Topê guiou o Alcochetense à conquista da Taça AF Setúbal |
Culminou a “boa época” com a
conquista da Taça AF
Setúbal, depois do quarto lugar que era “possível” no campeonato e do reconhecimento
por parte dos adversários da qualidade e da atratividade do futebol apresentado
pelo Alcochetense.
Em entrevista, o treinador Topê
recorda a caminhada na Taça, revela como está a correr a construção do plantel
e quais são as expectativas para a nova época, que terá como novidade a
participação na Taça
de Portugal, e confessa a desilusão pela forma como saiu do Alverca,
um clube no qual passou quase 20 anos.
DAVID PEREIRA - O Alcochetense
conquistou a Taça AF
Setúbal, competição que já tinha vencido em 2014-15, e alcançou o quarto
lugar no campeonato, depois de uma época pouco conseguida. Que balanço é que
faz da temporada que agora terminou? Foi um desfecho acima das expetativas?
TOPÊ – Sempre quisemos estar o
mais à frente possível. Acabámos no lugar que nos foi possível, temos de
reconhecer que as outras três equipas estavam mais fortes, apesar de termos
perdido alguns pontos em alguns jogos que achámos que foram mal perdidos, por
pormenores, ou nossa infelicidade. Mas certamente que as equipas que ficaram
mais acima também se devem queixar e as que ficaram mais abaixo também. A
vitória na Taça foi o culminar de uma boa época. Estou a falar dos resultados,
mas há outra coisa importante: fomos reconhecidos pelos adversários como a
equipa que melhor jogava no campeonato. Além do quarto lugar e da conquista da
Taça, considero que a equipa jogava muito bem e praticava um futebol muito
atrativo e ofensivo, com a bola no pé. Acabou por ser uma boa época. Estamos
orgulhosos daquilo que fizemos.
Indo ao encontro do que
referiu, recentemente entrevistei o Pedro Andrade, guarda-redes da União
Banheirense, que apontou o Alcochetense
como uma das equipas que mais lhe enchia o olho pela forma de jogar. No que
consistem os princípios de jogo da sua equipa?
Dividimos muito o processo
ofensivo e o processo defensivo. O que tentamos fazer, sobretudo na primeira
fase de construção, é ter a bola no pé, jogar apoiado, sobretudo na primeira
fase ofensiva, chegar à frente com o maior número de jogadores, tentar criar
superioridades numéricas no meio-campo adversário e atacar a profundidade,
sendo verticais já na segunda fase. Isso nem sempre é fácil. O que a equipa
joga ao domingo tem muito a ver com o trabalho diário desde o início da época. E
ainda temos as variáveis de a bola entrar ou não entrar. Tentamos criar um
processo em que sejamos ofensivos, tenhamos superioridades numéricas e a manutenção
da posse de bola. Mas do outro lado está um adversário que nos contraria e
temos de criar outras opções na forma de ferir o adversário. É um processo
muito giro e que me dá um gozo tremendo.
Na época que agora terminou o Alcochetense
foi uma das três equipas que jogavam em casa num relvado natural, a par de Vasco
da Gama de Sines e Sesimbra.
Tendo em conta que a bola salta de forma diferente num relvado sintético e que
o estado dos relvados naturais tem de ser gerido com pinças durante o inverno,
jogar em casa num relvado natural num campeonato em que quase todos jogam em
sintético é uma vantagem ou uma desvantagem?
Há a vantagem de 15 adversários
que não têm relvado natural vêm jogar ao nosso campo, que tem uma forma de
pisar e de correr, e há a desvantagem de termos de ir aos campos desses adversários.
Além das particularidades de a bola saltar, rececionar e conduzir de forma
diferente, há alguns sintéticos de dimensões reduzidas. Ou seja, programamos
uma época com um processo de jogo e depois chegamos a um campo muito reduzido
em que o processo não existe e temos que apelar à organização defensiva, porque
um jogo nunca está controlado. Para nós é tentar ver o copo meio cheio. Temos
vantagem em 15 jogos e desvantagem noutros 15, mas temos de fazer dessa
desvantagem uma força.
Vocês treinam sempre no
relvado natural, mesmo no inverno?
Por vezes, no inverno, tivemos de
recorrer algumas vezes ao sintético porque a relva não estava em condições para
se treinar, mas fizemos quase todo o ano no relvado natural.
