Álvaro Mendes estreou-se no ACRUT Zambujalense com uma vitória |
De regresso ao ativo, o treinador
luso-angolano
Álvaro
Mendes aceitou o convite do presidente do ACRUT Zambujalense, que é seu
amigo, e assumiu o comando técnico da equipa sénior, que espera potenciar e
ajudar a colocar na I
Distrital da AF Setúbal.
ROMILSON TEIXEIRA - O Álvaro Mendes entrou com o pé direito no comando técnico do ACRUT Zambujalense, com uma vitória na receção ao Trafaria, naquele que foi o primeiro triunfo da equipa na II Distrital da AF Setúbal. Que balanço faz das primeiras semanas de trabalho?
ÁLVARO MENDES - Muito satisfeito. É um plantel com muita juventude, que claramente quer evoluir para poder ir para outros campeonatos. A juntar a isso a vitória e uma muito boa exibição no primeiro jogo.
Exato. Um jogador nosso testou positivo.
Creio que neste momento preferia que o campeonato não tivesse parado. Os jogadores estão muito moralizados com a exibição e estão muito ansiosos para dar continuidade à nossa recuperação no campeonato.
Sinceramente, não estava nos meus planos treinar esta época, por razões óbvias, no entanto, quando recebi o telefonema e o presidente me abordou, dizendo “mister, preciso da sua ajuda”, tendo nós uma relação de amizade de alguns anos eu não tinha como dizer que não. Obviamente que o facto de conhecer alguns jogadores que foram meus jogadores no Sesimbra também pesou na decisão.
Álvaro Mendes no Sesimbra em 2018 |
É um clube de gente séria, com boas condições de trabalho, mas claramente precisa que a sua estrutura aumente a sua ambição para sonhar com outros voos.
Potenciar os seus atletas individualmente e consequentemente construir uma equipa forte taticamente e mentalmente para num futuro o mais próximo possível sonhar com uma subida de divisão.
As minhas equipas são normalmente equipas muito agressivas na conquista da bola e de muita criatividade quando estão em posse. Sou um treinador que privilegia o espetáculo, não gosto de jogar só para o resultado. Mas atenção, respeito quem o faça, cada um com o seu estilo.
Nasci em Angola, mas vim para Portugal com dois anos e dividi a minha infância entre a Costa da Caparica e o Barreiro. Foi difícil virmos sem nada para Portugal e a minha mãe sozinha ter de criar quatro filhos. Foi complicado, mas sinceramente não tínhamos nada, mas tínhamos tudo, pois éramos muito unidos e como não havia dinheiro para brinquedos passávamos muito tempo na rua e, como costumo dizer, a escola da rua acelera e muito o nosso crescimento enquanto homens e ao mesmo tempo cria amizades para o resto da vida.
Acho que desde pequeno que tinha a doença da bola, mas quando cheguei ao Barreiro um dia um amigo meu disse que me iria levar a um clube chamado Vila Chã para treinar. Eu tinha 11 anos, tudo correu bem e a partir daí nunca mais parei.
“Parte do Barreirense morreu com a demolição do D. Manuel de Mello”
Álvaro Mendes jogou pelo Barreirense entre 1990 e 2001 |
Como jogador fez quase toda a carreira no Barreirense,
na altura na II Divisão B. Quais são as principais recordações desse tempo?
Recordações maravilhosas. Aquilo
não era um grupo, era uma família em que tive o privilégio de ser capitão
durante muitos anos e onde me fiz homem. Quero aproveitar a oportunidade para
agradecer a todos os momentos maravilhosos que me proporcionaram.Muitas saudades era um estádio mítico, sempre com muita gente. Creio que parte do Barreirense morreu com a sua demolição.
Falo com todos, uns com mais regularidade que outros, o que é normal, mas quando estamos juntos é uma alegria. Como disse, aquilo era uma família e alguns de nós já jogávamos juntos desde crianças.
