Zidane com ligadura na perna no jogo diante da Dinamarca |
Falar da minha primeira memória de
um jogo entre França e Dinamarca é falar também do primeiro
Mundial que segui, o de 2002, e da queda de uma equipa que poucos dias
antes eu julgava ser invencível.
Vamos por partes. Comecei a ver
futebol em 2000 e fui
logo brindado pela conquista do título europeu por parte de França, que com
maior ou menor dificuldade eliminou Espanha e Portugal
nos quartos e nas
meias-finais e bateu a Itália na final. Zinédine Zidane era a figura máxima
de uma geração de ouro do futebol gaulês, que tinha um elevado número de jogadores
nos maiores clubes do mundo. Fabien Barthez, Marcel Desailly, Lilian Thuram, Bixente
Lizarazu, Emmanuel Petit, Patrick Vieira, Thierry Henry e David Trezeguet eram
naquela altura, aos meus olhos e não só, jogadores de top mundial.
E nos dois anos que se seguiram, confirmei
essa ideia. Para se ter uma noção, França chegou ao Mundial
2002, disputado na Coreia do Sul e no Japão, com um Zidane em grande forma,
acabadinho de marcar um golaço que valeu ao Real
Madrid a conquista da Liga
dos Campeões; e com os melhores marcadores dos campeonatos de Inglaterra
(Henry), Itália
(Trezeguet) e França
(Djibril Cissé). Claude Makélélé também tinha acabado de se sagrar campeão
europeu pelos merengues,
enquanto Willy Sagnol e Bixente Lizarazu o tinham sido na época anterior ao
serviço do Bayern
Munique. Também em 2001-02, Patrick Vieira, Sylvain Wiltord e Henry tinham
sido campeões de Inglaterra
com a camisola do Arsenal
e Lilian Thuram e David Trezeguet de Itália
ao serviço da Juventus,
enquanto Philippe Christanval (Barcelona)
e Fabien Barthez e Mikaël Silvestre (ambos Manchester
United) haviam chegado às meias-finais da Champions.
Resumindo: França era a grande favorita a vencer o Campeonato
do Mundo.
No entanto, a
seleção então comandada por Roger Lemerre, sem o lesionado Zidane, iniciou a
defesa do título com uma surpreendente derrota ante o Senegal (0-1), então em
estreia em Mundiais e com 21 dos 23 convocados a atuar em França. Seguiu-se
um empate a zero com o Uruguai, num duelo entre antigos campeões mundiais e de…
deceções do Grupo A do Campeonato
do Mundo.
À entrada para a última jornada
da fase de grupos, França tinha apenas um ponto, mas ainda podia sonhar com o
apuramento, caso batesse a Dinamarca por dois golos de diferença. Os nórdicos
lideravam o grupo, com os mesmos quatro pontos que o Senegal, fruto de um
triunfo por 2-1 sobre o Uruguai e de um empate a um golo frente à seleção
africana, e só necessitavam de um empate para seguir em frente.
Sem Peter Schmeichel nem os manos
Laudrup, expoentes máximos da geração anterior, os dinamarqueses tinham como
principal figura Jon Dahl Tomasson, estrela de um Feyenoord que tinha acabado
de vencer a Taça
UEFA. No entanto, havia mais jogadores em equipas de muito bom nível ou em
equipas médias de ligas de topo, como Martin Laursen e Thomas Helveg (ambos AC
Milan), Jan Heintze, Dennis Rommedahl e Kasper Bøgelund (todos PSV),
Thomas Gravesen (Everton), Ebbe Sand (Schalke
04), Jesper Grønkjær (Chelsea),
Martin Jørgensen (Udinese), Niclas Jensen (Manchester
City), Peter Løvenkrands (Rangers), Thomas Sørensen (Sunderland), Stig
Tøfting (Bolton) e Claus Jensen (Charlton).
Mesmo com Zidane em campo, ainda que
limitado, França voltou a desiludir. Aos 22 minutos, Rommedahl apareceu sozinho
ao segundo poste para finalizar certeiro na sequência de um cruzamento de Tøfting
a partir da direita. A meio do segundo tempo, Tomasson fez o 2-0, a rematar para
o fundo das redes de Barthez na resposta a um cruzamento de Grønkjær do lado
esquerdo (67’).
“Nem Zidane salvou o campeão e a
França voltou para casa sem honra nem glória depois de mais uma derrota, contra
a Dinamarca. Mais, os gauleses saíram deste Mundial
como os piores defensores de um título em toda a história da prova. O único campeão
em exercício que disse adeus na primeira fase sem sequer marcar um golo. A
seleção de Roger Lemerre, a fabulosa geração de Zidane, Djorkaeff, Desailly,
Barthez, Petit, ou, mais recentemente, Henry e Trezeguet, que tinha entrado
para a história do futebol ao tornar-se a primeira equipa a conseguir juntar um
título europeu a um outro mundial, de forma consecutiva, inscreve agora também
o seu nome nas páginas mais negras dos Mundiais. Antes desta prova, só a
Itália, em 1950, e o Brasil, em 1966, tinham deixado cair na primeira fase o
título de campeão” resumiu o Diário de
Notícias.
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