O antigo goleador do Sporting a quem faltou disciplina. Quem se lembra de Leandro?
Leandro Machado somou 18 golos em 48 jogos pelo Sporting
Um daqueles casos de “falta de
cabeça”, como em Portugal se designa um jogador talentoso, mas que revelou profissionalismo
para ter uma carreira ao nível da qualidade que tem. Reconhecido como um
avançado com faro para o golo, dinâmica e alguma classe, Leandro Machado apresentou
uma boa média de golos e… problemas disciplinares em vários dos clubes que
representou.
Formado no Avaí, começou a dar
nas vistas no Brasil ao serviço do Internacional
de Porto Alegre, clube pelo qual apontou 60 jogos em 125 jogos entre 1994 e
1996. Enquanto jogou no colorado representou as seleções jovens brasileiras que
venceram o Torneio de Toulon em 1995 e o Torneio Pré-Olímpico em 1996 e foi
chamado à seleção
principal do escrete que participou na Gold Cup em 1996, tendo nesse
torneio somado as duas internacionalizações que tem no currículo e apontado um
golo ao Canadá.
Valorizado pelos bons
desempenhos, foi jogar ao lado do compatriota Romário no Valência,
que pagou 700 milhões de pesetas (4,2 milhões de euros) pela sua contratação.
Embora se tivesse saído relativamente bem, com dez golos em 27 jogos, o seu
gosto pelas noitadas começou a ganhar fama.
O emblema
espanhol quis livrar-se dele e transferiu-o para o Sporting
a troco de um milhão de contos (cerca de 5 milhões de euros) durante o verão de
1997. Embora o clube
de Alvalade estivesse a passar por alguma instabilidade, tendo tido quatro
treinadores durante a temporada 1997-98 – Octávio
Machado, Francisco Vital, Vicente Cantatore e Carlos Manuel –, o avançado
brasileiro fez uma época positiva, tendo sido o melhor marcador da equipa, com
15 golos em 38 jogos. Ficaram na memória dos adeptos leoninos
os dois golos ao Beitar Jerusalém que foram decisivos para o apuramento para a
fase de grupos da Liga
dos Campeões e o hat trick que apontou numa goleada sobre o Belenenses
no Restelo após um problema disciplinar que o afastou da equipa. Os casos de indisciplina intensificaram-se
sobretudo após a saída de Octávio,
que era quem mais o apertava. “Ele pegava muito no meu pé, mas era a pessoa que
mais me ajudava. Gostava muito dele. Era um paizão, dava-me muitos conselhos.
Sei que ele tinha fama de durão, mas é bom para os jogadores. Foi o treinador
que tive que mais pedia profissionalismo aos jogadores”, afirmou, em
declarações ao Maisfutebol,
em dezembro de 2015. Os problemas disciplinares
levaram inclusivamente um programa de televisão a patrocinar um pedido de desculpas
do brasileiro ao então treinador Carlos Manuel. “Lembro-me bem. Bem…o que os
meus companheiros zoaram de mim. Fiquei meio sem jeito, apresentaram-me a
ideia, eu nem sabia bem como ia ser aquilo. Em cima da hora pegaram num bolo,
colocaram na minha mão para eu entregar. Eu não sabia de nada, não sabia o que
dizer. Acho que era o aniversário dele. Foi muito estranho, foi uma surpresa,
fiquei sem jeito”, recordou Leandro, que protagonizou uma famosa aventura
noturna em Albufeira com Bruno Giménez.
Quem não teve paciência para
indisciplina foi o treinador escolhido para comandar o Sporting
em 1998-99, o croata Mirko Jozic, que o dispensou ainda no final de 1998 depois
de três golos – um deles um fantástico pontapé de bicicleta ao Estrela
da Amadora – em dez jogos na fase inicial da época. Sem espaço no plantel
leonino, Leandro foi emprestado ao Tenerife e depois ao Flamengo,
onde reencontrou Romário. “Saí porque tive problemas com
ele [Jozic]. Gostava que ele tivesse sido sincero comigo. Se não contava
comigo, se não me queria, deveria ter dito. Não gostei como fez as coisas. Fui
percebendo que não me queria pela forma como ia conduzindo as coisas. Havia
aquele adjunto grandão, que foi guarda-redes…Ivkovic! Isso! Ele provocava-me
muito. Estava sempre a provocar-me. Culpava-me de todos os maus resultados.
Estava sempre a picar-me e eu era explosivo, as coisas não eram fáceis”,
lembrou Leandro, que jogou pela última vez pelo Sporting
num jogo frente ao Vitória
de Guimarães, no Minho: “Estávamos a ganhar 1-0, sofremos o empate pouco
depois de eu entrar e levei com as culpas. Discuti no balneário e tudo. No dia
seguinte treinei à parte e nunca mais joguei no Sporting.” Ainda assim, faz mea culpa:
“Fui muito novo para a Europa, sem família e infelizmente as coisas em Portugal
não correram muito bem. Aconteceu muita coisa. Gostava de me ter focado mais
fora do campo. Em Portugal vivi uma fase difícil. Se fosse mais profissional
teria atingido outro nível”.
O emblema
carioca acabou por comprar o passe ao Sporting,
mas o jogador voltou a ter problemas disciplinares no Rio de Janeiro. Depois passou
novamente ao Internacional
e regressou ao futebol europeu para vestir a camisola do Dínamo Kiev, que o
viria a emprestar ao Santa
Clara na segunda metade da temporada 2002-03, porém, uma lesão fez com que só
disputasse os últimos três jogos da época pelos açorianos,
que não evitaram a despromoção à II
Liga. Até ao final da carreira
experimentou ainda os campeonatos de países como México, Paraguai e Coreia do
Sul.
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