Carlitos está no Alverca desde o início da temporada |
A viver uma época atribulada no Alverca,
Carlitos integra a equipa que lidera a Série F do Campeonato
de Portugal, mas problemas físicos e a covid-19
não lhe têm permitido jogar tanto quanto desejaria.
Em entrevista, o lateral direito
internacional angolano
fala das diferenças entre jogar num sistema de três centrais e num de quatro
defesas, da infância numa aldeia de Vale de Cambra, da morte de Alex Apolinário,
do antigo companheiro de equipa Pizzi, da possibilidade de voltar a jogar pelos
Palancas
Negras e dos três campeonatos que ganhou em oito anos no Girabola.
O Carlitos esta temporada realizou até ao momento oito jogos e marcou
um golo na Série F do Campeonato
de Portugal. Como tem estado a correr a época em termos individuais e
coletivos?
Em termos individuais não está a
ser das melhores épocas. Com alguns percalços pelo meio: uma lesão e covid-19. Em termos coletivos estamos dentro das
expectativas e tudo se vai decidir nas últimas jornadas.
Tendo em conta que é um lateral que também pode atuar como extremo, sente que o sistema de três centrais é
um sistema que mais beneficia as suas características? O que um sistema com
três centrais muda nas suas funções em campo?
Sim, de facto é um sistema que
vai de encontro às minhas características ofensivas. O sistema de três
centrais, permite aos alas serem muito mais ofensivos e com menos tarefas
defensivas, não deixando de as ter, claro.
O Alverca
já desde a época passada que persegue a subida à II
Liga e tem sido um dos clubes que mais tem investido para concretizar esse
objetivo. Como tem sido viver sob esta pressão e a luta titânica com o Torreense
pelo primeiro lugar?
Desde o início da época já projetávamos
que iria ser o Torreense
o nosso maior rival, dado ao investimento que também realizou. É a pressão que
todos gostamos de sentir. A pressão de ter de se ganhar todas as semanas.
O Alverca
é um clube histórico português, que participou cinco vezes na I
Liga. É um peso extra representar um emblema que já esteve entre a elite
do futebol português?
Não considero um peso extra, considero
um motivo de orgulho, algo que também vivi na época passada no Olhanense.
“Morte de Alex Apolinário fez-me dar mais importância às coisas simples da vida”
Recentemente uma tragédia abalou o plantel do Alverca,
a morte de Alex Apolinário. Como é que tem digerido a perda de um companheiro
de equipa e o que este trágico acontecimento fez mudar na forma como olha para
a vida?
Tenho digerido da melhor maneira
possível. Sendo algo que me vai acompanhar para o resto da vida, fez-me dar
mais importância às coisas simples da vida, porque hoje estamos aqui, mas
amanhã podemos não estar.
Voltemos atrás no tempo. Nasceu em Vale de Cambra, no distrito de
Aveiro, mas tem raízes angolanas.
Fale-nos um pouco de si, como foi a sua infância e quando é que a bola entrou
para a sua vida…
Tive a infância normal de uma
criança que cresceu numa aldeia perto de Vale de Cambra: escola de manhã e
jogar futebol com os amigos a tarde toda.
Desde que me lembro, o futebol
sempre fez parte da minha vida, mas só comecei a jogar futebol federado aos 14
anos na Oliveirense,
até lá sempre joguei em torneios de Verão e na escola.
“Só posso ter boas recordações da Oliveirense. Pedro Miguel fez de mim jogador”
Carlitos ajudou Oliveirense a subir à II Liga em 2008 |
O Carlitos fez toda a formação e iniciou a jogar na categoria de
seniores com a camisola da Oliveirense.
Que memórias guarda desses tempos? Em 2008 participou na subida à II
Liga…
Guardo ótimos momentos. Logo no
primeiro ano de sénior conseguir a subida á II
Liga, mesmo não tendo jogado tanto quanto pretendia só posso ter boas
recordações.
Na equipa principal da Oliveirense
foi orientado por Pedro Miguel, que passou grande parte da última década e meia
no comando técnico da formação de Oliveira
de Azeméis. Que impacto é que ele teve na sua carreira e como vê esta rara
longevidade à frente de uma equipa?
O Pedro Miguel é um treinador a
quem vou estar sempre agradecido. Foi alguém que fez de mim jogador. A fase de
transição de júnior para sénior é a fase mais difícil para um jovem e o Pedro
Miguel apostou em mim. A carreira que consegui muito se deve a ele.
O caso de longevidade do Pedro
Miguel na Oliveirense
é algo que não me surpreende. Se repararem, as duas últimas subidas do clube à II
Liga foram com o Pedro Miguel. É um técnico bastante competente e algo que
me admira é nunca ter tido oportunidade de treinar uma equipa de I
Liga.
“No Paços, Pizzi já mostrava ter muita qualidade”
Carlitos num jogo da Taça UEFA ao serviço do Paços |
Da Oliveirense
saltou para o Paços
de Ferreira, clube pelo qual jogou na I
Liga e na Taça
UEFA. Como surgiu o convite e que balanço faz do ano que passou na Capital
do Móvel?