“Taça? Jogo da Moita deu-nos a luz que estávamos a precisar”
Topê com o presidente Nuno Garrett e o diretor desportivo Luís Francisco |
O Topê afirmou que a conquista
da Taça AF
Setúbal acabou por ser o culminar de uma boa época. Era um objetivo desde o
início da época? Ou sentiram que tinham uma oportunidade de ouro quando deixaram
de estar em prova Barreirense,
Comércio
e Indústria e Olímpico
do Montijo?
Desde o início da época que
tínhamos como objetivo chegar o mais longe possível e se fosse possível vencer
a Taça. Nunca foi uma competição que descurássemos ou que utilizássemos para
rodar a equipa, como alguns fizeram. Sempre tentámos jogar para ganhar e as
coisas foram-nos correndo bem. A determinada altura vimos a cair algumas
equipas que considerávamos como candidatas. Quando fomos à Moita [nas
meias-finais], achámos que ia ser um jogo muito difícil – o resultado não
transparece isso porque tornámos as coisas mais fáceis –, mas sabíamos que
passando o Moitense
íamos defrontar Charneca
de Caparica ou Alfarim
em campo neutro. O jogo da Moita foi um jogo esplêndido da minha equipa e que
nos deu a luz que estávamos a precisar. Desde o início que pensámos em ganhar,
mas o jogo da Moita foi fundamental para o desenlace final.
Numa altura em que nem o
campeonato nem a taça tinham terminado, o Alcochetense
anunciou a renovação do Topê para 2023-24, uma prova de grande confiança do seu
trabalho, mas também um sinal da sua lealdade ao clube. O que o levou a renovar
tão cedo, não dando muito tempo para a chegada de propostas?
O que me levou a ficar foi a
ligação que criámos ao grupo, por me sentir bem no clube e por gostar muito do
grupo de trabalho, que teve uma dedicação enorme. Quando chegámos, a equipa
lutava para não descer. Houve jogadores que evoluíram de uma forma brutal e
tiveram uma regularidade enorme. O convite já tinha sido feito, já tínhamos
falado, e eu decidi aceitar por lealdade ao clube e ao grupo e por nos fazerem
sentir bem. Quando nos sentimos bem, não faz sentido estarmos à espera de um
convite. Nunca discuti valores com alguém. Sou sobretudo leal às pessoas. Na
minha cabeça, fazia todo o sentido renovar. Gosto de estar no clube e foi uma
decisão muito fácil de tomar.
O que podemos esperar do Alcochetense
em 2023-24? É possível intrometer-se na luta pela subida de divisão?
Queremos fazer melhor no
campeonato. Na Taça fazer melhor é ganhar novamente. Queremos fazer melhor no
que é os resultados e no que não são resultados. Queremos voltar a ser
considerados pelas outras equipas uma equipa que joga um futebol atrativo.
Queremos implementar processos novos com os jogadores, porque possivelmente vão
haver algumas mudanças, porque vêm jogadores com características novas. O
processo também terá que ser adaptado aos jogadores e à forma como a equipa
joga. A nossa motivação é muita.
A próxima época terá como
novidade a participação do Alcochetense
na Taça
de Portugal. Quais são as expectativas da equipa em relação a essa prova?
O que eu gostava era uma utopia:
chegar à final da Taça no Jamor, vencê-la e ir às competições europeias. É utópico,
mas era o que eu adorava que acontecesse. A minha expectativa é passarmos a
primeira eliminatória. Todas as equipas querem ir passando até apanhar um
grande. É sempre um dia muito bonito. Tive esses momentos enquanto jogador,
ficou-me marcado ir ao Estádio da Luz [pelo Oriental,
em 2004-05] ou defrontar
o FC Porto [pelo Pêro Pinheiro, em 2011-12]. Quero que os meus jogadores
possam desfrutar de um dia desses e que nós entremos em campo com as mesmas
ideias, ciente da dificuldade enorme e da diferença de nível, e proporcionar um
espetáculo atrativo.
“Queremos manter entre 70 a 80% do plantel”
Alcochetense bateu o Alfarim na final da Taça AF Setúbal |
O Alcochetense
tem sido um dos clubes mais ativos a anunciar renovações de contrato. Como está
o ponto da situação em relação ao plantel da próxima época? Quantos jogadores
já tem certos e que posições espera reforçar?
