quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

As “maçãs podres” que vieram do frio. Quem se lembra de Iuran, Mostovoi e Kulkov?

Iuran, Mostovoi e Kulkov no Estádio da Luz
“Maçã podre” é um termo hoje muito associado a João Moutinho, que foi assim apelidado pelo então presidente do Sporting, José Eduardo Bettencourt, aquando da transferência do médio para o FC Porto, em 2010. Teve o objetivo de classificar um jogador com um comportamento alegadamente nocivo no balneário. Mas não foi a primeira vez que foi empregue no futebol português.
 
Cerca de 17 anos antes, o então treinador do Benfica, Toni, tornou-se no primeiro a utilizar o termo. “Não vou pôr três maçãs podres num cesto de maçãs mais ou menos boas”, afirmou, a propósito dos três russos que viraram o Estádio da Luz do avesso: Iuran, Mostovoi e Kulkov. Em causa saídas à noite, atrasos aos treinos e, no caso de Iuran, um acidente de viação mortal na Avenida da Boavista.
 
Sven-Göran Eriksson, que os trouxe para Portugal, disse que o problema esteve na adaptação a um novo sistema financeiro para o trio: “Não estavam habituados a ter dinheiro. O Iuran, por exemplo, não confiava no banco e guardava o dinheiro no colchão.”
 
Mostovoi chegou no verão de 1992 e foi despachado para os franceses do Caen no final de 1993, mas Iuran e Kulkov, que haviam aterrado em Lisboa um ano antes, ainda fizeram parte da equipa campeã nacional em 1993-94, mas Artur Jorge, que sucedeu a Toni no comando técnico, deixou claro que não tinha paciência para os aturar.
 
Entretanto, surge o FC Porto na equação. Tudo isto porque outro soviético, o sportinguista Sergey Cherbakov, que também gostava de um estilo de vida boémio, sofreu um acidente de viação em dezembro de 1993, depois de ignorar um sinal vermelho o cruzamento da Avenida da Liberdade com a rua Alexandre Herculano, em Lisboa. Cherba ficou paraplégico e, durante a estadia no Hospital de São José, foi visitado por Iuran, Kulkov e… Bobby Robson, que tinha tido o seu jantar de despedida do Sporting na noite do acidente e assinou pelo FC Porto no mês seguinte.
 
Robson conheceu os russos do Benfica no hospital e quis levá-lo para as Antas. Perante o interesse do rival, as águias passaram para a imprensa informações assustadoras sobre o estado físico de ambos. “Se ficasse mais um ano no Benfica tinha de certeza um enfarte”, ironizou Kulkov.

 
Do outro lado do negócio, Pinto da Costa mostrava estar ciente de quem estava a contratar: “Sei que nem nós contratámos dois santos, nem eu sou o abade das Antas.”
 
Ao serviço dos dragões voltaram a mostrar alguma utilidade dentro de campo, sagrando-se campeões em 1994-95, mas continuaram a arranjar problemas fora dos relvados, acabando dispensados ao cabo de uma temporada na Invicta. 








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