quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

A minha primeira memória de… um jogo entre Sp. Braga e equipas italianas

Bracarense Wender procura fugir à marcação de Malagò
Estávamos a meio de 2006 e já se podia dizer que o Sp. Braga tinha sucedido ao Boavista como quarta potência do futebol português. Os bracarenses tinham conseguido três apuramentos consecutivos para a Taça UEFA, fruto de um quinto lugar na I Liga em 2003-04 e de dois quartos lugares nas épocas seguintes, mas não estavam a conseguir demonstrar na Europa a mesma força que patenteavam no campeonato português.
 
Nas duas temporadas anteriores, os minhotos foram eliminados na primeira ronda da prova uefeira pelos escoceses do Hearts e pelos sérvios do Estrela Vermelha de Belgrado, dois adversários que até pareciam estar ao alcance.
 
Em 2006-07, o sorteio colocou pelo caminho dos arsenalistas os italianos do Chievo, que na época anterior tinham concluído a Série A em quarto lugar, a quatro pontos do AC Milan e à frente de clubes como Parma, Fiorentina, Udinese, Sampdoria ou Lazio. Ou seja, os transalpinos pareciam ser um osso até mais duro de roer do que os anteriores adversários europeus, embora não tivesse propriamente um plantel modesto. O médio Franco Semioli, que na altura estava a ser convocado à squadra azzurra, assim como o médio internacional polaco Kamil Kosowski, eram as principais figuras da equipa.
 
Já o Sp. Braga apresentava um plantel composto por jogadores pescados em grande parte no mercado nacional, uns excedentários dos grandes e outros que se vinham a destacar em equipas de menor dimensão. No fundo, tem sido quase sempre assim desde que António Salvador assumiu os destinos do clube em 2003. O treinador, esse, era… Carlos Carvalhal.
 
Apesar de o adversário competir numa das principais ligas europeias, o Sp. Braga recebeu e bateu o Chievo na primeira-mão por 2-0. O central e capitão Paulo Jorge inaugurou o marcador logo aos cinco minutos, desviando à entrada da área uma bola cruzada a partir da direita por Hugo Leal na execução de um livre direto. Ao cair do pano (90+2’), Wender fechou o resultado na conversão clássica de uma grande penalidade: bola para um lado, guarda-redes para o outro.
 
“Um Sp. Braga que chegou a não ganhar para o susto bateu com toda a justiça um Chievo Verona que chegou a parecer não estar em crise tão profunda como se anunciou. Aconteceu um pouco de tudo à formação de Carlos Carvalhal, de resto. Desde logo pela forma como entrou no jogo. A ganhar. Ainda não se completara o quinto minuto quando Paulo Jorge à boca da baliza empurrou para golo um cruzamento de Hugo Leal. Ora um golo a abrir o jogo e logo assim tão cedo deu uma ideia clara de superioridade. Normal, aliás. O Chievo Verona só trazia más referências (tinha sido eliminado da pré-eliminatória da Liga dos Campeões pelo Levski Sofia, perdera na estreia da liga italiana em casa com o Siena e era alvo de uma profunda reformulação para este jogo com a entrada de nove jogadores novos) e ainda sofria um golo muito displicentemente. O problema é que essa ideia de superioridade era falsa”, pode ler-se na crónica do Maisfutebol sobre a etapa inicial. “Em toda a segunda parte, os italianos só por uma vez criaram perigo, quando [Salvatore] Bruno obrigou [Andrés] Madrid a tirar a bola em cima da linha de baliza. A segunda parte foi toda bracarense”, escreveu o portal desportivo acerca dos derradeiros 45 minutos.
 
 
Em Verona, porém, os fantasmas europeus das épocas anteriores pareciam voltar a assombrar o Sp. Braga, uma vez que o Chievo abriu o ativo aos 38 minutos, pela cabeça de Tiribocchi, após cruzamento de Kosowski; e empatou a eliminatória aos 68’ por intermédio de Godeas, na recarga a um remate de Marcolini que Paulo Santos defendeu. No entanto, Wender recolocou os bracarenses em vantagem no agregado dos dois jogos à beira do intervalo do prolongamento, após passe longo de Carlos Fernandes para a área italiana.
 
