terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Um herói no Jamor recrutado na III Divisão. Quem se lembra de Paulo Bento no Estrela da Amadora?

Paulo Bento amealhou 53 jogos pelo Estrela da Amadora entre 1989 e 1991
Paulo Bento era um jovem de 20 anos que levava duas épocas no futebol sénior, a primeira no Palmense e a segunda no Futebol Benfica, ambas na antiga III Divisão Nacional, quando foi convidado a treinar à experiência no Estrela da Amadora, então no primeiro escalão, a convite do treinador-adjunto Matine, que o viu jogar no Fofó.
 
“Só faltam as luvas pretas para ser igual a ti”, disse Matine ao treinador dos tricolores naquela altura, João Alves. No segundo treino do médio na Reboleira, Alves mandou-o para o balneário ao fim de 15 minutos. Paulo Bento pensou que estava dispensado, mas, afinal, o técnico havia-o tirado do treino com medo de o perder, uma vez que o apronto era à porta aberta, com muitos olheiros atentos.
 
O jovem centrocampista, que se havia apresentado com umas botas da New Balance, assinou um contrato profissional por três temporadas, a ganhar 50 contos, valor que dobraria caso fizesse mais de três jogos. Escusado será dizer que os fez.
 
Antes da afirmação pelos amadorenses, porém, Paulo Bento começou “por fazer os jogos particulares com a equipa principal” e “jogou pelas reservas durante quatro ou cinco meses”, pode ler-se no livro Paulo Bento: Um Retrato, escrito por Jorge Reis-Sá e publicado em 2012.
 
A estreia no campeonato só aconteceu à 16.ª jornada, a 14 de janeiro de 1990, no Estádio da Luz, diante do Benfica. O Estrela perdeu por 2-0, mas o jovem centrocampista recebeu nota 4 (de 0 a 5) do Record e foi elogiado: “Taticamente perfeito. Sabe o que tem a fazer. Preocupa-se com o coletivo. Uma revelação, sem dúvida.”
 
Essa primeira época foi de sonho. O mesmo Paulo Bento que começou a temporada a jogar nas reservas tornou-se fundamental para o treinador. “Se eu entendo de futebol, o Paulo Bento não é uma esperança, é um jogador fantástico”, afirmou após um jogo diante do Sp. Braga, a contar para os 16 avos de final da Taça de Portugal.
 
O rapaz que fez toda a formação no Académico de Alvalade foi a tempo de atuar em 20 partidas nessa temporada de 1989-90, tendo marcado um golo, o que abriu o ativo na vitória sobre o Farense na finalíssima da Taça de Portugal, a 3 de junho de 1990. “Ele era e é um indivíduo muito inteligente, muito esperto, muito atento às coisas, taticamente disciplinadíssimo. Nesse primeiro ano cumpriu e superou as minhas expetativas para um miúdo. Foi uma grande época do Estrela. Uma época de sonho”, recordou o “luvas pretas”.
 
 
“O Paulo estava a trabalhar como os outros, começou a evoluir, a melhorar alguns aspetos. Rematar à baliza não era o forte dele. O pé esquerdo era mais para subir para o elétrico. Logicamente que esses aspetos tiveram de ser corrigidos. A obrigação de um treinador é tornar os jogadores melhores em termos individuais e integrá-los no coletivo”, prosseguiu João Alves, que viu o seu centrocampista inaugurar o marcador no Jamor através de um remate de primeira à entrada da área, na sequência de um ressalto.
 
Os bons desempenhos conduziram aos rumores de mercado, falando-se de um suposto interesse do FC Porto, que na altura preparava a retirada de André. Mas Paulo Bento ficou no Estrela.
 
Sem João Alves, que havia rumado ao Boavista e tentado levar o centrocampista consigo (mas sem sucesso), Paulo Bento caiu de forma em 1990-91 devido ao serviço militar obrigatório que o levou a faltar a muitos dos treinos e enfrentou críticas por parte dos mesmos jornalistas que na época anterior lhe tinham tecido rasgados elogios. Ainda assim, atuou em 33 jogos às ordens de Manuel Fernandes e posteriormente Jesualdo Ferreira.
 
O Estrela da Amadora acabou despromovido, mas João Alves saiu do Boavista e foi para o Vitória de Guimarães e levou Bento com ele, acreditando poder recuperar a melhor versão do médio. 







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