segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

O homem contratado pelo FC Porto para fazer esquecer Jardel. Quem se lembra de Pena?

Pena somou 42 golos em 87 jogos pelo FC Porto
2000 foi um ano de mudança de ciclo no FC Porto. Apesar de ter estado com o hexacampeonato bem encaminhado, viu o Sporting quebrar-lhe a sequência de títulos. E o homem que havia sido por quatro vezes o melhor marcador da I Liga portuguesa (com direito a Bota de Ouro em 1998-99), Mário Jardel, saiu para o Galatasaray. E para o substituir? Foi uma carga dos trabalhos. Quem começou a temporada 2000-01 como titular foi o croata Silvio Maric (ex-Newcastle), que se lesionou gravemente logo no primeiro jogo oficial da época. No segundo encontro, a titularidade foi dada a Domingos, já na curva descendente da carreira, mas não correspondeu com golos. Outro veterano com créditos firmados, Juan Antonio Pizzi (ex-Rosario Central), também não faturou. Por último, Fernando Santos experimentou Romeu, o que também não resultou. Já no final do verão chegou um brasileiro ex-Palmeiras sem internacionalizações A nem grande currículo no que concerne a média de golos, Pena, que pegou de estaca.
 
“Assim que ficou com o meu passe na mão, ele [empresário Josep Minguella] entrou em contacto com o FC Porto. Tinha uma ligação boa com eles, até acho que foi ele que negociou o Mário Jardel para lá. Isso foi numa terça ou quarta-feira. Cheguei e perguntaram-me se eu podia jogar imediatamente no fim-de-semana. Disse que sim, claro. Disse que estava há um mês sem treinar com bola, mas cheio de vontade de jogar. O Minguella disse-me que jogar no FC Porto envolvia uma pressão grande e perguntou-me se eu ia aguentar isso. ‘Pressão? Pressão era quando eu acordava de manhã e não tinha o que comer’. Jogar num gigante da Europa não era pressão, era prazer. Fiz os exames médicos, assinei por cinco anos, treinei duas vezes e fui para o jogo”, lembrou ao Maisfutebol em abril de 2021.
 
 
No primeiro jogo, bisou ao Paços de Ferreira. No segundo, marcou num empate em Belgrado frente ao Partizan. No terceiro, bisou numa goleada em Campo Maior. No quarto, apontou o golo solitário de uma sofrida vitória sobre o Marítimo. No quinto não faturou, mas fez a assistência para o golo de Drulovic que deu o triunfo na receção ao Partizan. No sexto marcou ao Farense, no sétimo ao Vitória de Guimarães e no oitavo deu a vitória num clássico com o Sporting em Alvalade. Entretanto interrompeu a sequência, mas foi fazendo aqui e ali o gosto ao pé, terminando a temporada com 29 golos em 44 jogos e o troféu de melhor marcador da I Liga, sucedendo a… Jardel. Por esta altura, talvez se pudesse dizer que estava a fazer esquecer Super Mário. Não marcava tanto, mas era mais móvel e oferecia outras coisas ao futebol portista.
 
 
“Acho que deixei a minha marca no futebol português. Logo no meu primeiro ano no FC Porto fui o melhor marcador do campeonato português... e repare que tinha a responsabilidade de substituir o Mário Jardel. Não era qualquer um que o substituía por tudo o que ele fez. Não tive dificuldades de adaptação e ainda hoje sou o jogador do clube que teve um melhor arranque. Só por isso acho que mereço ser recordado. Não era qualquer um que chegava a um clube daquela dimensão e fazia o que eu fiz. O tempo não apaga a história”, disse ao Diário de Notícias em agosto de 2017.
 
 
O problema foi que nem Jardel se fez esquecer, ao regressar em grande a Portugal pela porta do Sporting depois de ter estado com um pé no Benfica, nem Pena manteve a cadência goleadora, pois em 2001-02 não foi além de 13 remates certeiros em 43 partidas em todas as competições, tendo terminado a época na sombra de Benni McCarthy e Hélder Postiga, numa altura em que já era José Mourinho que estava no comando técnico.
 
“Há coisas que ninguém sabe. Eu vou contar estas histórias pela primeira vez, ninguém imagina. Primeiro: tive uma pubalgia muito grave a meio da segunda época, mas havia poucas opções e pediam-me sempre para jogar. Eu levava dez injeções por semana para as dores e para a inflamação. Não estava bem fisicamente e o meu forte era o físico. Quem tem pubalgia percebe o que digo. Eu chegava a casa e tinha de colocar três sacos de gelo, as dores eram insuportáveis. Diziam que eu saía à noite, inventavam motivos e não era nada disso. Fui a 10/12 testes de doping, queriam apanhar-me, mas nunca fui apanhado porque não havia nada. Eu corria porque era mesmo assim e só deixei de correr por culpa deste problema. Eu nunca tinha jogado com pitões de alumínio, altos, e isso rebentou a minha parte muscular. Não tenho nada a apontar ao departamento médico, ajudavam-me dentro do possível, mas o problema é que eu parava”, revelou.
 
 
Paralelamente, foi burlado por outro empresário que o representava. “Eu estava a fazer uns investimentos no Brasil quando cheguei ao FC Porto e por isso pedi adiantado o dinheiro dos meus dois primeiros anos de contrato. 300 mil dólares pelo primeiro ano e 350 mil dólares pelo segundo ano, não tenho problema nenhum em divulgar as verbas. Recebi esses 650 mil dólares para construir 14 apartamentos e depois vender ou arrendar. Nós fomos fazer um jogo da Liga dos Campeões, esse empresário ficou com o dinheiro para depositar na minha conta e nunca depositou. Até hoje. O FC Porto foi fantástico, aceitou fazer esse pagamento adiantado, só me queriam ver motivado. Quando cheguei da viagem, muito satisfeito, esse gajo roubou todo o meu dinheiro. ‘Não te roubei, vou dar-te o dinheiro’. Nunca mais. Desapareceu, não atendeu mais o telemóvel. Eu tinha assumido grandes compromissos na minha cidade – construtoras, empreiteiros – e não consegui cumprir o que estava acordado. Colocaram-me na Justiça. Se eu tivesse ido lá nessa altura, de certeza que seria preso”, acrescentou.
 
Seguiram-se três empréstimos. Depois de ter estado cedido aos franceses do Estrasburgo, jogou novamente na I Liga portuguesa com as camisolas de Sp. Braga e Marítimo. Sem ser brilhante, apresentou golos tanto ao serviço dos minhotos (sete) como dos madeirenses (nove).
 
 
“É uma mágoa que ainda tenho: não ter trabalhado mais tempo com o José Mourinho, que veio a tornar-se um dos melhores treinadores do mundo. Mas naquele início de época [2002-03] aconteceram vários episódios que me deixaram triste e optei por sair. Na pré-época lembro-me que marquei muitos golos... mas tinha uma pubalgia muito grave e andavam a dizer que eu só queria noitadas. Devo dizer que nessa altura até estive para ser chamado à seleção brasileira pelo Scolari. Mas a lesão estragou-me os planos”, recordou.
 
 
 







  

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