quinta-feira, 21 de novembro de 2024

O Vitória das multidões, da Taça Recompensa, da construção do Bonfim e das façanhas europeias

Bandeira hasteada no 114.º aniversário do Vitória de Setúbal
Esta quarta-feira o Vitória Futebol Clube comemorou o 114.º aniversário, uma data que ficou marcada pela ausência de candidatos às eleições para os órgãos sociais.
 
O clube prepara-se, por isso, para voltar a ser governado por uma Comissão de Gestão. Já assim tinha sido no final da década de 2000.
 
É também pelas sucessivas crises diretivas e financeiras que os sadinos têm tido dificuldade em gerar algum tipo de simpatia para lá das encostas da serra da Arrábida. Para muitos, o Vitória é o clube dos constantes salários em atraso, da instabilidade diretiva, das permanências conseguidas à rasca, de um período de alguma proximidade ao FC Porto com direito a transferências em saldo, muitos empréstimos e derrotas certas e mais recentemente de uma fase com negócios com o Benfica difíceis de explicar. Uma das claques até já incluiu num cântico o seguinte trecho: “ninguém gosta de nós, mas eu não quero saber…”
 
Mas não se deve confundir decisões de quem transitoriamente dirige o Vitória com a história centenária e o espírito que está enraizado nos vitorianos. Se, hipoteticamente, tudo isso fosse votado em Assembleia Geral, certamente que os sócios não escolheriam que o clube fosse incumpridor ou que tivesse relações promíscuas com qualquer um dos três maiores emblemas de Portugal.
 
Sempre olhei para o Vitória com outros olhos. Não sendo da cidade de Setúbal, mas sim do distrito, sempre vi para o emblema sadino como o expoente máximo da região em termos desportivos.
 
Aprendi a gostar do Vitória por Setúbal ser, com muito bairrismo, uma das raras ilhas fortificadas no meio de um mar em que as correntes puxam para os lados de Benfica, FC Porto ou Sporting.
 
Aprendi a gostar do Vitória por histórias como a do VIII Exército, que antes de ser o nome da claque mais antiga do país foi o nome dado à multidão que invadiu Lisboa para assistir à final da Taça de Portugal de 1942-43 diante do Benfica, no Campo das Salésias.
 
Aprendi a gostar do Vitória por histórias como a da Taça Recompensa, oferecida pelo povo setubalense ao clube após a derrota polémica às mãos do Sporting na final da Taça de Portugal em 1953-54.
 
Aprendi a gostar do Vitória por histórias como a da construção do Estádio do Bonfim, edificado graças às contribuições da população e das empresas locais.
 
Aprendi a gostar do Vitória pelas façanhas europeias das décadas de 1960 e 1970, que incluíram um período de 10 temporadas seguidas a competir nas provas da UEFA, caminhadas até aos quartos de final da Taça UEFA em 1968-69, 1970-71 e 197273 e triunfos sobre emblemas como Liverpool, Fiorentina, Spartak Moscovo, Inter de Milão, Lyon ou Leeds.
 
Atualmente, o Vitória vive o ponto mais baixo da sua história. Caiu na II Divisão Distrital e prepara-se para entrar num período de vazio diretivo. Depois de na época passada e antes disso em 2019-20 se sofrer com tantos jogos que, afinal, não contavam para nada, não é fácil deixar a família e fazer dezenas ou até centenas de quilómetros para apoiar uma equipa que, faça o que fizer em campo, poderá ver todo esse esforço em vão.  Até quando vai durar esta incerteza, esta angústia?
 
Recentemente temos visto, nuns moldes ou noutros, o renascimento pujante de clubes que há muitos anos estavam afastados na alta-roda e o crescimento exponencial de outros que há bem pouco tempo não sonhavam andar pelas ligas profissionais. E em Setúbal, não há quem faça acontecer? Onde estão as forças vivas da cidade e da região para voltar a meter o Vitória de pé?













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