José Soares vs. Jardel. Foi há 25 anos um duelo que fez correr muita tinta
José Soares e os seus puxões constantes a Mário Jardel
A 19 de fevereiro de 2000 o Campomaiorense
alcançou a única vitória da sua história sobre o FC
Porto, graças a um golo solitário de Laélson aos 20 minutos no Estádio Capitão
César Correia, em Campo Maior. No entanto, o atacante brasileiro até se tornou
numa espécie de personagem secundária do filme desse jogo.
Isto porque, do lado oposto do
campo, outro avançado brasileiro, o goleador Mário Jardel, foi alvo de uma
marcação individual por parte de José Soares que ultrapassou os limites do
conceito de marcação cerrada. Houve puxões, entradas imprudentes e pelo menos
uma agressão. Apesar dos excessos, o central alentejano viu o árbitro Bruno
Paixão mostrar-lhe apenas um cartão amarelo, e aos 90 minutos, numa altura em
que, no entender dos responsáveis portistas,
o defesa já nem deveria estar em campo. “Ele começou a agarrar-me, a
agarrar-me... Até que eu lhe disse: 'Larga-me que eu já tenho mulher em casa!'
E ele deu-me um estalo... Nunca vi tantos penáltis num mesmo jogo, mas o Bruno
Paixão não marcava”, recordou Jardel mais de 17 anos depois, em entrevista ao Porto
Canal, em março de 2017.
Os comentários à volta deste encontro
e da arbitragem duraram semanas. Três dias após a partida, o treinador dos dragões
naquela altura, Fernando Santos, enumerou em conferência de imprensa mais de
uma dezena de lances nos quais considerava que o FC
Porto tinha sido prejudicado. O técnico chegou até a referir-se a um
acompanhamento psicológico que Bruno Paixão estava a ter, em alusão à presença
de António Montiel, um elemento que trabalhava para a Liga e que tinha como
função falar com os árbitros e apoiá-los técnica e psicologicamente. O próprio Jardel, o adjunto Rodolfo
Reis e o presidente Pinto
da Costa também não ficaram calados. No programa Jogo Falado, da RTP,
o antigo dirigente portista
e comentador Pôncio Monteiro aumentou a polémica ao acusar Bruno Paixão de ter “roubado”
o FC
Porto em benefício do Benfica
e Sporting.
Refira-se, a este propósito, que no final dessa jornada, a 22.ª do campeonato
de 1999-00, os azuis
e brancos foram apanhados na liderança da prova pelos leões
e ficaram com apenas um ponto de vantagem sobre as águias.
Embora Mário Jardel tenha sido
quem mais levou pancada mais durante os 90 minutos, foi José Soares quem mais
sofreu a partir do momento em que o apito final de Bruno Paixão soou. “Joguei
no Benfica,
fui campeão europeu com a seleção sub-18 [em 1994], estive no terceiro lugar no
mundial [de sub-20, em 1995] do Qatar, fui titular do Benfica
aos 23 anos, fiz um bom trabalho no Alverca,
mas só me falam do Mário Jardel. Continua a ser assim. De vez em quando, lá me
falam dele. E eu tento explicar que fiz mais coisas na carreira”, contou ao Maisfutebol
em junho de 2013. “Não foi um dia bom, a arbitragem
também não foi boa e claro que exagerei na altura. Não só eu, o Jardel também
me agrediu. Mas passado um mês, fui à casa dele no Porto, fomos almoçar e ficou
tudo resolvido. Entre nós ficou, mas fui massacrado com isso durante anos. (…) Esse
jogo marcou-me para sempre. Fui ficando saturado do futebol. Não do jogo em si,
mas do mundo do futebol. Continuamos a ver exemplos de agressividade, mas
ninguém é massacrado como eu fui na altura. Tanto que me cansei no futebol,
anos mais tarde”, prosseguiu.
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