O convite surgiu através de um
empresário com o qual trabalhei durante quatro anos. Faço um balanço bastante
positivo. Na primeira época na I
Liga acabei por realizar 23 partidas e jogar na Taça
UEFA, são experiências que vou guardar para sempre.
No Paços
de Ferreira foi companheiro de equipa de Pizzi, hoje internacional
português e uma das figuras do Benfica.
Como era ele na altura? Esperava que atingisse um nível tão elevado?
Já na altura mostrava ter muita
qualidade e maturidade para a idade que tinha e foram-lhe dadas as
oportunidades que precisava para confirmar todo o potencial.
Em pouco mais de um ano passou por II Divisão B, II
Liga e I
Liga. Sentiu uma grande diferença entre os vários patamares competitivos?
Sim, há uma diferença enorme e requer
tempo de adaptação.
Primeiro ano inesquecível em Angola
Carlitos com a camisola do Recreativo Libolo |
Em 2012 decidiu prosseguir carreira em Angola.
O que o motivou a tomar essa decisão?
O projeto era poder lutar por
títulos, conhecer o país de onde a minha mãe é natural e o fator financeiro,
que na nossa carreira é bastante importante.
Logo no ano de estreia em Angola,
ao serviço do Recreativo Libolo, tornou-se internacional angolano
e venceu o Girabola
sob o comando técnico de Zeca Amaral. Imaginamos que tenha sido uma época
inesquecível…
Não podia pedir melhor, no primeiro
ano em Angola
ser campeão apenas com uma derrota e chegar a internacional angolano.
Em seis anos no Recreativo Libolo, sagrou-se campeão nacional por três
vezes. Que balanço faz do tempo que passou no clube e qual foi a importância
que o emblema do Calulo teve para si?
Faço um balanço bastante
positivo. Fui muito feliz no Recreativo do Libolo e só tenho palavras elogiosas
para todas as pessoas da direção e colegas que trabalharam comigo ao longo dos seis
anos.
Em 2018 assinou pelo Bravos do Maquis e meio ano depois pelo
Interclube. O que o levou a mudar de ares e como correram ambas as
experiências?
Assinei pelo Bravos do Maquis a
convite do técnico Zeca Amaral, era um projeto ambicioso. Senti dificuldades de
adaptação à província e aí surgiu o convite do Interclube e achei que seria o
melhor para mim. No Interclube a expectativa era voltar a ser campeão nacional,
mas as coisas não correram como o esperado e aí decidi voltar para Portugal.
Em sete anos em Angola,
quais foram as melhores memórias que guardou?
As melhores memórias são o
primeiro campeonato ganho em 2012 e a primeira internacionalização pela seleção
nacional de Angola.
“Fiquei com uma impressão muito boa do Olhanense. Estávamos dentro dos objetivos propostos”
Carlitos representou o Olhanense em 2019-20 |
No verão de 2019 regressou a Portugal pela porta do Olhanense. O que o fez voltar?
A principal razão para regressar
foi a família, sentia que o meu tempo em Angola
a nível desportivo tinha terminado. Já tinha feito tudo que era possível e
precisava de algo novo.
Que balanço fez da sua passagem pelo histórico emblema
algarvio e com que opinião ficou do clube?
Faço um balanço positivo a nível
individual e coletivo estava tudo dentro dos objetivos traçados, fiquei com uma
impressão bastante boa do clube como das pessoas com quem trabalhei.
Aos 32 anos, quais são as suas ambições que ainda o movem no futebol?
As ambições que ainda me movem
são o querer ganhar e querer sempre melhor. Para no dia em que terminar não
olhar para trás e dizer que podia ter feito melhor aqui ou ali. E o prazer que
ainda sinto que é imenso.
“Estou sempre disponível para a seleção angolana”
Carlitos em ação pela seleção angolana |
Somou cinco internacionalizações pela seleção
angolana, todas entre 2012 e 2015. O que sentiu quando ouviu pela primeira
vez o hino?
Uma emoção enorme e o concretizar
de um objetivo.
O que falhou para não ter somado mais internacionalizações nem
participado em nenhuma fase final de uma Taça
das Nações Africanas?
Acho melhor não responder.
Tem o desejo de voltar à seleção?
Não considero um desejo porque já
lá estive e neste momento a seleção está bem servida com os laterais direitos
disponíveis. Mas estou sempre disponível se o selecionador entender chamar.
Quais são as principais diferenças entre o futebol português e o angolano?
Com que patamar competitivo em Portugal se compara o Girabola?
As grandes diferenças entre
futebol português e o angolano
é a intensidade e taticamente. O Girabola
tem quatro ou cinco equipas que conseguiriam competir na II
Liga sem qualquer tipo de problema.
Continua a acompanhar o futebol
angolano? Como analisa o nível e qualidade no Girabola
e da seleção
angolana?
Continuo a
acompanhar, tenho lá imensos amigos ainda. O nível do Girabola
nos últimos anos tem vindo a decair devido às dificuldades financeiras que o
país atravessa. A nível de seleção
tem jogadores para fazer melhores resultados do que os que tem tido
ultimamente, mas é preciso dar tempo ás pessoas para se organizarem e
trabalharem com tranquilidade.
Entrevista realizada por Rui Coelho
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