Um herói no Jamor recrutado na III Divisão. Quem se lembra de Paulo Bento no Estrela da Amadora?
Paulo Bento amealhou 53 jogos pelo Estrela da Amadora entre 1989 e 1991
Paulo
Bento era um jovem de 20 anos que levava duas épocas no futebol sénior, a
primeira no Palmense e a segunda no Futebol
Benfica, ambas na antiga III Divisão Nacional, quando foi convidado a
treinar à experiência no Estrela
da Amadora, então no primeiro
escalão, a convite do treinador-adjunto Matine, que o viu jogar no Fofó.
“Só faltam as luvas pretas para
ser igual a ti”, disse Matine ao treinador dos tricolores
naquela altura, João Alves. No segundo treino do médio na Reboleira, Alves
mandou-o para o balneário ao fim de 15 minutos. Paulo
Bento pensou que estava dispensado, mas, afinal, o técnico havia-o tirado
do treino com medo de o perder, uma vez que o apronto era à porta aberta, com
muitos olheiros atentos. O jovem centrocampista, que se
havia apresentado com umas botas da New Balance, assinou um contrato
profissional por três temporadas, a ganhar 50 contos, valor que dobraria caso
fizesse mais de três jogos. Escusado será dizer que os fez. Antes da afirmação pelos amadorenses,
porém, Paulo
Bento começou “por fazer os jogos particulares com a equipa principal” e “jogou
pelas reservas durante quatro ou cinco meses”, pode ler-se no livro Paulo
Bento: Um Retrato, escrito por Jorge Reis-Sá e publicado em 2012. A estreia no campeonato só
aconteceu à 16.ª jornada, a 14 de janeiro de 1990, no Estádio
da Luz, diante do Benfica.
O Estrela
perdeu por 2-0, mas o jovem centrocampista recebeu nota 4 (de 0 a 5) do Record
e foi elogiado: “Taticamente perfeito. Sabe o que tem a fazer. Preocupa-se com
o coletivo. Uma revelação, sem dúvida.” Essa primeira época foi de sonho.
O mesmo Paulo Bento
que começou a temporada a jogar nas reservas tornou-se fundamental para o
treinador. “Se eu entendo de futebol, o Paulo
Bento não é uma esperança, é um jogador fantástico”, afirmou após um jogo diante
do Sp.
Braga, a contar para os 16 avos de final da Taça
de Portugal. O rapaz que fez toda a formação
no Académico de Alvalade foi a tempo de atuar em 20 partidas nessa temporada de
1989-90, tendo marcado um golo, o que abriu o ativo na vitória sobre o Farense
na finalíssima da Taça
de Portugal, a 3 de junho de 1990. “Ele era e é um indivíduo muito
inteligente, muito esperto, muito atento às coisas, taticamente
disciplinadíssimo. Nesse primeiro ano cumpriu e superou as minhas expetativas
para um miúdo. Foi uma grande época do Estrela.
Uma época de sonho”, recordou o “luvas pretas”.
“O Paulo
estava a trabalhar como os outros, começou a evoluir, a melhorar alguns
aspetos. Rematar à baliza não era o forte dele. O pé esquerdo era mais para subir
para o elétrico. Logicamente que esses aspetos tiveram de ser corrigidos. A
obrigação de um treinador é tornar os jogadores melhores em termos individuais
e integrá-los no coletivo”, prosseguiu João Alves, que viu o seu centrocampista
inaugurar o marcador no Jamor através de um remate de primeira à entrada da
área, na sequência de um ressalto. Os bons desempenhos conduziram
aos rumores de mercado, falando-se de um suposto interesse do FC
Porto, que na altura preparava a retirada de André. Mas Paulo
Bento ficou no Estrela. Sem João Alves, que havia rumado
ao Boavista
e tentado levar o centrocampista consigo (mas sem sucesso), Paulo
Bento caiu de forma em 1990-91 devido ao serviço militar obrigatório que o
levou a faltar a muitos dos treinos e enfrentou críticas por parte dos mesmos
jornalistas que na época anterior lhe tinham tecido rasgados elogios. Ainda
assim, atuou em 33 jogos às ordens de Manuel
Fernandes e posteriormente Jesualdo Ferreira. O Estrela
da Amadora acabou despromovido, mas João Alves saiu do Boavista
e foi para o Vitória
de Guimarães e levou Bento
com ele, acreditando poder recuperar a melhor versão do médio.
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