O homem que deu a Taça das Taças ao Sporting… de canto direto. Quem se lembra de João Morais?
João Morais somou 260 jogos e 69 golos de leão ao peito
O futebol português está
habituado a viver os seus momentos áureos envoltos em nota artística. Eusébio
sentenciou a vitória no Benfica
na final da Taça
dos Campeões Europeus em 1961-62 de livre direto, Madjer
deu o título europeu ao FC
Porto em 1986-87 de calcanhar, Éder fez a seleção
nacional ganhar o Euro 2016 através de um remate de fora da área e João
Morais deu a Taça das Taças ao Sporting
em 1963-64 na execução de um canto direto.
O feito, que ficou conhecido como
“Cantinho do Morais”, daria ainda origem a uma canção, com o mesmo nome,
popularizada pela cantora sportinguista
Maria José Valério. Mas a carreira de João Morais não
se limitou a esse momento de génio. Nascido em Alcabideche, no concelho de
Cascais, deu nas vistas ao serviço do Sporting… de Alcabideche, ao serviço do
qual já jogava pela equipa principal aos 14 anos. De lá saltou para as camadas
jovens do Estoril,
onde confirmou que era um jogador talhado para os principais emblemas
nacionais. Uma década antes do canto direto que
deu a vitória sobre o MTK Budapeste em Antuérpia, protagonizou um momento
polémico, ao assinar por dois clubes na mesma altura, primeiro com o Caldas,
que lhe acenou com um bom contrato, e depois com o… Benfica,
por pressão do Estoril,
que já tinha acertado tudo com os encarnados
para a transferência.
Foi suspenso por um ano, mas viu
a pena ser reduzida para metade, ficou com o passe na mão e assinou pelo Torreense,
tendo ajudado a equipa da região Oeste a chegar à final da Taça
de Portugal em 1955-56. Valorizado pelos bons
desempenhos, transferiu-se para o Sporting
em 1958, na altura para jogar como extremo esquerdo sob a orientação do
uruguaio Enrique Fernández. Entretanto, o peruano Juan Seminário adaptou-o pela
primeira vez a posições mais recuadas, algo de que não gostava, e acabou por
perder espaço. Porém, a chegada de Juca levou-o novamente
para o lado esquerdo do ataque, com Morais a responder com golos: 19 em 1961-62,
época de conquista do título nacional, e 24 em 1962-63, temporada na qual os leões
venceram a Taça
de Portugal. Em 1963-64 voltou a ser adaptado
a lateral e disputou a final da Taça das Taças como defesa esquerdo, em
substituição do lesionado Hilário e com a missão de marcar o perigoso Sandor. O
empate a três golos em Bruxelas fez com que fosse marcada uma finalíssima para
dois dias depois, noutra cidade belga, Antuérpia, e aí Morais voltou a subir no
terreno e a atuar como extremo esquerdo, devido à lesão do brasileiro Bé, e teimou
com o treinador Anselmo Fernández para ser ele a bater os cantos. Aos 19
minutos, o Sporting
teve um canto a favor sobre o lado esquerdo, Morais pegou na bola e meteu-a,
dali, no interior da baliza do MTK Budapeste, estabelecendo o 1-0 que haveria
de durar até ao apito final.
Haveria de permanecer em Alvalade
até 1969, tendo conquistado novamente o título de campeão nacional em 1965-66,
mais uma vez em ano de Mundial, uma tradição leonina na altura. Por falar em
Mundial, marcou presença na primeira participação portuguesa num Campeonato do
Mundo, precisamente em 1966, ajudando a equipa
das quinas a alcançar um brilhante 3.º lugar em Inglaterra. Nesse ano foi
distinguido com o Prémio Stromp na categoria Atleta Profissional. Até ao final da carreira jogou
ainda um ano na África do Sul e dois no Rio
Ave. Haveria de continuar radicado em Vila do Conde, onde este
internacional português (dez jogos) permaneceu como treinador das camadas
jovens rioavistas
e como funcionário da Câmara Municipal. Haveria de falecer a 27 de abril
de 2010, aos 75 anos, vítima de doença prolongada.
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