Sérgio Conceição no jogo da sua vida frente à Alemanha em 2000 |
Imaginem um miúdo de oito anos
que tinha começado a ver futebol há pouco mais de um mês, não sabia nada de
nada sobre a história da modalidade e, de repente, vê os suplentes de Portugal,
já com o apuramento confirmado para a próxima fase, ganhar por 3-0 a uma Alemanha
que assim ficou em último lugar do seu grupo. Aos meus olhos, comecei a
imaginar a Alemanha com um nível futebolístico semelhante ao que hoje se pode
atribuir à Letónia ou ao Liechtenstein.
Só algum tempo depois, quando
comecei a folhear livros, revistas e jornais, é que me apercebi que do outro
lado estava a ALEMANHA, uma potência mundial também no futebol e que era, por
exemplo, a detentora do título europeu.
Nessa partida, acho que ouvi
falar de alguns jogadores portugueses pela primeira vez, como os guarda-redes
Pedro Espinha e Quim, o médio Paulo Sousa ou o avançado Pauleta. Já não me
lembro se já tinha ouvido falar de Sérgio
Conceição, mas uma coisa é certo: não mais esqueci esse nome nem do que fez
naquela noite de 20 de junho de 2000 em Roterdão.
Já a Alemanha, sempre poderosa
independentemente da geração, apresentava em campo quatro campeões europeus de
1996: Oliver Kahn, Mehmet Scholl, Marco Bode e, a partir do banco, Thomas
Hassler. E um de 1980, que tinha sido também campeão mundial e Bola de Ouro em
1990: Lothar Matthäus.
Mas Portugal ganhou e começou a
construir essa vitória ao minuto 34. Pauleta, ao tentar fazer um cruzamento
rasteiro em esforço a partir da esquerda, vê a bola ser desviada por Marko
Rehmer, subir e ressaltar para a zona do segundo poste. Na disputa do esférico,
Sérgio
Conceição acertou na bola de cabeça e faz golo. Já Oliver Kahn, mais
atrasado, acertou em Conceição,
fazendo-lhe uma autêntica placagem. O extremo português nem festejou o golo,
parecendo estar mais à procura de saber onde estava e o que lhe tinha
acontecido do que propriamente feliz por ter colocado a equipa das quinas em
vantagem.
No início da segunda parte, Sérgio
Conceição recebeu um passe de Capucho no corredor direito e, embora tivesse
recebido a bola em condições difíceis, teve tempo e espaço para dar vários
toques no esférico de forma a dominá-la e coloca-la a jeito. Depois foi
fletindo para o meio, tirou Dietmar Hamann do caminho com uma facilidade
incrível e rematou de pé esquerdo para o fundo das redes, fazendo a bola passar
por entre as pernas de Oliver Kahn. Ao sofrer um golo destes, Kahn passou a ser
um frangueiro aos meus olhos, imaginem que mudou por completo na minha cabeça
depois de o ver ajudar o Bayern
Munique a vencer a Liga dos Campeões em 2001 e a Alemanha
a chegar à final do Mundial 2002.
Aos 71 minutos, Capucho voltou a
descobrir Sérgio
Conceição na direita. E o extremo voltou a ter espaço para progredir e
tornou a bater Kahn, completando assim o hat
trick.
Na crónica do Maisfutebol,
esse conhecido portal desportivo alemão, preferiu focar-se no fim de ciclo
daquela geração germânica do que na exaltação do que o então jogador da Lazio
tinha acabado de fazer. “O Estádio de Kuip, em Roterdão, foi palco de um
momento histórico do futebol europeu. A vitória de Portugal (3-0), sobre a
Alemanha, confirma tudo o que de positivo se escreveu sobre o futebol-champanhe
da seleção nacional após o jogo
com a Inglaterra e, ao mesmo tempo, marca um estrondoso fim de ciclo. Aquele em que a Alemanha, por direito
próprio, era candidato à vitória em qualquer competição onde entrasse. O 150.º
jogo de Lothar Matthäus pela sua seleção será também, com toda a probabilidade,
o último. E a forma como a sua seleção foi humilhada (Ribbeck dixit) pelo carrossel de passes
português mostra bem a dimensão da crise de um gigante que adormeceu durante
demasiado tempo. Essa Alemanha, poderosa e ameaçadora, acompanhou Matthäus
durante 20 anos e despediu-se (até quando?) juntamente com o seu antigo
capitão. Se fosse preciso escolher um lance para simbolizar a dimensão dessa
queda, de entre o autêntico vendaval de técnica que, especialmente na segunda
parte, pôs a nu a tremenda falta de ideias dos alemães, bastaria aquele túnel
que Capucho fez a Matthäus, no início de um contra-ataque que por pouco não deu
golo. Entre a facilidade quase arrogante do criativo português e o peso de 20
anos de história do futebol moderno nas pernas do velho 10, os deuses do
futebol fizeram a sua escolha. E o público de Roterdão assistiu a tudo, num
êxtase de olas e palmas a compasso”, podia ler-se na crónica do jogo.
Em alguns dos grandes torneios
que se seguiram, Portugal e Alemanha voltaram a medir forças, assistindo-se a
um certo regresso à normalidade: vitórias da Die Mannschaft nos Mundiais 2006 (3-1) e 2014 (4-0) e nos Europeus
de 2008 (3-2) e 2012
(1-0).
E para o caro leitor, qual é o primeiro jogo entre Portugal e Alemanha de que tem memória? E quais foram as melhores e mais marcantes jogos de sempre entre as duas seleções?
primeira memoria os 4 a zero aqueles ta a ver amigo david .
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