Cristiano Ronaldo e Léo disputam a bola no Estádio da Luz |
Se também contabilizarmos jogos particulares,
recordo-me vagamente de o Benfica
ter defrontado Liverpool e Aston Villa na pré-época de 2000-01 e o Chelsea
de José
Mourinho e o West Bromwich na de 2005-06. Mas se tivermos apenas em conta
encontros oficiais, os primeiros de que tenho memória remontam aos derradeiros
meses de 2005, quando as águias
defrontaram duas vezes o Manchester United na fase de grupos da Liga
dos Campeões.
Campeão português em título, o Benfica
era orientado pelo holandês Ronald Koeman e, embora tivesse perdido o habitual
titular Miguel no verão, havia reforçado a equipa com o central Anderson, os
laterais Nélson e Léo, o médio Beto e o avançado Miccoli.
Já os red devils, comandados pelo eterno Alex
Ferguson, estavam em processo de renovação. Gary Neville, Ryan Giggs e Paul
Scholes eram os principais resistentes da equipa campeã europeia de 1999, mas
era o sangue novo de Cristiano
Ronaldo e Wayne Rooney que dava que falar. Na altura, ambos tinham apenas
20 anos.
À entrada para o primeiro duelo
entre as duas equipas, em Old Trafford, o Benfica
liderava o grupo com três pontos. O Manchester United tinha apenas um, tal como
o Villarreal – e o Lille ainda não tinha pontuado.
No teatro dos sonhos, Ryan Giggs
inaugurou o marcador aos 39 minutos, na execução de um livre direto no qual a
bola ainda desviou na barreira antes de entrar na baliza de Moreira. No segundo
tempo, Simão Sabrosa respondeu na mesma moeda, batendo Van der Sar na
transformação de um livre (59’). Empatar num dos palcos mais míticos do futebol
mundial parecia possível para as águias,
mas um golo de Van Nistelrooy já nos derradeiros minutos (85’), após um canto
apontado a partir da direita, deu a vitória aos ingleses.
“O Benfica
desperdiçou uma soberana oportunidade de alterar a história e, principalmente,
de dar um passo de gigante rumo à fase seguinte da Liga
dos Campeões, tendo perdido em Old Trafford um confronto que não quis
ganhar. Confuso? Nem por isso, especialmente se recordarmos a atitude dos
jogadores encarnados
até perto do minuto 70 – foram cínicos, pragmáticos e ambiciosos até ao momento
em que Simão viu Van der Sar evitar aquele que seria o segundo golo encarnado
(e também o número dois do capitão de equipa.)”, podia ler-se na crónica do
jornal O Jogo, assinada por Ricardo
Lemos, que anos depois passou a integrar o departamento de comunicação do Benfica.
Os dois conjuntos voltaram a
medir forças na derradeira jornada, para a qual partiram com todos os cenários em
aberto, num grupo bastante embrulhado, liderado pelos espanhóis do Villarreal
(sete pontos), seguidos de perto por Manchester United, Lille (ambos com seis)
e Benfica
(cinco). Ou seja, todos podiam sonhar e quase todos podiam ficar fora da
Europa.
Embora as águias
jogassem em casa, os red devils eram
os favoritos e até abriram o ativo logo aos seis minutos, por intermédio de
Paul Scholes, após cruzamento rasteiro de Gary Neville a partir da direita. No
entanto, o Benfica
galvanizou-se e deu a volta ao resultado. Primeiro foi Geovanni a marcar, mergulhando
para cabecear uma bola cruzada por Nélson pelo lado direito (16’). Depois foi a
vez do improvável Beto, através de um disparo forte de fora da área que ainda
desviou em Scholes (34’).
O jogo também ficou marcado por
um incidente envolvendo Cristiano
Ronaldo, que se deixou perturbar pelas vaias das bancadas da Luz e mostrou
o dedo do meio aos adeptos benfiquistas
quando foi substituído.
“Há muito que o epíteto Glorioso,
adquirido no tempo em que o Benfica
dominava a Europa a seu bel-prazer, não era digno de ser empregue. Perante um
adversário mais poderoso, os encarnados
mereceram na plenitude o adjetivo. O Benfica
não chorou os ausentes – e quem se terá lembrado deles? –; não se intimidou com
as estrelas do Manchester; não receou contrariar a história, que registava uma
total ausência de vitórias sobre os red
devils em jogos oficiais, e correspondeu ao apelo da sua maior glória. ‘Joguem
com concentração, alma e paciência. Não quero que vinguem os 4-1, mas deem tudo
pelo triunfo e façam história rapazes’, havia pedido Eusébio. A história foi
mesmo feita. O Benfica,
contra a lógica, mas graças a uma atitude de campeão, permanece na Liga milionária,
e empurrou para a vergonha o Manchester, que há dez anos não era afastado nesta
fase das provas europeias”, escreveu o Diário
de Notícias.
Quis o destino que nos oitavos de
final o Benfica
voltasse a defrontar uma equipa inglesa, o então campeão europeu Liverpool.
Embora os reds fossem claros
favoritos, as águias
venceram na Luz por 1-0, na primeira-mão, graças a um golo de Luisão, na
sequência de um livre apontado por Petit.
E no jogo de Anfield, o Benfica
silenciou os ruidosos adeptos do Liverpool com dois golos espetaculares. Depois
de Simão ter inaugurado o marcador com um remate colocadíssimo aos 36 minutos,
Miccoli fez o 0-2 através de um gesto acrobático já nos derradeiros instantes
(89’).
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