sexta-feira, 18 de junho de 2021

A minha primeira memória de… um jogo entre Portugal e Alemanha

Sérgio Conceição no jogo da sua vida frente à Alemanha em 2000
Imaginem um miúdo de oito anos que tinha começado a ver futebol há pouco mais de um mês, não sabia nada de nada sobre a história da modalidade e, de repente, vê os suplentes de Portugal, já com o apuramento confirmado para a próxima fase, ganhar por 3-0 a uma Alemanha que assim ficou em último lugar do seu grupo. Aos meus olhos, comecei a imaginar a Alemanha com um nível futebolístico semelhante ao que hoje se pode atribuir à Letónia ou ao Liechtenstein.
 
Só algum tempo depois, quando comecei a folhear livros, revistas e jornais, é que me apercebi que do outro lado estava a ALEMANHA, uma potência mundial também no futebol e que era, por exemplo, a detentora do título europeu.
 
Nessa partida, acho que ouvi falar de alguns jogadores portugueses pela primeira vez, como os guarda-redes Pedro Espinha e Quim, o médio Paulo Sousa ou o avançado Pauleta. Já não me lembro se já tinha ouvido falar de Sérgio Conceição, mas uma coisa é certo: não mais esqueci esse nome nem do que fez naquela noite de 20 de junho de 2000 em Roterdão.
 
Já a Alemanha, sempre poderosa independentemente da geração, apresentava em campo quatro campeões europeus de 1996: Oliver Kahn, Mehmet Scholl, Marco Bode e, a partir do banco, Thomas Hassler. E um de 1980, que tinha sido também campeão mundial e Bola de Ouro em 1990: Lothar Matthäus.
 
Mas Portugal ganhou e começou a construir essa vitória ao minuto 34. Pauleta, ao tentar fazer um cruzamento rasteiro em esforço a partir da esquerda, vê a bola ser desviada por Marko Rehmer, subir e ressaltar para a zona do segundo poste. Na disputa do esférico, Sérgio Conceição acertou na bola de cabeça e faz golo. Já Oliver Kahn, mais atrasado, acertou em Conceição, fazendo-lhe uma autêntica placagem. O extremo português nem festejou o golo, parecendo estar mais à procura de saber onde estava e o que lhe tinha acontecido do que propriamente feliz por ter colocado a equipa das quinas em vantagem.
 
No início da segunda parte, Sérgio Conceição recebeu um passe de Capucho no corredor direito e, embora tivesse recebido a bola em condições difíceis, teve tempo e espaço para dar vários toques no esférico de forma a dominá-la e coloca-la a jeito. Depois foi fletindo para o meio, tirou Dietmar Hamann do caminho com uma facilidade incrível e rematou de pé esquerdo para o fundo das redes, fazendo a bola passar por entre as pernas de Oliver Kahn. Ao sofrer um golo destes, Kahn passou a ser um frangueiro aos meus olhos, imaginem que mudou por completo na minha cabeça depois de o ver ajudar o Bayern Munique a vencer a Liga dos Campeões em 2001 e a Alemanha a chegar à final do Mundial 2002.
 
Aos 71 minutos, Capucho voltou a descobrir Sérgio Conceição na direita. E o extremo voltou a ter espaço para progredir e tornou a bater Kahn, completando assim o hat trick.
 
Na crónica do Maisfutebol, esse conhecido portal desportivo alemão, preferiu focar-se no fim de ciclo daquela geração germânica do que na exaltação do que o então jogador da Lazio tinha acabado de fazer. “O Estádio de Kuip, em Roterdão, foi palco de um momento histórico do futebol europeu. A vitória de Portugal (3-0), sobre a Alemanha, confirma tudo o que de positivo se escreveu sobre o futebol-champanhe da seleção nacional após o jogo com a Inglaterra e, ao mesmo tempo, marca um estrondoso fim de ciclo.  Aquele em que a Alemanha, por direito próprio, era candidato à vitória em qualquer competição onde entrasse. O 150.º jogo de Lothar Matthäus pela sua seleção será também, com toda a probabilidade, o último. E a forma como a sua seleção foi humilhada (Ribbeck dixit) pelo carrossel de passes português mostra bem a dimensão da crise de um gigante que adormeceu durante demasiado tempo. Essa Alemanha, poderosa e ameaçadora, acompanhou Matthäus durante 20 anos e despediu-se (até quando?) juntamente com o seu antigo capitão. Se fosse preciso escolher um lance para simbolizar a dimensão dessa queda, de entre o autêntico vendaval de técnica que, especialmente na segunda parte, pôs a nu a tremenda falta de ideias dos alemães, bastaria aquele túnel que Capucho fez a Matthäus, no início de um contra-ataque que por pouco não deu golo. Entre a facilidade quase arrogante do criativo português e o peso de 20 anos de história do futebol moderno nas pernas do velho 10, os deuses do futebol fizeram a sua escolha. E o público de Roterdão assistiu a tudo, num êxtase de olas e palmas a compasso”, podia ler-se na crónica do jogo.
 
 
Em alguns dos grandes torneios que se seguiram, Portugal e Alemanha voltaram a medir forças, assistindo-se a um certo regresso à normalidade: vitórias da Die Mannschaft nos Mundiais 2006 (3-1) e 2014 (4-0) e nos Europeus de 2008 (3-2) e 2012 (1-0).
 
   




  




 





E para o caro leitor, qual é o primeiro jogo entre Portugal e Alemanha de que tem memória? E quais foram as melhores e mais marcantes jogos de sempre entre as duas seleções?

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