Dava gosto ver Bruno
Tabata brilhar no Portimonense.
Não são muitos os futebolistas em clubes da I
Liga que não pertencem ao círculo dos chamados três grandes com talento e capacidade
para fazer a diferença, qualidade técnica acima da média, que valem milhões e
que entram nas contas das seleções jovens de países importantes no futebol
mundial, como a do Brasil
neste caso em particular.
Durante ano e meio, foi uma
espécie de espelho de Nakajima,
que fazia movimentos semelhantes a partir do corredor esquerdo. Enquanto
coincidiram em Portimão,
o japonês
que agora está no FC
Porto evidenciou-se mais, sobretudo pela definição das jogadas, tendo
somado muitos mais golos e assistências (e elogios!) do que o brasileiro.
E, refira-se, ainda assim o asiático
que amealhou 15 golos e 18 assistências no Algarve
tem sentido gritantes dificuldades para se impor no Dragão.
Por falar em golos, essa é a
principal lacuna de Tabata,
que no Sporting
será candidato à posição de avançado interior direito – ou extremo direito,
como queiram, mas para mim extremo é quem joga nas extremidades do campo – no
3x4x3 de Rúben
Amorim. Em três anos de Portimonense
na I
Liga, não foi além de um total seis golos, muito pouco para um potencial
ocupante de uma das três posições mais ofensivas – as mais próximas da baliza
adversária, portanto – num dos três grandes e que cuja transferência custou
cinco milhões de euros… por metade do passe. Melhor é o registo de
assistências: 19 no campeonato
português desde 2017-18 – 10 só na temporada passada.
Ainda assim, o internacional
olímpico pela seleção canarinha, 23 anos, assumiu protagonismo após a saída
do nipónico, ainda que o tempo que passou em Portimão
tivesse sido marcado por alguma inconstância exibicional, apesar do talento
reconhecido por todos – “só joga bem quando quer”, era uma das críticas
apontadas pelos adeptos alvinegros.
Benfica,
FC
Porto, Leipzig,
Estugarda, Palmeiras,
Flamengo, Villarreal e Shakhtar Donetsk foram alguns dos clubes aos quais o extremo
foi apontado antes de rumar a Alvalade.
A maldição do 7 em Alvalade
“Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”, diz um ditado
espanhol. Até mesmo quem não é supersticioso devia pensar duas vezes até
utilizar a camisola n.º 7 do Sporting.
Desde que Luís Figo deixou Alvalade
em 1995 que quem lhe tem sucedido no número da camisola tem sido vítima de uma
maldição que começa a ganhar contornos macabros.
O primeiro a herdar o 7 de Figo
foi Sá
Pinto. As coisas até não estavam a correr mal até ter agredido o
selecionador nacional Artur Jorge em março de 1997, o que lhe ditou um ano de suspensão.
Três anos depois voltou a Alvalade
e voltou a usar o mesmo número, mas após sucessivas lesões no joelho direito
acabou por trocar de camisola.
Quando Sá
Pinto saiu para a Real Sociedad, o avançado búlgaro Iordanov passou a usar o 7. Porém, logo nos primeiros meses com o
novo dorsal foi-lhe diagnosticada esclerose múltipla, doença que lhe aceleraria
o final de carreira.
O senhor que se seguiu foi
avançado brasileiro
Leandro, que, com o 18 às costas,
até assinou uma época positiva em 1997-98. Porém, com o 7 perdeu rendimento,
acumulou problemas disciplinares e saiu em rota de colisão com a direção.
Depois foi a vez de Delfim,
médio proveniente do Boavista
dotado de um pontapé-canhão. Embora tivesse conquistado o título nacional em
1999-00, a passagem do centrocampista pelo Sporting
ficou marcada por sucessivas lesões.
Quando Delfim
saiu para o Marselha em 2001, chegou a Alvalade
o ponta de lança romeno Marius Niculae,
que ficou com o n.º 7. Na primeira metade da época até esteve em evidência, ao
apontar dez golos e formar uma dupla temível com Mário Jardel, mas em dezembro
sofreu uma grave lesão e não voltou a ser o mesmo. Tanto que nos três anos
seguintes de leão
ao peito marcou tantos golos como os que havia apontado nos primeiros
meses, até ao início do calvário.
A maldição era de tal forma
evidente que o número 7 não foi utilizado entre 2004 e 2007. Depois chegou o
russo Marat Izmailov, um médio
ofensivo/extremo tecnicista, mas que também foi assolado por lesões durante os
quase seis anos que esteve vinculado aos verde
e brancos – em 2010-11 ficou praticamente toda a temporada em branco.
Seguiu-se Bojinov, avançado búlgaro que tinha passado por clubes como Juventus
e Manchester City. Porém, teve problemas físicos e disciplinares, pois desafiou
a hierarquia de executantes de grandes penalidades ao empurrar Matías Fernández
e assumir a conversão de um penálti num jogo da Taça da Liga frente ao
Moreirense, acabando por desperdiçar a oportunidade. Depois desse
episódio foi afastado da equipa e não voltou a jogar de leão
ao peito.
Com a saída de Bojinov, o extremo
hispano-venezuelano
Jeffrén passou a vestir a camisola
n.º 7, mas nunca confirmou em campo as expetativas que criou, em grande parte
por ser um produto da formação do Barcelona
e ter atuado ao lado e Messi
e companhia na equipa principal dos catalães. Lesões e irregularidade
exibicional marcaram a passagem dele por Alvalade.
Em janeiro de 2014 foi contratado
o extremo egípcio Shikabala, um
fenómeno de popularidade no seu país. No Sporting
começou pela equipa B, lesionou-se na estreia e só somou 13 minutos pela
principal formação
leonina. Após perceber que não ia ser escolha inicial para o treinador
Marco Silva, desertou e nunca mais pôs o pé em Alvalade.
Após dois anos sem camisola n.º
7, os leões
recrutaram o atacante Joel Campbell
por empréstimo do Arsenal.
O costa-riquenho prometia muito, mas não foi além de três golos, nunca
conseguindo afirmar-se como titular.
Meio ano após a saída de
Campbell, o Sporting
contratou o principal craque do Rio
Ave, o já trintão Rúben Ribeiro,
que vestiu a camisola 7 e até entrou diretamente no onze leonino
e somou algumas assistências. Porém, foi progressivamente perdendo espaço e
acabou por rescindir contrato na sequência do ataque à Academia.
Precisamente após a saída de
vários jogadores na sequência do ataque à Academia, as portas do onze titular
pareciam escancaradas para Matheus
Pereira, que tinha estado em evidência no Desp.
Chaves, clube ao qual havia sido emprestado. Depois de desempenhos
promissores na pré-época, o extremo brasileiro
passou a utilizar o número 7 e entrou em rota de colisão com o técnico José
Peseiro e acabou novamente cedido, sem nunca se conseguir afirmar no clube.
O senhor que se seguiu foi o
promissor Rafael Camacho, contratado
no verão de 2019 por cinco milhões de euros ao Liverpool, clube onde concluiu
uma formação iniciada precisamente no Sporting.
No entanto, o extremo nunca conseguiu impor-se como titular em Alvalade
e acabou inclusivamente por ser dispensado por Rúben
Amorim no início desta temporada.
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