades técnicas para proporcionar um
espetáculo inolvidável, com quatro bonitos golos, aos mais de 25 mil adeptos
que estiveram em Alvalade.
No segundo tempo, László Bölöni mexeu na equipa e a assimilação das novas peças
foi demorada e o futebol não voltou a ser o mesmo. O treinador romeno assumiu
finalmente o 3x4x3 que vinha ensaiando há algum tempo, mas que, com César
Prates, encravava sistematicamente num 5x3x2 pouco maleável e, mais importante,
não explorava as capacidades de Jardel. A solução foi simples e lógica: entrou Quaresma
para o lugar do lateral brasileiro. O jovem correspondeu ao voto de confiança
do técnico com uma exibição inesquecível, participando nos quatro primeiros
golos”, resumiu o Maisfutebol.
Curiosamente, até me lembro
melhor do jogo da segunda volta, mas pelas piores razões. Recordo-me que, por
esta altura, os meus pais estavam no Alentejo
a acompanhar o estado de saúde do meu avô materno, que viria a morrer. Já eu
fiquei em casa dos meus avós paternos na cidade em que vivia, o Barreiro,
de forma a continuar a ir às aulas. E acabei por acompanhar esse jogo através
da transmissão da RTP 1.
Com o Sporting
empatado na liderança do campeonato com o Boavista,
ainda que com vantagem no confronto direto e menos um jogo disputado, e o
Varzim com dois pontos de vantagem sobre a primeira equipa em zona de
despromoção, o Salgueiros,
o encontro da Póvoa era de extrema importância para ambas as equipas.
Mesmo sem as facilidades do jogo
da primeira volta, os leões
venceram, por 3-1, na noite de 13 de abril de 2002. Jardel abriu o ativo à
passagem da meia hora, após passe atraso por Pedro Barbosa, serviu João Pinto
para o segundo golo leonino
quando o cronómetro marcava 60 minutos e sofreu e converteu o penálti que deu o
0-3 (65’). Aos 68’, o Varzim reduziu por intermédio de Gilmar, na ressaca de um
livre lateral executado por Quim Berto a partir do lado direito.
“Embalado pelo empate do Boavista
no Funchal, o Sporting
exibiu-se na Póvoa com uma confiança e uma autoridade que contribuíram
decisivamente para a vitória alcançada. Mais três pontos e o título, agora,
apenas a 180 minutos. Ou seja, a turma de Alvalade
precisa de vencer dois dos três jogos que lhe falta disputar e pode dar-se ao
luxo de perder um deles, partindo do princípio, é claro, que os axadrezados
só somarão triunfos até final do campeonato.
Como se sabe, no confronto direto, os leões
têm vantagem sobre os atuais campeões. Uma situação invejável. O jogo de ontem
não foi assim tão fácil como os números, à partida, poderão dar ideia. O Sporting
teve de atuar muito concentrado, muito coeso, na constante procura da posse da
bola, aspeto em que Paulo Bento e Rui Bento se mostraram exímios. Aliás, para
dar mais consistência ao apontado, refira-se que até Jardel recuou para ajudar
companheiros e pressionar os adversários”, salientou o Record.
“'Seremos campeões' - o cântico
forte da claque do Sporting
começa a fazer cada vez mais sentido quando faltam três jogos para o final do
campeonato. O sonho tornou-se realidade: três pontos de vantagem sobre o Boavista
reforçam a liderança na prova. Dão consistência e fazem crer que o novo campeão
veste de verde
e branco. Só uma catástrofe, enfim só algo de muito grave que nem sequer se
esconde no cérebro do melhor criativo, poderá tirar este título à equipa de Alvalade,
cada vez mais ciente do seu valor e da sua enorme qualidade. Este desafio foi a
prova disso mesmo e a presença, pelo menos, na pré-eliminatória da próxima
edição da Liga
dos Campeões já foi conseguida. Esta vitória foi uma espécie de passo de
gigante para o objetivo mais imediato da formação de Bölöni. O empate do rival
axadrezado no terreno do Marítimo obrigava os jogadores leoninos
a escreverem - custasse o que custasse - o triunfo como forma de garantir o
cetro. Objetivo cumprido. Sem mácula. Grande exibição, apesar de não ter sido
constante ao longo do desafio, mas o suficiente para deixar o Varzim novamente
com a corda ao pescoço na luta pela permanência na tão desejada I
Liga. Contra factos não há argumentos - uma frase batida que ganhou ainda
mais força depois deste encontro. É preciso dizê-lo com clareza: o Sporting
acusou a ansiedade nos primeiros instantes, demorou algum tempo a refrescar a
cabeça e a deixar para trás o peso de ser obrigado a vencer para abrir um fosso
pontual significativo em relação ao Boavista.
Entrou em campo com essa cruz às costas e passou alguns minutos a tirá-la do
pensamento. Mas conseguiu-o. De forma clara. E natural. Graças à criatividade
de algumas pérolas, ao génio diabólico de Pedro Barbosa, à classe de João Pinto
e à destreza de Hugo Viana. Depois, Jardel, sempre Jardel, o goleador das mil
noites. Assim, foi fácil, naturalmente fácil”, escreveu o Maisfutebol.
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