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Bandeira hasteada no 114.º aniversário do Vitória de Setúbal |
Esta quarta-feira o
Vitória
Futebol Clube comemorou o 114.º aniversário, uma data que ficou marcada
pela ausência de candidatos às eleições para os órgãos sociais.
O clube prepara-se, por isso,
para voltar a ser governado por uma Comissão de Gestão. Já assim tinha sido no
final da década de 2000.
É também pelas sucessivas crises diretivas
e financeiras que os sadinos têm tido dificuldade em gerar algum tipo de simpatia
para lá das encostas da serra da Arrábida. Para muitos, o
Vitória
é o clube dos constantes salários em atraso, da instabilidade diretiva, das
permanências conseguidas à rasca, de um período de alguma proximidade ao
FC
Porto com direito a transferências em saldo, muitos empréstimos e derrotas
certas e mais recentemente de uma fase com negócios com o
Benfica
difíceis de explicar. Uma das claques até já incluiu num cântico o seguinte trecho: “ninguém
gosta de nós, mas eu não quero saber…”
Mas não se deve confundir
decisões de quem transitoriamente dirige o
Vitória
com a história centenária e o espírito que está enraizado nos
vitorianos.
Se, hipoteticamente, tudo isso fosse votado em Assembleia Geral, certamente que
os sócios não escolheriam que o clube fosse incumpridor ou que tivesse relações
promíscuas com qualquer um dos três maiores emblemas de Portugal.
Sempre olhei para o
Vitória
com outros olhos. Não sendo da cidade de Setúbal, mas sim do distrito, sempre vi
para o
emblema
sadino como o expoente máximo da região em termos desportivos.
Aprendi a gostar do
Vitória
por Setúbal ser, com muito bairrismo, uma das raras ilhas fortificadas no meio
de um mar em que as correntes puxam para os lados de
Benfica,
FC
Porto ou
Sporting.
Aprendi a gostar do
Vitória
por histórias como a do VIII Exército, que antes de ser o nome da claque mais
antiga do país foi o nome dado à multidão que invadiu Lisboa para assistir à
final da
Taça
de Portugal de 1942-43 diante do
Benfica,
no Campo das Salésias.
Aprendi a gostar do
Vitória
por histórias como a da Taça Recompensa, oferecida pelo povo setubalense ao
clube após a derrota polémica às mãos do
Sporting
na final da
Taça
de Portugal em 1953-54.
Aprendi a gostar do
Vitória
por histórias como a da construção do
Estádio
do Bonfim, edificado graças às contribuições da população e das empresas
locais.
Aprendi a gostar do
Vitória
pelas façanhas europeias das décadas de 1960 e 1970, que incluíram um período de
10 temporadas seguidas a competir nas provas da UEFA, caminhadas até aos quartos
de final da
Taça
UEFA em 1968-69, 1970-71 e 197273 e triunfos sobre emblemas como
Liverpool,
Fiorentina,
Spartak Moscovo,
Inter
de Milão,
Lyon
ou Leeds.
Atualmente, o
Vitória
vive o ponto mais baixo da sua história. Caiu na II Divisão Distrital e
prepara-se para entrar num período de vazio diretivo. Depois de na época
passada e antes disso em 2019-20 se sofrer com tantos jogos que, afinal, não
contavam para nada, não é fácil deixar a família e fazer dezenas ou até
centenas de quilómetros para apoiar uma equipa que, faça o que fizer em campo,
poderá ver todo esse esforço em vão.
Até
quando vai durar esta incerteza, esta angústia?
Recentemente temos visto, nuns
moldes ou noutros, o renascimento pujante de clubes que há muitos anos estavam
afastados na alta-roda e o crescimento exponencial de outros que há bem pouco
tempo não sonhavam andar pelas ligas profissionais. E em Setúbal, não há quem
faça acontecer? Onde estão as forças vivas da cidade e da região para voltar a
meter o
Vitória
de pé?
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