domingo, 26 de julho de 2020

Ivo Vieira não merecia continuar no Vitória de Guimarães?

Ivo Vieira ficou apenas uma temporada no D. Afonso Henriques
O casamento entre o Vitória de Guimarães e Ivo Vieira chegou ao fim e a principal causa terá sido o não cumprimento do objetivo de apuramento para as competições europeias. Para os mais desatentos, pode parecer um falhanço uma vez que os vimaranenses terminaram o campeonato no 7.º lugar, duas posições abaixo relativamente à época anterior; não conseguiram compensar essa menor regularidade na Taça de Portugal, sendo até humilhantemente eliminados pelo modesto Sintra Football; e tinham um plantel equilibrado, competitivo e de qualidade.


Porém, olhando para os jogadores valorizados, os números e o histórico do Vitória, talvez houvesse motivo para estender o casamento pelo menos por mais um ano, da mesma forma que no passado o Benfica o fez com Jorge Jesus e o FC Porto com Sérgio Conceição após temporadas em que os objetivos não foram cumpridos.

Embora não tivesse ido além do sétimo lugar, Ivo Vieira só fez menos dois pontos do que Luís Castro na temporada anterior – 50 contra 52. Ou seja, se o Vitória tivesse vencido na sexta-feira o Santa Clara, numa altura em que o apuramento europeu já não seria possível, o treinador madeirense tinha igualado pontualmente o antecessor, que conseguiu concluir o campeonato na quinta posição e se valorizou ao ponto de dar o salto para o crónico campeão ucraniano Shakhtar Donetsk. Se nos cingirmos apenas à I Liga, a diferença não esteve no Vitória, mas sim no Rio Ave e no Famalicão.

Depois, há outros indicadores a ter em conta. O bom futebol praticado pela formação vitoriana esta temporada rendeu 53 golos no campeonato, algo que já não acontecia desde 1998-99, numa época em que os minhotos tiveram dois treinadores, Zoran Filipović e Quinito. Agora recorde-se alguns dos técnicos que passaram pelo banco vimaranense desde então: Augusto Inácio, Jorge Jesus, Manuel Machado, Manuel Cajuda, Rui Vitória, Sérgio Conceição, Pedro Martins e José Peseiro. Luís Castro ficou-se pelos 46.

Relativamente à diferença de golos, o saldo é de 15 (positivos). Para encontrar um registo igual não é preciso recuar assim tanto, apenas aos tempos de Rui Vitória (2014-15), mas para encontrar melhor é necessário retroceder até 1995-96, quando Vítor Oliveira, Jaime Pacheco e Manuel Machado estiveram no comando técnico (+16). Luís Castro terminou a época com +12 e Pedro Martins em 2016-17 com +11.

E Ivo Vieira consegue ter esses registos aos quais até podemos mesmo chamar de históricos numa temporada superdesgastante, em que o Vitória fez 52 jogos – só em 1987-88 esse número foi superior (53) e resultou num 14.º lugar na I Divisão.

Além dos números de golos, pontos e jogos, convém falar também de valorização de futebolistas. O central burquinense Edmond Tapsoba precisou de apenas meio ano para se tornar (de longe) na venda mais volumosa da história do clube – 18 milhões de euros, pagos pelo Bayer Leverkusen –, mas o extremo inglês Marcus Edwards ameaça bater esse recorde em breve. E o que dizer da grande época de João Carlos Teixeira, do promissor desempenho de Bruno Duarte e do bom fim de temporada de Mikel?

Por muito que Ivo Vieira não tivesse cumprido os objetivos classificativos, urge analisar o passado recente dos minhotos, que desde a década de 1990 não conseguem qualificar-se para as competições europeias em anos consecutivos. O técnico de 44 anos tornou-se apenas mais um a falhar esse objetivo, mas o facto de este ser um problema crónico em Guimarães deveria ser tido em linha de conta.

Mas há mais. O histórico dos vimaranenses no século XXI está repleto de oscilações classificativas, que tantas e tantas vezes não estão proporcionalmente relacionadas com orçamento e qualidade de plantel e treinador. Basta recordar os 9.º e 10.º lugares com Rui Vitória em 2012-13 e 2013-14, o 9.º com Pedro Martins e José Peseiro em 2017-18, o 10.º com Sérgio Conceição (e Armando Evangelista) em 2015-16 ou o mais longínquo 14.º com Jorge Jesus (e Augusto Inácio) em 2003-04, ou mesmo a despromoção em 2005-06 (Jaime Pacheco e Vítor Pontes), com um plantel recheado de jogadores que conseguiram ser internacionais pelos seus países e construir boas carreiras.

Desde que voltou da II Liga, em 2007-08, o Vitória terminou no Top-5 da I Liga apenas por cinco vezes: 5.º lugar com Manuel Machado (2010-11), Rui Vitória (2014-15) e Luís Castro (2018-19), 4.º com Pedro Martins (2016-17) e 3.º com Manuel Cajuda (2008-09). E os obreiros dessas façanhas, à exceção de Rui Vitória que rumou ao Benfica e de Luís Castro que saltou para o Shakhtar, não saíram do D. Afonso Henriques propriamente pela porta grande.

Se é verdade que olhamos para o emblema vimaranense como um histórico do nosso futebol, que tem uma massa adepta que não encontra paralelo fora do círculo dos três grandes e que desportivamente se pode considerar a quinta força em Portugal, também o temos que encarar como um clube instável, em que os bons resultados não encontram sequência. E prova disso foi um arranque de temporada marcado por eleições antecipadas, com Júlio Mendes a bater com a porta e Miguel Pinto Lisboa a tornar-se no novo presidente.

Assim sendo, como é possível criar alicerces para uma maior consistência classificativa? Será garantidamente melhor para o projeto do Vitória o treinador que virá a seguir de Ivo Vieira? O técnico madeirense não merecia continuar no clube?





















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