domingo, 24 de dezembro de 2023

Hoje há mais jogos do que antigamente? Uma mentira repetida mas que não se torna verdade

Manchester City competiu no Mundial de Clubes
É comum ouvir-se ou ler-se que os futebolistas atualmente disputam mais jogos. Parece ser uma daquelas verdades que nem é preciso confirmar. Mas não é bem assim. Ou melhor, hoje há um calendário menos vasto do que já houve – se os treinadores hoje não abdicam de utilizar os seus principais jogadores em todos os jogos e antes abdicavam, essa é outra conversa.
 
Qualquer um dos cinco principais campeonatos europeus já teve mais jornadas do que tem hoje em dia. Sim, a Premier League (entre as décadas de 1910 e 1990) e a Liga Espanhola (entre 1995 e 1997) chegaram a ter 42 jornadas, a Série A 40 (em 1947-48), a Bundesliga 38 (em 1991-92) e a Ligue 1 38 (mais recentemente entre 2002 e 2023).
 
Em relação à Liga dos Campeões, houve durante a viragem do século a segunda fase de grupos, substituída em 2003-04 por oitavos de final a duas mãos, o que gerou uma poupança de quatro jogos. Além disso, todos os clubes participantes na Champions oriundos das quatro principais ligas – os que no fundo acabam por chegar longe na prova – entram agora diretamente, enquanto no passado havia casos de equipas candidatas a levantar o troféu que tinham de disputar pré-eliminatórias.
 
Em termos internos, nos últimos 20 e poucos anos tenho notado um esforço para reduzir os jogos das taças, à exceção das meias-finais da Taça de Portugal, que passaram a duas mãos em 2008-09. No nosso país a Supertaça passou para um único jogo em 2001, a Taça de Portugal deixou de contemplar a possibilidade de jogo de desempate desde 2002 e a Taça da Liga hoje resume-se a quatro jogos para os principais candidatos a levantar o troféu.
 
Em Inglaterra os jogos de desempate e as segundas-mãos também têm vindo a acabar, Espanha e Itália abandonaram recentemente o modelo de eliminatórias a duas mãos na Taça e França eliminou em 2020 a Taça da Liga do seu calendário, enquanto a Alemanha já o havia feito em 2007.
 
Depois há as seleções. É verdade que os anos que se seguiram à pandemia foram excecionais, com cada seleção a disputar três jogos por cada data FIFA em vez dos habituais dois para acertar calendário, mas, entretanto, tudo voltou à normalidade. E a Taça das Confederações já não existe – chegou a ser de dois em dois e depois de quatro em quatro anos.
 
Apesar de a covid-19 ter preenchido mais a agenda das seleções, em 2021 Inglaterra chegou à final do Euro 2020, mas fez apenas mais dois jogos nesse ano do que havia feito em 1966 (19 contra 17), quando conquistou o Campeonato do Mundo. E os anos com mais jogos de Brasil e Argentina continuam a ser 1956 (24) e 2011 (21), respetivamente.
 
Em relação a clubes, o Manchester City, que na época passada vencem as finais da Champions e da Taça de Inglaterra e ainda participou na Supertaça inglesa fez os mesmos 61 jogos que em 1969-70.
 
E nenhum dos recordes de jogos por época de clubes como Liverpool (67 em 1983-84), Chelsea (67 em 2012-13), Real Madrid (66 em 2001-02), Tottenham (66 em 1971-72 e 1981-82), Barcelona (64 em 1999-00, 2008-09 e 2010-11), Manchester United (64 em 2008-09 e 2016-17), Inter de Milão (59 em 2005-06 e 2009-10) e Bayern Munique (57 em 2007-08), que têm tradição e nas últimas temporadas chegaram longe nas competições europeias, foi nas derradeiras cinco épocas.
 
Recordo que hoje há uma ferramenta chamada cinco substituições que não existia no passado, ainda que eu defenda algo mais revolucionário: substituições ilimitadas ao intervalo. Daria mais minutos a jogadores que hoje não são tão utilizados, proporcionaria mais formas de cada treinador poder surpreender taticamente e aumentaria o ritmo das partidas e, consequentemente, a qualidade do espetáculo.








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