Bracarense Wender procura fugir à marcação de Malagò |
Estávamos a meio de 2006 e já se
podia dizer que o Sp.
Braga tinha sucedido ao Boavista
como quarta potência do futebol português. Os bracarenses
tinham conseguido três apuramentos consecutivos para a Taça
UEFA, fruto de um quinto lugar na I
Liga em 2003-04 e de dois quartos lugares nas épocas seguintes, mas não
estavam a conseguir demonstrar na Europa a mesma força que patenteavam no campeonato
português.
Nas duas temporadas anteriores, os
minhotos
foram eliminados na primeira ronda da prova uefeira pelos escoceses do Hearts e
pelos sérvios do Estrela Vermelha de Belgrado, dois adversários que até
pareciam estar ao alcance.
Em 2006-07, o sorteio colocou
pelo caminho dos arsenalistas
os italianos do Chievo, que na época anterior tinham concluído a Série
A em quarto lugar, a quatro pontos do AC
Milan e à frente de clubes como Parma,
Fiorentina, Udinese, Sampdoria ou Lazio. Ou seja, os transalpinos pareciam ser
um osso até mais duro de roer do que os anteriores adversários europeus, embora
não tivesse propriamente um plantel modesto. O médio Franco Semioli, que na
altura estava a ser convocado à squadra
azzurra, assim como o médio internacional polaco Kamil Kosowski, eram as
principais figuras da equipa.
Já o Sp.
Braga apresentava um plantel composto por jogadores pescados em grande
parte no mercado nacional, uns excedentários dos grandes e outros que se vinham
a destacar em equipas de menor dimensão. No fundo, tem sido quase sempre assim
desde que António Salvador assumiu os destinos do clube em 2003. O treinador,
esse, era… Carlos Carvalhal.
Apesar de o adversário competir
numa das principais ligas europeias, o Sp.
Braga recebeu e bateu o Chievo na primeira-mão por 2-0. O central e capitão
Paulo Jorge inaugurou o marcador logo aos cinco minutos, desviando à entrada da
área uma bola cruzada a partir da direita por Hugo Leal na execução de um livre
direto. Ao cair do pano (90+2’), Wender fechou o resultado na conversão
clássica de uma grande penalidade: bola para um lado, guarda-redes para o
outro.
“Um Sp.
Braga que chegou a não ganhar para o susto bateu com toda a justiça um
Chievo Verona que chegou a parecer não estar em crise tão profunda como se
anunciou. Aconteceu um pouco de tudo à formação de Carlos Carvalhal, de resto.
Desde logo pela forma como entrou no jogo. A ganhar. Ainda não se completara o
quinto minuto quando Paulo Jorge à boca da baliza empurrou para golo um
cruzamento de Hugo Leal. Ora um golo a abrir o jogo e logo assim tão cedo deu
uma ideia clara de superioridade. Normal, aliás. O Chievo Verona só trazia más
referências (tinha sido eliminado da pré-eliminatória da Liga
dos Campeões pelo Levski Sofia, perdera na estreia da liga
italiana em casa com o Siena e era alvo de uma profunda reformulação para
este jogo com a entrada de nove jogadores novos) e ainda sofria um golo muito displicentemente.
O problema é que essa ideia de superioridade era falsa”, pode ler-se na crónica
do Maisfutebol
sobre a etapa inicial. “Em toda a segunda parte, os italianos só por uma vez
criaram perigo, quando [Salvatore] Bruno obrigou [Andrés] Madrid a tirar a bola
em cima da linha de baliza. A segunda parte foi toda bracarense”,
escreveu o portal desportivo acerca dos derradeiros 45 minutos.
Em Verona, porém, os fantasmas europeus
das épocas anteriores pareciam voltar a assombrar o Sp.
Braga, uma vez que o Chievo abriu o ativo aos 38 minutos, pela cabeça de Tiribocchi,
após cruzamento de Kosowski; e empatou a eliminatória aos 68’ por intermédio de
Godeas, na recarga a um remate de Marcolini que Paulo Santos defendeu. No
entanto, Wender recolocou os bracarenses
em vantagem no agregado dos dois jogos à beira do intervalo do prolongamento,
após passe longo de Carlos Fernandes para a área italiana.
“O Sp.
