Moreira destronou Enke no Benfica mas ficou aquém do esperado. Quem se lembra dele?
Moreira esteve no Benfica entre 1999 e 2011
Moreira está seguramente entre os
dez melhores guarda-redes portugueses no século XXI. Mas quem o viu destronar
Robert Enke para se tornar no titular da baliza do Benfica aos
19 anos, manter essa titularidade ao longo de mais de dois anos e meio, estar
associado ao crescimento dos encarnados
sob o comando de Jose Antonio Camacho e ser convocado (com toda a legitimidade)
para o Euro 2004 certamente imaginava que as águias
e a seleção
nacional teriam ali o dono da baliza para muitos e bons anos. O que não
aconteceu.
Natural da freguesia portuense de
Massarelos, filho de um talhante e de uma doméstica, cresceu em Baguim do
Monte, concelho de Gondomar, foi às captações do Salgueiros
quando tinha dez anos e ficou. Embora se tivesse comprometido
com o Benfica
quando tinha 15 anos, só foi para Lisboa aos 17, no verão de 1999, logo após se
sagrar campeão europeu de sub-18, tendo inclusivamente viajado diretamente da
Suécia, onde decorreu o Campeonato da Europa, para a Alemanha, onde Fernando Chalana
o foi buscar para o estágio de pré-época na Áustria. “O Benfica
surge na sequência de eu começar a ir à seleção. O olheiro já me tinha
sinalizado. Mas nessa altura houve propostas do FC
Porto, Boavista,
Sporting
e do Benfica.
Ou se calhar o próprio Salgueiros
tentou negociar com todos. A proposta mais vantajosa para eles e se calhar
também para mim era a do Benfica.
Porque eu não iria mudar, aos 15 anos, para Lisboa. Eles davam a hipótese de eu
ir só no início da próxima época ou dois anos a seguir, quando tivesse 17 anos.
Como deram isso a escolher, optei pelo Benfica.
Porque antes sabia que não ia estar preparado”, recordou à Tribuna
Expresso em abril de 2018. Inicialmente estava previsto que trabalhasse
sobretudo na equipa B, mas um problema com o passaporte de Bossio e uma lesão
de Nuno
Santos levou-o a ser ele o suplente de Enke até dezembro. Também era
suposto que continuasse os estudos, mas a fama que já tinha tornou esse
objetivo impossível de concretizar. “Inscrevi-me para completar o 11º ano, na Secundária de
Carnide. Mas desisti porque ia para a escola tentar ser miúdo e era só: ‘E o
balneário? E o João Pinto? E o Nuno Gomes?’. Faziam-me sempre perguntas sobre
futebol. Parei com a escola. Conclusão: saía de manhã para treinar, à tarde,
como já tinha aberto o Centro Comercial Colombo, ia para lá, almoçava, ia ao
cinema, estava lá um bocado, depois ia para casa e dormia, descansava”, contou.
Fã de Vítor Baía e Michel
Preud'Homme e desenvolvido por Bento e por Zé Gato na equipa B, teve de esperar
até novembro de 2001 para finalmente se estrear oficialmente pela equipa
principal das águias,
pela mão de Toni.
“Foi num Benfica-Vitória
de Guimarães. O Enke tinha andado a treinar lesionado de um ombro. E aos 25
minutos cai, queixa-se do ombro e pede a substituição. Nem tive tempo de
pensar, foi tirar a roupa e ir lá para dentro, empatámos 0-0”, lembrou. Já na reta final dessa temporada
de 2001-02, e tendo em conta que Enke não aceitou renovar contrato, Jesualdo
Ferreira, que havia sucedido a Toni,
apostou em Moreira como titular. “A aposta do Benfica
teoricamente seria em mim. O primeiro
jogo como titular foi contra o Gil Vicente em Barcelos”, narrou, sobre uma partida
realizada a 9 de março de 2002, quando estava à beira do 20.º aniversário. “As coisas começaram a correr
bem, mas infelizmente ao clube não, porque foi uma altura atribulada. Assinei
com o Damásio, fui para o Benfica
com o Vale
e Azevedo, entrou o Manuel Vilarinho, e até o Luís
Filipe Vieira assumir a presidência e construir o que construiu até agora,
foram anos complicados”, prosseguiu. Moreira haveria de manter a
titularidade até dezembro de 2004, não resistindo a uma goleada sofrida no
Restelo (4-1) depois de duas épocas seguidas como dono da baliza encarnada,
tendo contribuído para dois segundos lugares e para a conquista da Taça
de Portugal em 2003-04. Ainda sentou Quim no banco durante quase meia
época, mas Trapattoni
decidiu inverter os papéis. “Foi uma situação em que infelizmente nós perdemos
4-1, inclusive fui o melhor em campo, e no jogo a seguir ele veio ter comigo ao
quarto e disse-me: ‘Não vais jogar o próximo jogo porque por questões
psicológicas a equipa precisa de algo e vais ser tu o sacrificado’. Saliento
que ao menos foi honesto comigo”, lembrou, sobre uma troca que ocorreu numa
temporada marcada pela conquista do título nacional.
Na época seguinte, com Ronald
Koeman, começou como titular, mas uma grave lesão em outubro e a contratação de
Moretto em janeiro fizeram-no perder o lugar. Curiosamente, mesmo durante os
períodos em que foi titular com Trapattoni
e Koeman, Quim era chamado à seleção e Moreira não. Desde essa lesão até 2011, quando
saiu do Benfica,
só conseguiu manter a titularidade durante um período considerável em 2008-09, quando
o timoneiro das águias
era Quique Flores. Em 2009-10, com Jorge
Jesus, não chegou a jogar no campeonato, o que o impediu de ser considerado
campeão nacional, mas no início dessa temporada conseguiu estrear-se pela
seleção, num jogo frente ao Liechtenstein em agosto de 2009, curiosamente numa
altura em que era suplente de Quim.
Seguiu-se um ano nos galeses do
Swansea, que na altura estavam na Premier
League, mas só jogou (uma vez) na Taça da Liga inglesa.
Depois rumou a Chipre, onde
defendeu a baliza do Omonia durante três épocas.
Em 2015-16 regressou a Portugal
pela porta do Olhanense,
então na II
Liga, mas os bons desempenhos fizeram com que reentrasse na I
Liga aos 34 anos, pela porta do Estoril. Depois de dois anos na Amoreira,
foi para o Cova
da Piedade encerrar a carreira em 2018-19.
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