“Paulo Fonseca ainda vai chegar a um patamar mais alto”
Paulo Fonseca e Álvaro jogaram juntos entre 1990 e 1995 |
O nome mais mediático dos que foram referidos acima foi Paulo
Fonseca, atual treinador da AS Roma. Ele como jogador já dava a entender
ser particularmente interessado pelas questões táticas? Como tem visto a
carreira dele?
O Paulo
e eu tínhamos uma relação muito próxima, porque já nos conhecíamos desde os 11
anos e a nossa vida era quase exclusivamente futebol. Portanto, não é de
estranhar que ele tivesse seguido a carreira de treinador e graças a Deus tem
tido sucesso. Creio que ainda vai chegar a um patamar mais alto, até porque é
um bom homem e merece.Eu cheguei ao Luso dois anos depois de ter deixado de jogar, mas o treinador era meu amigo e pediu para lhe ir ajudar. Foi como se tivesse voltado a jogar por prazer, sem a pressão do profissionalismo, e tive um prazer enorme em representar aquele humilde clube. Quanto ao campo, estava muito velhinho, mas ainda hoje passo naquele lugar e sinto uma enorme nostalgia.
Não, infelizmente tenho outra atividade.
Eu e o Rui falamos praticamente todos os dias e somos grandes amigos. Numa determinada altura fui convidado para assumir uma equipa e a partir daí nunca mais se proporcionou voltar a estarmos juntos, mas nunca se sabe. Em relação à minha carreira, acho que tenho ajudado alguns jogadores a crescer e isso para mim já é uma vitória. Também tenho noção que comecei muito tarde, mas fi-lo conscientemente por um desígnio maior, poder acompanhar o meu filho na sua carreira. Voltava a fazer tudo igual, valeu a pena.
“Na minha altura não eram convocados jogadores de fora de Angola…”
Álvaro Mendes (em baixo, à direita) como capitão do Barreirense |
Ainda como futebolista, o Álvaro
jogou ao lado do Kali, que haveria de se tornar internacional
angolano e até esteve no Mundial 2006. Na altura em que o Álvaro jogava, a seleção
angolana dava os primeiros passos em fases finais da CAN.
Alguma vez foi abordado pela Federação
Angolana no sentido de jogar pelos Palancas
Negras?
Creio que na fase em que eu tinha
condições para representar a seleção, a Federação
Angolana não convocava jogadores de fora de Angola,
por isso naturalmente nunca fui convidado.Estive em Angola em 2014 a trabalhar. Infelizmente não pude ir conhecer a localidade onde nasci.
Claro que sim, o futebol é universal, ainda por cima na terra onde nasci, e porque também tenho algum conhecimento pelo tempo que o meu filho esteve no Libolo. E, claro, porque já falei muitas vezes com o Kali sobre o futebol angolano.
O futebol angolano tem jogadores de muita qualidade, tem paixão e hoje já tem boas infraestruturas. Creio que, continuando a melhorar na organização, no curto prazo pode ser uma das principais potências em África.
O Pedro têm tido uma carreira de altos e baixos, mas também tem tido o mérito de ter conquistado tudo com o seu trabalho e muito a pulso. Está hoje mais maduro e creio que vai ter muito sucesso na Ásia, aliás, como já está a ter. Os conselhos de hoje são os mesmos de sempre: humildade, seriedade, respeito e muita fé em Deus para o futebol e para a vida.
Gostava e não percebo porque é que nunca foi chamado, sinceramente seria uma mais-valia para a seleção.
Infelizmente esta pandemia apanhou o mundo de surpresa e vai deixar marcas por muitos anos. Mas temos que continuar a lutar, a vida é assim mesmo. Quanto às máscaras, é óbvio que quando vejo pessoas sem máscara procuro não me aproximar e lamento que ainda apareçam pessoas a desvalorizar um vírus que já foi o causador da morte de milhões de pessoas.
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