Braga garantiu a presença na fase de grupos da Taça
UEFA. Mas não ganhou para o susto. Depois de um pouco mais de meia hora em
que manteve o controlo do embate, o golo dos italianos, na primeira vez que
chegaram à baliza de Paulo Santos, causou alguma intranquilidade nas hostes arsenalistas.
E acordou os adeptos locais, que até essa altura pouco se tinham manifestado.
Afinal, o Chievo podia conseguir, como conseguiu, a sua primeira vitória nas
provas da UEFA. Daí as palmas com que, apesar de eliminados, foram brindados no
final da partida; e convém recordar que o triunfo quebrou um jejum de 11 jogos
sem vencer”, resumiu o jornal O Jogo.
Entretanto o Sp.
Braga superou um grupo que também incluía AZ
Alkmaar, Slovan Liberec, Sevilha e Grasshoppers e voltou a defrontar uma equipa
italiana nos 16 avos de final, o Parma,
então orientado por Claudio Ranieri e com um plantel onde pontificavam nomes
como o guarda-redes italiano Luca Bucci, o central português Fernando Couto,
defesa senegalês Ferdinand Coly, o médio colombiano Jorge Bolaño, o médio
australiano Vince Grella, o atacante bielorrusso (ex-Sporting)
Vitali Kutuzov, o avançado italiano Giuseppe Rossi e o avançado bósnio Zlatan
Muslimović.
Apesar da reputação do
adversário, vencedor da Taça das Taças e da Supertaça Europeia em 1993 e da Taça
UEFA em 1994-95 e 1998-99, o Sp.
Braga superiorizou-se, vencendo na Pedreira e no Ennio Tardini, em ambas as
ocasiões por 1-0.
A jogar em casa, com Rogério
Gonçalves no comando técnico, o avançado brasileiro Zé Carlos marcou o único
golo do encontro aos 81 minutos. “Uma jogada genial de Zé Carlos encheu de
esperança o Sp.
Braga. O brasileiro recebeu um ressalto no peito, deu um toque para desviar
a bola do adversário, ganhou em velocidade e rematou a contar para o fundo da
baliza. O relógio dizia que faltavam dez minutos para o fim do jogo e aquela
era a melhor coisinha que a equipa podia pedir. Mais do que um golo, o remate
de Zé Carlos significa uma vitória que coloca o Sp.
Braga em vantagem na eliminatória. Mais do que uma vitória, o remate de Zé
Carlos significa uma inversão na tendência de olhar o futebol que abre boas perspetivas
aos bracarenses.
Pelo menos obriga o Parma
a arriscar na segunda-mão, a abrir o jogo. Ora encarando o futebol da mesma
maneira, as perspetivas do Sp.
Braga melhoram consideravelmente. Até porque já deu para perceber como este
Parma
(que esta noite não contou com Fernando Couto) é pouco mais do que uma típica
equipa italiana. Fecha-se muito, defende bem, é muito personalizada, tem grande
espírito competitivo, sabe sair rápida para o ataque, mas pouco mais.
Basicamente não é uma equipa talentosa. Sobretudo quando o resultado a obriga a
construir melhor do que adversário, mais do que saber aproveitar melhor a
fragilidade do adversário. Em Itália, vai ter de pegar no futebol. Vai ter de
procurar a sorte cabendo ao Sp.
Braga a atitude expectante que hoje o Parma
teve”, narrou o Maisfutebol.
Uma semana depois, em Itália e já
com Jorge Costa como treinador, o Sp.
Braga venceu com um golo de Diego
Costa – sim, ele mesmo, o
antigo avançado de Atlético Madrid e Chelsea – ao cair do pano (89’). “Jorge
Costa teve uma estreia feliz no comando técnico do Sp.
Braga. O novo treinador da formação arsenalista
montou uma estratégia ousada, sabendo que seria perigoso procurar segurar a
magra vantagem conquistada na primeira mão, mas a inépcia do Parma
acabou por redundar num apuramento seguro, mas ainda assim sofrido. Sem
deslumbrar, o Sp.
Braga repetiu um feito histórico com a capacidade de sofrimento dos grandes,
garantindo mais alguns pontos para Portugal com o golo tardio de Diego
Costa”, podia ler-se no Maisfutebol.
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