Era preciso ter acontecido algo
de muito especial para me recordar de um jogo entre Sevilha e Maiorca com mais
de 15 anos. Na verdade, não vi o jogo nem me lembrava do resultado, tampouco da
temporada.
Só me recordava de um incidente chocante,
que envolveu o médio venezuelano do Maiorca, Juan Arango, e do defesa central
do Sevilha, Javi Navarro. O jogador dos andaluzes atingiu o médio dos
maiorquinos com uma violenta cotovelada que fez Arango ficar inconsciente, com parte
do rosto fraturado, severos cortes na cara, a língua engolida e afastado dos
relvados durante um mês. Foi este momento que retive durante o Jornal da Tarde da RTP 1 no dia seguinte, 21 de março de 2005, a contar para a 29.ª
jornada da I
Liga espanhola.
Chegou a temer-se o pior no Estádio
Son Moix, em Palma de Maiorca. Após o choque, os jogadores de Maiorca e Sevilha
pediram rapidamente a presença de um médico e só depois de alguns minutos de
incerteza é que o médio venezuelano conseguiu respirar normalmente. “O jogador
sofreu uma paragem respiratória, não perdeu o pulso, mas a vida dele está em
perigo”, disse o médico do Maiorca, dr. Joan Pericás, à Cadena SER.
Perante este cenário, a esposa do
venezuelano, que estava na bancada a assistir à partida, desceu ao balneário,
onde chorou, até pela falta de informações sobre o estado de saúde do marido.
Arango foi transferido para uma
unidade de cuidados intensivos, onde chegou sedado e com baixo nível de
consciência e ventilação espontânea, tendo necessitado de um ventilador. Testes
de diagnósticos revelaram uma fratura do malar superior direito e uma ferida
contundente no lábio superior direito. Por essa altura, ainda não se sabia se
Arango estava fora de perigo.
Inconsolável pelo que tinha feito
a um companheiro de profissão, Javi Navarro foi até à Policlínica onde Arango
estava internado para a visitar.
Três dias depois da agressão,
Arango abandonou a clínica. “Quando acordei não sabia onde estava”, contou o
jogador, que recebeu 40 pontos no lábio, enquanto Navarro levou cinco jogos de
castigo.
O médio venezuelano voltou aos
relvados cerca de 40 dias depois, a 1 de maio, e logo com um golo numa vitória
em casa sobre o Espanyol (3-2). E não só recuperou totalmente como ainda fez
uma carreira bastante digna, tendo passado cinco anos na I
Liga espanhola ao serviço do Maiorca e outros tantos na Bundesliga
com a camisola do Borussia Mönchengladbach.
Voltando atrás no tempo, no jogo
do choque entre Navarro e Arango o Sevilha venceu no terreno do Maiorca por
1-0, com um golo solitário do brasileiro Júlio Baptista aos 47 minutos, na
conversão de uma grande penalidade.
Nos maiorquinos, num bastante
incómodo 18.º lugar no campeonato
espanhol, atuavam jogadores como o guarda-redes Miguel Ángel Moyá, o defesa
internacional italiano Mark Iuliano, o médio defensivo internacional uruguaio Gonzalo
de los Santos, o médio brasileiro Felipe Melo, os médios internacionais espanhóis
Luis García e Javier Farinós e o avançado internacional argentino Bernardo
Romeo.
Já o Sevilha de Joaquín Caparrós,
que ocupava o sexto lugar, estava a construir a equipa que viria a vencer por
duas vezes consecutivas a Taça UEFA nos anos seguintes, fazendo alinhar nesse
encontro nomes como Sergio Ramos, os brasileiros Adriano e Dani Alves e o
avançado internacional português Makukula.
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