“O Sp. Braga garantiu a presença na fase de grupos da Taça UEFA. Mas não ganhou para o susto. Depois de um pouco mais de meia hora em que manteve o controlo do embate, o golo dos italianos, na primeira vez que chegaram à baliza de Paulo Santos, causou alguma intranquilidade nas hostes arsenalistas. E acordou os adeptos locais, que até essa altura pouco se tinham manifestado. Afinal, o Chievo podia conseguir, como conseguiu, a sua primeira vitória nas provas da UEFA. Daí as palmas com que, apesar de eliminados, foram brindados no final da partida; e convém recordar que o triunfo quebrou um jejum de 11 jogos sem vencer”, resumiu o jornal O Jogo.
 
Entretanto o Sp. Braga superou um grupo que também incluía AZ Alkmaar, Slovan Liberec, Sevilha e Grasshoppers e voltou a defrontar uma equipa italiana nos 16 avos de final, o Parma, então orientado por Claudio Ranieri e com um plantel onde pontificavam nomes como o guarda-redes italiano Luca Bucci, o central português Fernando Couto, defesa senegalês Ferdinand Coly, o médio colombiano Jorge Bolaño, o médio australiano Vince Grella, o atacante bielorrusso (ex-Sporting) Vitali Kutuzov, o avançado italiano Giuseppe Rossi e o avançado bósnio Zlatan Muslimović.

Apesar da reputação do adversário, vencedor da Taça das Taças e da Supertaça Europeia em 1993 e da Taça UEFA em 1994-95 e 1998-99, o Sp. Braga superiorizou-se, vencendo na Pedreira e no Ennio Tardini, em ambas as ocasiões por 1-0.
 
A jogar em casa, com Rogério Gonçalves no comando técnico, o avançado brasileiro Zé Carlos marcou o único golo do encontro aos 81 minutos. “Uma jogada genial de Zé Carlos encheu de esperança o Sp. Braga. O brasileiro recebeu um ressalto no peito, deu um toque para desviar a bola do adversário, ganhou em velocidade e rematou a contar para o fundo da baliza. O relógio dizia que faltavam dez minutos para o fim do jogo e aquela era a melhor coisinha que a equipa podia pedir. Mais do que um golo, o remate de Zé Carlos significa uma vitória que coloca o Sp. Braga em vantagem na eliminatória. Mais do que uma vitória, o remate de Zé Carlos significa uma inversão na tendência de olhar o futebol que abre boas perspetivas aos bracarenses. Pelo menos obriga o Parma a arriscar na segunda-mão, a abrir o jogo. Ora encarando o futebol da mesma maneira, as perspetivas do Sp. Braga melhoram consideravelmente. Até porque já deu para perceber como este Parma (que esta noite não contou com Fernando Couto) é pouco mais do que uma típica equipa italiana. Fecha-se muito, defende bem, é muito personalizada, tem grande espírito competitivo, sabe sair rápida para o ataque, mas pouco mais. Basicamente não é uma equipa talentosa. Sobretudo quando o resultado a obriga a construir melhor do que adversário, mais do que saber aproveitar melhor a fragilidade do adversário. Em Itália, vai ter de pegar no futebol. Vai ter de procurar a sorte cabendo ao Sp. Braga a atitude expectante que hoje o Parma teve”, narrou o Maisfutebol.
 
Uma semana depois, em Itália e já com Jorge Costa como treinador, o Sp. Braga venceu com um golo de Diego Costa – sim, ele mesmo, o antigo avançado de Atlético Madrid e Chelsea – ao cair do pano (89’). “Jorge Costa teve uma estreia feliz no comando técnico do Sp. Braga. O novo treinador da formação arsenalista montou uma estratégia ousada, sabendo que seria perigoso procurar segurar a magra vantagem conquistada na primeira mão, mas a inépcia do Parma acabou por redundar num apuramento seguro, mas ainda assim sofrido. Sem deslumbrar, o Sp. Braga repetiu um feito histórico com a capacidade de sofrimento dos grandes, garantindo mais alguns pontos para Portugal com o golo tardio de Diego Costa”, podia ler-se no Maisfutebol.
 


  







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