quarta-feira, 20 de março de 2024

Moreira destronou Enke no Benfica mas ficou aquém do esperado. Quem se lembra dele?

Moreira esteve no Benfica entre 1999 e 2011
Moreira está seguramente entre os dez melhores guarda-redes portugueses no século XXI. Mas quem o viu destronar Robert Enke para se tornar no titular da baliza do Benfica aos 19 anos, manter essa titularidade ao longo de mais de dois anos e meio, estar associado ao crescimento dos encarnados sob o comando de Jose Antonio Camacho e ser convocado (com toda a legitimidade) para o Euro 2004 certamente imaginava que as águias e a seleção nacional teriam ali o dono da baliza para muitos e bons anos. O que não aconteceu.
 
Natural da freguesia portuense de Massarelos, filho de um talhante e de uma doméstica, cresceu em Baguim do Monte, concelho de Gondomar, foi às captações do Salgueiros quando tinha dez anos e ficou.
 
Embora se tivesse comprometido com o Benfica quando tinha 15 anos, só foi para Lisboa aos 17, no verão de 1999, logo após se sagrar campeão europeu de sub-18, tendo inclusivamente viajado diretamente da Suécia, onde decorreu o Campeonato da Europa, para a Alemanha, onde Fernando Chalana o foi buscar para o estágio de pré-época na Áustria. “O Benfica surge na sequência de eu começar a ir à seleção. O olheiro já me tinha sinalizado. Mas nessa altura houve propostas do FC Porto, Boavista, Sporting e do Benfica. Ou se calhar o próprio Salgueiros tentou negociar com todos. A proposta mais vantajosa para eles e se calhar também para mim era a do Benfica. Porque eu não iria mudar, aos 15 anos, para Lisboa. Eles davam a hipótese de eu ir só no início da próxima época ou dois anos a seguir, quando tivesse 17 anos. Como deram isso a escolher, optei pelo Benfica. Porque antes sabia que não ia estar preparado”, recordou à Tribuna Expresso em abril de 2018.
 
Inicialmente estava previsto que trabalhasse sobretudo na equipa B, mas um problema com o passaporte de Bossio e uma lesão de Nuno Santos levou-o a ser ele o suplente de Enke até dezembro. Também era suposto que continuasse os estudos, mas a fama que já tinha tornou esse objetivo impossível de concretizar. “Inscrevi-me para completar o 11º ano, na Secundária de Carnide. Mas desisti porque ia para a escola tentar ser miúdo e era só: ‘E o balneário? E o João Pinto? E o Nuno Gomes?’. Faziam-me sempre perguntas sobre futebol. Parei com a escola. Conclusão: saía de manhã para treinar, à tarde, como já tinha aberto o Centro Comercial Colombo, ia para lá, almoçava, ia ao cinema, estava lá um bocado, depois ia para casa e dormia, descansava”, contou.
 
 
Fã de Vítor Baía e Michel Preud'Homme e desenvolvido por Bento e por Zé Gato na equipa B, teve de esperar até novembro de 2001 para finalmente se estrear oficialmente pela equipa principal das águias, pela mão de Toni. “Foi num Benfica-Vitória de Guimarães. O Enke tinha andado a treinar lesionado de um ombro. E aos 25 minutos cai, queixa-se do ombro e pede a substituição. Nem tive tempo de pensar, foi tirar a roupa e ir lá para dentro, empatámos 0-0”, lembrou.
 
Já na reta final dessa temporada de 2001-02, e tendo em conta que Enke não aceitou renovar contrato, Jesualdo Ferreira, que havia sucedido a Toni, apostou em Moreira como titular. “A aposta do Benfica teoricamente seria em mim. O primeiro jogo como titular foi contra o Gil Vicente em Barcelos”, narrou, sobre uma partida realizada a 9 de março de 2002, quando estava à beira do 20.º aniversário.
 
“As coisas começaram a correr bem, mas infelizmente ao clube não, porque foi uma altura atribulada. Assinei com o Damásio, fui para o Benfica com o Vale e Azevedo, entrou o Manuel Vilarinho, e até o Luís Filipe Vieira assumir a presidência e construir o que construiu até agora, foram anos complicados”, prosseguiu.
 
Moreira haveria de manter a titularidade até dezembro de 2004, não resistindo a uma goleada sofrida no Restelo (4-1) depois de duas épocas seguidas como dono da baliza encarnada, tendo contribuído para dois segundos lugares e para a conquista da Taça de Portugal em 2003-04. Ainda sentou Quim no banco durante quase meia época, mas Trapattoni decidiu inverter os papéis. “Foi uma situação em que infelizmente nós perdemos 4-1, inclusive fui o melhor em campo, e no jogo a seguir ele veio ter comigo ao quarto e disse-me: ‘Não vais jogar o próximo jogo porque por questões psicológicas a equipa precisa de algo e vais ser tu o sacrificado’. Saliento que ao menos foi honesto comigo”, lembrou, sobre uma troca que ocorreu numa temporada marcada pela conquista do título nacional.
 
 
Na época seguinte, com Ronald Koeman, começou como titular, mas uma grave lesão em outubro e a contratação de Moretto em janeiro fizeram-no perder o lugar. Curiosamente, mesmo durante os períodos em que foi titular com Trapattoni e Koeman, Quim era chamado à seleção e Moreira não.
 
Desde essa lesão até 2011, quando saiu do Benfica, só conseguiu manter a titularidade durante um período considerável em 2008-09, quando o timoneiro das águias era Quique Flores. Em 2009-10, com Jorge Jesus, não chegou a jogar no campeonato, o que o impediu de ser considerado campeão nacional, mas no início dessa temporada conseguiu estrear-se pela seleção, num jogo frente ao Liechtenstein em agosto de 2009, curiosamente numa altura em que era suplente de Quim.  
 
 
Seguiu-se um ano nos galeses do Swansea, que na altura estavam na Premier League, mas só jogou (uma vez) na Taça da Liga inglesa.
 
 
Depois rumou a Chipre, onde defendeu a baliza do Omonia durante três épocas.
 
 
Em 2015-16 regressou a Portugal pela porta do Olhanense, então na II Liga, mas os bons desempenhos fizeram com que reentrasse na I Liga aos 34 anos, pela porta do Estoril.
 
Depois de dois anos na Amoreira, foi para o Cova da Piedade encerrar a carreira em 2018-19.








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