“Apartheid? Não conheço, mas se é perigoso vou fazer marcação em cima”. As melhores pérolas de Amaral
Amaral disputou 29 jogos pelo Benfica entre 1996 e 1998
Amaral era o típico jogador
brasileiro proveniente de raízes humildes, com poucos estudos, que não era
conhecido pelo nome de batismo (Alexandre da Silva Mariano) e que construiu uma
carreira de muito bom nível. Aos 14 anos já trabalhava numa funerária na sua
cidade natal, Capivari, no estado de São Paulo, mas manteve sempre vivo o sonho
de ser futebolista.
Depois de despontar no Palmeiras
e de ter chegado à seleção
brasileira, foi contratado pelo Parma,
que por sua vez o emprestou ao Benfica
no final de 1996. Esse empréstimo de cerca de meio ano correu tão bem que os
adeptos encarnados
promoveram a “Operação Fica Amaral”, uma conta que convidava os benfiquistas
a depositar dinheiro para a compra do passe do jogador. No entanto, a quantia
angariada não chegou e o médio teve de voltar ao Palmeiras.
Haveria de voltar à Luz
entre dezembro de 1997 e maio do ano seguinte, mas sem o mesmo brilho do que na
passagem anterior, na qual havia exibido uma contagiante entrega ao jogo e uma
simplicidade admirável. Amaral “Coveiro”, alcunha que erradamente
ganhou – “fazia maquilhagem, colocava no caixão, arrumava, mas cova nunca fiz
não”, explicou ao Canal 11 –, tem no currículo 12 internacionalizações pela
seleção
principal do Brasil e passagens por clubes como Corinthians,
Vasco
da Gama, Fiorentina,
Besiktas,
Grêmio
e Atlético
Mineiro, e sempre demonstrou uma capacidade rara de rir dele próprio.
Quando vivia em Lisboa, passou à
frente de alguém numa fila de supermercado e ouviu um “ei, vai para a bicha”. “Está
me estranhando? Eu não te conheço de lado nenhum não”, respondeu, desconhecendo
na altura os vários significados da palavra “bicha” em Portugal.
Da mesma forma, riu-se a meio de
uma conversa entre Edmundo e Vanderlei Luxemburgo que envolvia outdoors,
quando os três estavam no Palmeiras,
o que levou o treinador a perguntar-lhe se Amaral sabia o que era um outdoor. “Estão
de brincadeira comigo? Claro que sei o que é um outdoor. É um cachorro
quente”, respondeu.
Noutra ocasião, após uma vitória
em Recife, sugeriu aos companheiros de equipa festejar ao Forró do Gerson, uma
suposta discoteca que tinha visto ao passar no autocarro, com muitas luzes e carros
à porta, na ponta da Praia da Boa Viagem. Chamaram quatro táxis, mas os
taxistas foram avisando que nunca tinham ouvido falar de tal coisa. À chegada
ao local, depararam-se com o letreiro: “Ferro e Gesso, materiais de construção.”
A melhor de todas as tiradas surgiu
antes de um jogo particular que disputou pelo Brasil
na África do Sul frente à seleção
da casa em abril de 1996. À chegada a Joanesburgo, os jornalistas quiseram
conhecer a opinião de Amaral, negro e jovem, sobre o Apartheid. “Apartheid?
Não conheço, mas se é perigoso vou fazer marcação individual em cima.”
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