O Alcochetense
não é um clube de pagar mundos e fundos, não tem investimentos, e o que nós
fazemos é manter grande parte do plantel da época passada. Vamos buscar jogadores
para preencher posições em que entendemos que precisamos de mais uma opção. Sabemos
que não é um clube rico e que quer apenas cumprir com os valores que acordou
com as pessoas. Queremos manter a estrutura que nos deu resultados. Como ganhámos
a Taça AF
Setúbal e vamos à Taça
de Portugal se calhar há muitos jogadores que querem vir jogar para o Alcochetense,
mas não podemos abdicar dos nossos princípios. Queremos que os novos jogadores se
adaptem ao grupo e ao clube, não queremos fazer nenhuma rotura, até porque as
coisas correram bem. Queremos manter entre 70 a 80% do plantel. Ainda falta
muito até ao início da época. Esperamos que quem venha ajude e que quem fique
continue a dar seguimento a esta evolução.
Na temporada que agora
terminou o Alcochetense
reforçou-se com quase uma dezena de jogadores que competiam nos campeonatos da AF
Lisboa, que certamente o Topê conhecia bem e que geograficamente estão
perto. É uma aposta para continuar?
Provavelmente poderá vir mais
alguém de Lisboa,
mas há jogadores de qualidade tanto no distrito de Lisboa
como no de Setúbal
e Santarém. Pela posição geográfica, para nós é por vezes mais fácil ir buscar
a Lisboa,
que passa a ponte e está a dez minutos de Alcochete, do que ir buscar malta a
Sesimbra, Setúbal ou Grândola. Queremos contratar alguém que tenha qualidade,
mas por vezes é mais fácil ir falar com alguém que já conhecemos ou mais
próximo geograficamente. Queremos que os que cheguem se adaptem a este grupo
fantástico. Não é o grupo que tem de se adaptar a quem chega, mas quem chega é
que tem de se adaptar a este grupo que está a mostrar que é um grupo vencedor.
O Topê fez parte dos seus
percursos como jogador e treinador nos distritais da AF
Lisboa. É muito mais competitiva do que a AF
Setúbal? Quais são as principais diferenças na dinâmica de cada campeonato?
Enquanto jogador fiz mais anos de
campeonato nacional do que de distrital. Como treinador é que tenho passado
mais ano de campeonato distrital. Há qualidade tanto nos jogadores como nas
equipas técnicas nos dois lados – e também já tive a oportunidade de treinar em
Santarém, onde também há qualidade –, há gente muito capaz e nota-se equipas
muito bem trabalhadas tanto em Lisboa
como em Setúbal,
mas a diferença que eu noto é que no início da época há muitos mais candidatos
à subida no distrito
de Lisboa, as equipas têm um valor muito idêntico. Em Setúbal
há sempre dois ou três candidatos à subida e depois há aquelas equipas todas muito
idênticas e um ou dois candidatos à descida que se anunciam logo mais cedo pela
fragilidade.
“Saída do Alverca? Fiquei desiludido. Tenho 20 anos de Alverca”
Topê orientou o Alverca entre 2016 e 2019 |
Para terminar, e olhando um
pouco para o seu percurso como treinador, o Topê começou no Alverca,
um clube que lhe diz muito, e guiou os ribatejanos
ao Campeonato
de Portugal, tendo conseguido a permanência nessa divisão em 2018-19.
Entretanto foi constituída uma SAD, que escolheu outro treinador. Não ficou com
um amargo de boca por não ter tido a oportunidade de comandar os alverquenses
numa época de investimento avultado?
Na altura fiquei um pouco
desiludido, pelo trabalho que fizemos. Subimos o Alverca
aos nacionais, fizemos uma primeira parte de campeonato ainda sem investidor,
que só entrou em dezembro. Depois disso fomos das melhores equipas da segunda
volta, fizemos um campeonato extraordinário e jogávamos muito bem. As coisas
estavam todas acertadas para a minha continuidade, mas depois numa reunião
disseram-me que a escolha não iria recair em mim. Tenho 20 anos de Alverca
e a forma como as coisas aconteceram acabaram por me desiludir um bocado. Se
calhar até nem sou o treinador ideal para algumas SADs, que pretendem que jogue
aquele ou outro jogador. Se calhar até foi por isso que não continuei, nunca saberei
os verdadeiros motivos. Fiquei desiludido, mas desejo que o Alverca
continue a subir muito, porque é um clube do qual eu vou continuar a gostar.
Vou continuar a pôr a jogar quem eu entendo, não será nenhum dirigente nem
empresário que me irá indicar os jogadores que devem jogar. Será sempre assim
enquanto eu cá estiver. Tenho estas ideias e não as vou perder. O que eu achava que fazia sentido era eu
continuar e darem-me a oportunidade de fazer uma grande época ali, eu achava
que tinha todas as condições para subir de divisão mais uma vez. Vou continuar
a ganhar, seja em Alverca
ou noutro clube qualquer. Vou ganhar em Alcochete.
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