Vítor Paneira representou o Benfica entre 1988 e 1995
Considerado por muitos o melhor
extremo direito do Benfica
depois de José Augusto, Vítor Paneira jogou durante sete épocas de águia ao
peito, tendo conquistado três campeonatos, uma Taça
de Portugal e uma Supertaça
Cândido de Oliveira, tendo ainda participado na caminhada até à final da Taça
dos Campeões Europeus em 1989-90. Também disse presente em jogos míticos
como a vitória sobre o Arsenal
em Highbury
e o triunfo nas Antas com bis de César Brito em 1991 e os 6-3 ao Sporting
e os 4-4 em Leverkusen de 1994.
Jogar com elevada qualidade
técnica e dotado de um cruzamento preciso, nasceu em Vila Nova de Famalicão e
despontou no clube da terra. “Nunca tive escola, como se diz. Comecei a jogar
futebol apenas aos 16 anos, no Riopele,
já como juvenil. No ano a seguir passei para o Famalicão,
enquanto júnior, e uma época depois subi aos seniores. Antes jogava na rua e
jogava futebol de salão. Era isso que me divertia e que gostava de fazer. A
partir do Riopele
achei que devia levar isto a sério e que podia fazer uma carreira no futebol”,
contou ao Maisfutebol
em fevereiro de 2016. Do Famalicão
saiu para o Benfica
em 1987. Os encarnados
emprestaram-no de imediato ao Vizela,
mas no ano seguinte regressou à Luz
para se afirmar em definitivo ao longo de sete temporadas. “Nem pensei duas
vezes, disse logo que ia para o Benfica.
Então assinei com a condição de ficar no Vizela:
foi a contrapartida que o clube quis para me deixar assinar pelo Benfica.
Fiquei um ano por empréstimo. Quando cheguei à Luz,
o Benfica
tinha no plantel 40 ou 50 jogadores profissionais. Era normal, acontecia todos
os anos. Depois, ainda antes da pré-época, eram cedidos a outros clubes 20 e
tal jogadores. Eu pensei que ia ser um desses emprestados. O Toni acabou por
não deixar e fez pressão para que eu ficasse no plantel”, recordou.
“No início eu estava super
inibido e não sabia, por exemplo, onde me sentar nas refeições à mesa. Aquilo
eram mesas de quatro pessoas e havia sempre aqueles jogadores que estavam no
clube já doze, dez, oito anos, que ficavam sempre na mesma mesa. Então quando
saía alguém de uma mesa, era substituído por um novo colega. Felizmente entrei
na mesa do Bento, do Shéu e do Veloso. Foi a minha mesa durante sete anos,
depois fui recolhendo outros novos, como o Paulo Sousa, o João Pinto e outros. O
Veloso e o Bento gostavam de beber um copinho, naquela altura era permitido
beber um copo de vinho ao jantar. Eles pensavam que eu não bebia, porque era
mais novo, e chamaram-me para a mesa deles para ficarem com o meu copo. Mas eu
também bebia e eles ficaram um bocado chateados na altura. ‘Nós a pensar que
este gajo não bebia e afinal ele bebe’”, prosseguiu. Tal como na cantina, Paneira foi
entrando de fininho na equipa, sob o manto protetor da sabedoria de Toni. “Eu
fiz os primeiros jogos com o Sp.
Espinho e o Vitória
de Guimarães no banco, mas entrei em Montpellier, para a Taça
UEFA. Joguei 20 minutos e fiz uma assistência. Depois fomos a Portimão e o
Toni meteu-me de início: para grande surpresa minha fui titular. Ele achava que
ainda não estava preparado para jogar perante 80 ou 90 mil, na Luz,
e meteu-me num jogo fora. O Toni tinha muito essa preocupação: havia jogadores
que ficavam muito inibidos quando jogavam na Luz
e ele tinha a preocupação de os proteger para a carreira deles no Benfica
não ficar comprometida. Depois desse jogo em Portimão, tivemos um jogo em casa
com o Penafiel
e no dia do jogo o Abel Campos, que era o extremo direito, ficou com febre.
Então o Toni perguntou-me se estava em condições de jogar. Eu disse que sim e
joguei. A partir daí fui sempre titular até à minha saída do Benfica”,
afirmou, puxando a cassete atrás. Paralelamente, atrasou-se na
apresentação na tropa, foi julgado como desertor em junho de 1990 e apanhou
quatro meses de prisão, pena que acabou por ser reduzida para metade devido ao
bom comportamento, tendo cumprido 37 dias na Casa de Reclusão do Porto.
Embora ainda fosse bastante útil
na Luz,
saiu para o Vitória
de Guimarães, dispensado por Artur Jorge, numa altura em que o Benfica
atravessava uma grave crise financeira, em meados de 1995, depois de 289 jogos e 44 golos de águia ao peito. “Quando saí do Benfica
recebi propostas do Sporting
e do FC
Porto, chegou a haver conversações, mas depois optei por não ir para nenhum
deles. A minha saída do Benfica
foi complicada, tenho um grande amor ao clube, aquilo mexeu muito comigo, por
isso preferi voltar para casa”, revelou. Quando chegou ao Dom Afonso
Henriques, Paneira tinha apenas 29 anos e foi a tempo de ajudar os vimaranenses
a conseguir façanhas como a eliminação do Parma
de Buffon,
Cannavaro, Thuram e Zola na Taça
UEFA em 1996-97 e a obtenção do histórico 3.º lugar na I
Liga em 1997-98. Na altura, já atuava mais como organizador de jogo do que
propriamente como extremo. Foi na condição de jogador dos minhotos que foi
convocado por António Oliveira para o Euro 1996, mas não chegou a ser
utilizado. “Foram quatro anos fantásticos. Fomos nas quatro épocas à UEFA,
fui duas vezes eleito o melhor jogador do campeonato e fui convocado para o
Euro 1996. Financeiramente perdi, claro, mas compensou porque me senti
realizado no Vitória”,
confessou.
Despediu-se dos relvados com a
camisola da Académica,
clube que representou na II
Liga entre 1999 e 2001. Ao serviço da seleção nacional A
somou 44 internacionalizações e quatro golos.
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