O lixeiro em França que virou campeão pelo Boavista. Quem se lembra de Quevedo?
Quevedo somou 87 jogos e cinco golos pelo Boavista
Era muito raçudo, combativo e resistente.
William Quevedo era uma espécie Robocop com um bom pé esquerdo, um lateral/extremo
francês que parecia destinado aos campeonatos amadores do seu país, mas que foi
a tempo de ajudar o Boavista
a escrever a sua página mais bonita, o título nacional conquistado em 2000-01.
“Fiz a formação no Montpellier,
depois deixei o futebol porque fui para a tropa e quando saí fui jogar futebol
numa equipa amadora. Ao mesmo tempo trabalhava para a empresa do presidente
desse clube. Era uma empresa de recolha de lixo. Eu fui lixeiro em França e
depois campeão de futebol em Portugal. Trabalhava das quatro da manhã à uma da
tarde. Tudo mudou quando um agente me viu a jogar na equipa amadora e me fez um
convite para apostar no futebol. Por isso é que eu dava o máximo no futebol. Para
mim não era trabalho. Eu levantava-me de madrugada para apanhar merda”, contou
ao Maisfutebol
em julho de 2020. Depois de dois anos nos amadores
do Rodez e de uma época no AS Valence, da Ligue 2 gaulesa, entrou no futebol
português no verão de 1996 para representar o Moreirense
e desde cedo que impressionou, tendo apontado sete golos em 28 jogos pelos
minhotos na II
Liga.
Seguiram-se quatro anos no Boavista,
entre 1997 e 1998. Começou por bater o FC
Porto para conquistar a Supertaça,
e despediu-se praticamente após a conquista do título nacional em 2000-01. Fez
ainda parte da equipa que alcançou o segundo lugar em 1998-99 e da primeira participação
dos axadrezados
na Liga
dos Campeões, na época seguinte.
Mas nem tudo foram rosas. Em
agosto de 1999 sofreu uma lesão gravíssima num jogo diante do FC
Porto, no arranque do campeonato, e só voltou a jogar mais de um ano depois,
já na temporada da conquista do título. “Regressei num excelente momento.
Voltei num jogo da Taça
UEFA. Quando o mister me mandou aquecer… a malta a aplaudir na bancada do
Bessa. Entrei em campo a chorar, nunca me esqueci. Depois no jogo a seguir
marquei um golo ao Estrela
da Amadora… estou aqui em casa a ver essas imagens e só me apetece chorar.
É muito bonito. O Boavista
tratou-me muito bem. Nunca me esquecerei do momento em que abri os olhos,
depois de ser operado, e vi o presidente [João Loureiro] e o treinador [Jaime
Pacheco]. Eram eles que estavam comigo naquele quarto de hospital. Isso é
muito forte, o Boavista
era uma família”, recordou o antigo lateral, que lembrou o jogo do título, no
Bessa diante do Desportivo
das Aves: “Cinco dias antes fomos ganhar ao Salgueiros
5-1. Sabíamos que tínhamos de ganhar porque o último jogo era nas Antas. No
jogo contra o Desportivo
das Aves só sentimos a pressão antes do jogo. Aquelas horas antes… difícil.
Mas depois de o jogo começar, foi muito bom. O Sanchez fez o 1-0 e sentimos
todo um grande alívio. O Silva
e o Whelliton marcaram os outros golos. Era difícil acreditar naquilo. No dia a
seguir parava para pensar… ‘Foda-se, fomos mesmo campeões?’. Os adeptos ajudaram
muito. Lembro-me que em Alverca aquilo estava cheio de boavisteiros.
O grupo era extraordinário. Não podíamos falhar. O Jaime
Pacheco fez uma equipa que era igual à sua personalidade. Gritar, querer
mais e mais, ser bruto. Ele é que tinha razão.”
Depois de 87 jogos e cinco golos
ao serviço dos boavisteiros,
voltou a França para reforçar o Sochaux, da Ligue
1, mas desde cedo sentiu saudades dos métodos de Jaime
Pacheco: “Não fiz bem em sair do Boavista.
Cheguei ao Sochaux e a mentalidade era diferente, não aceitavam um ‘carrinho’
no treino, a agressividade. Era tudo muito devagarinho. Ninguém treinava de
caneleiras, não jogavam a sério nos treinos. Não gostei.”
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