Romário
correspondia àquela imagem que tantas vezes criamos sobre os jogadores
brasileiros: muito talento, muitos golos e muito… Carnaval. A diferença é que
sorria muitos menos que outros grandes craques do seu país. Com a bola sempre
colada ao pé direito, dava-se bem em espaços reduzidos e construía obras de
arte em menos de um metro quadrado. Reivindica ter mais de mil golos, mas
entidades independentes que recolhem este tipo de dados creditam-lhe uma marca
na casa dos 700.
Seja como for, é um registo
excelente para um jogador que tinha assumidamente atitudes pouco profissionais.
“Não sou um atleta. Não treino, descanso e como bem. Sou um avançado centro.
Sou autêntico, claro, real e difícil”, vincou. Insolente e preguiçoso, um dia
foi repreendido por um treinador, que lhe exigiu mais esforço. “Ficar aí parado
em pé e mandar-me correr é mole, não é?”, ripostou. Por se deitar tarde e acordar
também tarde, atrasava-se frequentemente na chegada aos treinos e desrespeitava
por completo as regras de cada clube. No PSV
(1988 a 1993), os jogadores chegaram a exigir que Bobby Robson o disciplinasse,
mas o baixinho
respondeu que se alguém no plantel o vencesse num jogo de cinco contra cinco,
ele começaria a cumprir as regras como os outros. Caso contrário, que o
deixassem em paz. Além de se ter pegado com
companheiros de equipa e treinadores, incluindo Johan
Cruyff e Luiz
Felipe Scolari, pegou-se com maior ídolo do futebol brasileiro, Pelé.
É que ambos se gabavam de um registo de golos demasiado criativo e difícil de
comprovar. “O Pelé
calado é um poeta. Era bom colocar-lhe um sapato na boca”, atirou o campeão
mundial de 1994, que acreditava ter mais remates certeiros do que o rei,
que havia vencido o Campeonato do Mundo em 1958, 1962 e 1970.
Romário
por vezes não se ficava pelas palavras e passava aos atos. Gostava de uma boa
briga e não o escondia. “Parti três dentes e levei 50 pontos, mas quando
acordei já estava sem qualquer marca. Estavam à espera que eu chegasse aqui com
a cara destruída? Nasci no [bairro do] Jacaré, sou bom de briga”, afirmou após (mais) um
desacato. Eleito melhor jogador do mundo
para a FIFA em 1994 – nesse ano a Bola de Ouro ainda premiava somente jogadores
europeus – e melhor futebolista do Mundial
dos Estados Unidos, sabia o que valia, mas nunca foi modesto: “Quando eu
nasci, o Papai do Céu [Deus] apontou para mim e disse: este é o cara.”
Além do Mundial,
venceu duas Copas América (1989 e 1997) e uma Taça das Confederações (1997)
pela seleção
brasileira, um campeonato do Brasil (2000), uma Copa Mercosul (2000) e dois
campeonatos cariocas (1987 e 1988) pelo Vasco,
um campeonato e uma Supertaça de Espanha pelo Barcelona
(1993-94), três campeonatos (1988-89, 1990-91 e 1991-92), duas Taças (1988-89 e
1989-90) e uma Supertaça (1992-93) dos Países Baixos pelo PSV,
uma Copa Mercosul (1999) e dois campeonatos cariocas (1996 e 1999) pelo Flamengo
e uma Taça do Qatar (2003) pelo Al-Sadd. Anunciou a retirada em 2008, mas
voltou a jogar pelo América
do Rio de Janeiro no ano seguinte, aos 43 anos, e agora em 2024, aos 58.
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