Vivíamos os primeiros meses do
século XXI. A 17 de fevereiro de 2001, decorria a 21.ª jornada da I
Liga e o Boavista era líder com 45 pontos, mais dois do que o Benfica
(mais um jogo), mais seis do que o Sporting
e mais sete do que o FC
Porto e mais oito do que o Sp.
Braga. Os axadrezados de Jaime Pacheco tinham ainda o melhor ataque e a
melhor defesa do campeonato
e só tinham perdido por uma vez até então, precisamente na receção aos bracarenses
de Manuel Cajuda, na quarta ronda da prova.
O emblema
minhoto ainda não vivia na era António Salvador, mas estava a realizar uma
excelente temporada, aparecendo a morder os calcanhares aos grandes já com 20
jornadas decorridas. Os históricos Quim, José Nuno Azevedo, Artur Jorge e
Castanheira, jovens como Luís Filipe e Tiago, os brasileiros Odair, Zé Roberto
e Riva e o goleador
húngaro Miki Fehér formavam a base da equipa.
Do outro lado estava um Boavista
liderado em campo pelo Erwin Sánchez e pelo capitão Litos, mas com vários
jogadores que viriam a representar os denominados três grandes, como Ricardo,
Rui Bento e Elpídio Silva (Sporting),
Pedro Emanuel (FC
Porto) e Petit (Benfica).
Relativamente ao jogo, o Sp.
Braga fez o que já tinha feito diante
de Sporting – no Minho (3-2) e em Alvalade (2-1) – e FC
Porto (2-1) e venceu na receção aos boavisteiros. Riva, que fuzilou Ricardo
na sequência de um ressalto, marcou o único golo do encontro aos 82 minutos.
“Maldita kriptonite. Nem sequer é
um mal estatístico, e até é bom que não seja, porque assim sempre se sabe
antecipadamente quando se vai perder e em que circunstâncias: o Sp.
Braga ganha sempre a quem seria suposto não ganhar. A falta de senso desta
regra anárquica é notória, até porque ao sexto jogo com candidatos ao título -
e um único empate - o correto é esperar-se que ganhe, mas serve também de
atestado oficial, uma espécie de certificado de grandeza que lisonjeia o
Boavista. Mais do que isso: não é de todo insensato acrescentar que o
comandante do campeonato
se portou melhor em Braga
do que qualquer um dos seus irmãos graúdos. Perdeu porque não soube prever o
momento que o seu adversário escolhera para tentar o truque do costume. São
duas as derrotas do Boavista na I
Liga, ambas arrancadas por pés bracarenses.
Entre elas, 16 jogos sem perder, que lhe deram uma aura de super-herói
crescente, cada vez mais ampla, mais ambiciosa até se perceber que o título
está muito longe de ser um fait-divers
nos discursos que Pacheco faz no balneário. O que quer então o Sp.
Braga dizer? Que até o super-homem tem pontos fracos, no seu caso um
minério verde, resto vaporoso do planeta de origem, a que calhou bem chamar
kriptonite. O Sp.
Braga é a kriptonite do Boavista (e dos outros também, mas em concorrência
com outras substâncias): tanto o enfraquece quando se encontram como o
fortalece apenas por existir. Que piada tem um super-herói invencível?”,
escreveu o jornal O Jogo.
O Sp.
Braga-Boavista de fevereiro de 2001 foi o primeiro jogo de que tenho
memória entre as duas equipas, até pela exposição mediática do confronto, uma
vez que os boavisteiros estavam embalados na frente da tabela classificativa. Porém,
vale a pena recordar a partida da primeira volta, em que os bracarenses
venceram no Bessa (2-1).
Dois golos de Miki
Fehér (11’ e 54’), intercalados por um do boavisteiro Geraldo, deram a
vitória aos bracarenses,
que fecharam a quarta jornada com 12 pontos em 12 possíveis. Já o Boavista
seguia no grupo dos quintos classificados, com sete pontos, também atrás de FC
Porto, Salgueiros e Belenenses
e em igualdade pontual com Sporting,
Benfica,
Marítimo e Farense.
“Absolutistas. O Sp.
Braga isolou-se no comando do campeonato
da I Liga, ao vencer, por 2-1, no Bessa, o até ontem invicto Boavista. O
cântaro tantas vezes vai à fonte... Sem pretender beliscar o mérito do triunfo
dos arsenalistas, construído com dois golos de Fehér,
o rei dos marcadores e a referência da equipa, os boavisteiros tiveram as
peripécias do jogo contra si. Se não atentemos: foram obrigados (pela primeira
vez na campanha interna) a correr atrás do prejuízo e, aos 54’, Jaime Pacheco
foi obrigado a render Rui Óscar, o único lateral-direito de raiz do plantel,
substituição que amputou, de certa forma, o conjunto, pois Frechaut não tem
rotina de defesa-lateral. E o pior é que o Boavista sofreu o segundo golo no
minuto seguinte... Sinónimo de mais sacrifício para os donos do terreno, três
dias depois de um jogo uefeiro e uma dura e penosa viagem até Poltava, na
Ucrânia. Elas não matam, mas moem... O Boavista acusou o segundo golo e, a
partir daí, não mais foi uma equipa esclarecida, lúcida. Quis chegar à
igualdade, mas não foi capaz, apesar de Sánchez ter procurado resolver com o
seu pé-canhão”, podia ler-se no jornal O
Jogo.
Boa tarde. Me traz a memória a primeira vez que eu fui no Estádio do Maracanã.
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