sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Tabata. O talentoso esquerdino a quem falta golo e regularidade

Extremo Bruno Tabata assinou pelo Sporting até junho de 2025
Dava gosto ver Bruno Tabata brilhar no Portimonense. Não são muitos os futebolistas em clubes da I Liga que não pertencem ao círculo dos chamados três grandes com talento e capacidade para fazer a diferença, qualidade técnica acima da média, que valem milhões e que entram nas contas das seleções jovens de países importantes no futebol mundial, como a do Brasil neste caso em particular.



Durante ano e meio, foi uma espécie de espelho de Nakajima, que fazia movimentos semelhantes a partir do corredor esquerdo. Enquanto coincidiram em Portimão, o japonês que agora está no FC Porto evidenciou-se mais, sobretudo pela definição das jogadas, tendo somado muitos mais golos e assistências (e elogios!) do que o brasileiro. E, refira-se, ainda assim o asiático que amealhou 15 golos e 18 assistências no Algarve tem sentido gritantes dificuldades para se impor no Dragão.

Por falar em golos, essa é a principal lacuna de Tabata, que no Sporting será candidato à posição de avançado interior direito – ou extremo direito, como queiram, mas para mim extremo é quem joga nas extremidades do campo – no 3x4x3 de Rúben Amorim. Em três anos de Portimonense na I Liga, não foi além de um total seis golos, muito pouco para um potencial ocupante de uma das três posições mais ofensivas – as mais próximas da baliza adversária, portanto – num dos três grandes e que cuja transferência custou cinco milhões de euros… por metade do passe. Melhor é o registo de assistências: 19 no campeonato português desde 2017-18 – 10 só na temporada passada.

Ainda assim, o internacional olímpico pela seleção canarinha, 23 anos, assumiu protagonismo após a saída do nipónico, ainda que o tempo que passou em Portimão tivesse sido marcado por alguma inconstância exibicional, apesar do talento reconhecido por todos – “só joga bem quando quer”, era uma das críticas apontadas pelos adeptos alvinegros.

Benfica, FC Porto, Leipzig, Estugarda, Palmeiras, Flamengo, Villarreal e Shakhtar Donetsk foram alguns dos clubes aos quais o extremo foi apontado antes de rumar a Alvalade.


A maldição do 7 em Alvalade

Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”, diz um ditado espanhol. Até mesmo quem não é supersticioso devia pensar duas vezes até utilizar a camisola n.º 7 do Sporting. Desde que Luís Figo deixou Alvalade em 1995 que quem lhe tem sucedido no número da camisola tem sido vítima de uma maldição que começa a ganhar contornos macabros.

O primeiro a herdar o 7 de Figo foi Sá Pinto. As coisas até não estavam a correr mal até ter agredido o selecionador nacional Artur Jorge em março de 1997, o que lhe ditou um ano de suspensão. Três anos depois voltou a Alvalade e voltou a usar o mesmo número, mas após sucessivas lesões no joelho direito acabou por trocar de camisola.

Quando Sá Pinto saiu para a Real Sociedad, o avançado búlgaro Iordanov passou a usar o 7. Porém, logo nos primeiros meses com o novo dorsal foi-lhe diagnosticada esclerose múltipla, doença que lhe aceleraria o final de carreira.

O senhor que se seguiu foi avançado brasileiro Leandro, que, com o 18 às costas, até assinou uma época positiva em 1997-98. Porém, com o 7 perdeu rendimento, acumulou problemas disciplinares e saiu em rota de colisão com a direção.

Depois foi a vez de Delfim, médio proveniente do Boavista dotado de um pontapé-canhão. Embora tivesse conquistado o título nacional em 1999-00, a passagem do centrocampista pelo Sporting ficou marcada por sucessivas lesões.


Quando Delfim saiu para o Marselha em 2001, chegou a Alvalade o ponta de lança romeno Marius Niculae, que ficou com o n.º 7. Na primeira metade da época até esteve em evidência, ao apontar dez golos e formar uma dupla temível com Mário Jardel, mas em dezembro sofreu uma grave lesão e não voltou a ser o mesmo. Tanto que nos três anos seguintes de leão ao peito marcou tantos golos como os que havia apontado nos primeiros meses, até ao início do calvário.

A maldição era de tal forma evidente que o número 7 não foi utilizado entre 2004 e 2007. Depois chegou o russo Marat Izmailov, um médio ofensivo/extremo tecnicista, mas que também foi assolado por lesões durante os quase seis anos que esteve vinculado aos verde e brancos – em 2010-11 ficou praticamente toda a temporada em branco.

Seguiu-se Bojinov, avançado búlgaro que tinha passado por clubes como Juventus e Manchester City. Porém, teve problemas físicos e disciplinares, pois desafiou a hierarquia de executantes de grandes penalidades ao empurrar Matías Fernández e assumir a conversão de um penálti num jogo da Taça da Liga frente ao Moreirense, acabando por desperdiçar a oportunidade. Depois desse episódio foi afastado da equipa e não voltou a jogar de leão ao peito.

Com a saída de Bojinov, o extremo hispano-venezuelano Jeffrén passou a vestir a camisola n.º 7, mas nunca confirmou em campo as expetativas que criou, em grande parte por ser um produto da formação do Barcelona e ter atuado ao lado e Messi e companhia na equipa principal dos catalães. Lesões e irregularidade exibicional marcaram a passagem dele por Alvalade.

Em janeiro de 2014 foi contratado o extremo egípcio Shikabala, um fenómeno de popularidade no seu país. No Sporting começou pela equipa B, lesionou-se na estreia e só somou 13 minutos pela principal formação leonina. Após perceber que não ia ser escolha inicial para o treinador Marco Silva, desertou e nunca mais pôs o pé em Alvalade.

Após dois anos sem camisola n.º 7, os leões recrutaram o atacante Joel Campbell por empréstimo do Arsenal. O costa-riquenho prometia muito, mas não foi além de três golos, nunca conseguindo afirmar-se como titular.

Meio ano após a saída de Campbell, o Sporting contratou o principal craque do Rio Ave, o já trintão Rúben Ribeiro, que vestiu a camisola 7 e até entrou diretamente no onze leonino e somou algumas assistências. Porém, foi progressivamente perdendo espaço e acabou por rescindir contrato na sequência do ataque à Academia.

Precisamente após a saída de vários jogadores na sequência do ataque à Academia, as portas do onze titular pareciam escancaradas para Matheus Pereira, que tinha estado em evidência no Desp. Chaves, clube ao qual havia sido emprestado. Depois de desempenhos promissores na pré-época, o extremo brasileiro passou a utilizar o número 7 e entrou em rota de colisão com o técnico José Peseiro e acabou novamente cedido, sem nunca se conseguir afirmar no clube.

O senhor que se seguiu foi o promissor Rafael Camacho, contratado no verão de 2019 por cinco milhões de euros ao Liverpool, clube onde concluiu uma formação iniciada precisamente no Sporting. No entanto, o extremo nunca conseguiu impor-se como titular em Alvalade e acabou inclusivamente por ser dispensado por Rúben Amorim no início desta temporada.



















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