Tinha 11 anos de idade quando pela
primeira vez vi o FC
Porto campeão. Como nasci em 1992 e só comecei a ligar a futebol em 2000,
não acompanhei o pentacampeonato e por isso só presenciei a festa do título portista
em 2003.
Residia no Barreiro,
onde os portistas
tinham (e têm) uma expressão diminuta, e por isso terão sido raras ou até
nenhumas as buzinadelas e cânticos que terei escutado a propósito da ocasião.
Mas se a festa foi discreta pelas minhas redondezas, o título acabou por ser
marcante pelo desempenho fantástico do FC
Porto de José
Mourinho durante toda a temporada. Basta dizer que os azuis
e brancos estabeleceram o recorde de pontos na altura (86) e ganharam ainda
a Taça
de Portugal e sobretudo a Taça UEFA.
Na noite chuvosa de 4 de maio de
2003, no Estádio das Antas, os portistas
cumpriram a promessa deixada pelo treinador
setubalense durante a sua apresentação como técnico dos dragões,
a 23 de janeiro do ano anterior: “Tenho a certeza de que no próximo ano vamos ser
campeões nacionais.”
E Mourinho
não podia estar mais certo. Os dragões
dominaram a edição de 2002-03 da I Liga de início ao fim, confirmando a
conquista do 19.º título nacional - e o 12.º da era Pinto
da Costa - com uma goleada ao Santa
Clara (5-0), um dia depois de o vice-líder Benfica
ter sido derrotado pelo Sporting
num dérbi disputado no Estádio Nacional.
O empate bastava aos azuis
e brancos e Mourinho
ficou na bancada a cumprir castigo, mas nem por isso os jogadores portistas
tiraram o pé do acelerador, começando a construir desde cedo uma vitória
confortável. Maniche deu o mote, logo aos seis minutos, a desviar ao segundo
poste um cruzamento/remate de Hélder Postiga. Aos 10’, Derlei apontou o 2-0, a
passe de Capucho, e logo se percebeu que aquela seria a noite da consagração.
Seguiram-se mais três golos na segunda parte, com as assinaturas de Derlei (48’),
Deco (78’) e Hélder Postiga (87’). Pelo meio, os capitães Jorge Costa e Vítor
Baía foram substituídos, de forma a serem homenageados pelo eufórico público
que enchia as bancadas das Antas.
Na tribuna presidencial, o então
treinador de 40 anos começava a partilhar a alegria com a mulher e os filhos,
que o acompanhavam. “Quando faltavam 20 minutos para o final comecei a explicar
aos meus filhos que ia ser campeão, mas a verdade é que eles já estavam
preparados, pois já lhes vinha explicando há algumas semanas”, confessou após o
jogo, numa conferência de imprensa em que revelou não sentir “aquela euforia
que seria natural” pela conquista do primeiro título da carreira. “Como tive a
sorte de ganhar quatro títulos como adjunto, se calhar não estou bem com o
sentimento de primeira vez, mas apenas com um sentimento diferente. De facto,
não estou com aquela euforia que seria natural, também porque ainda tenho muito
para ganhar este ano. O balão não esvaziou por completo, porque ainda faltam
duas finais”, atirou, em alusão aos encontros decisivos da Taça UEFA e da Taça
de Portugal, que viriam igualmente a ser vencidos, à custa do Celtic
e da União
de Leiria, respetivamente.
“Não gosto de dedicatórias, mas
posso dizer que o segredo do nosso sucesso foi todos sermos competentes, pois,
como já disse, um treinador competente, não é mais importante do que um
roupeiro competente. Este título é nosso, é dos portistas
e de todos os que gostam de nós. Mas é óbvio que há pessoas especiais de quem
nos lembramos, ainda que alguns tenham estado perto e outros a 300 quilómetros,
como é o caso dos meus pais. E depois há outras, especiais para mim e para a
minha mulher, que devem estar a rir lá em cima”, afirmou, tendo merecido os
elogios do presidente Pinto
da Costa.
“Tenho tido a felicidade de quase
todos os treinadores que fui buscar terem sido campeões. É um motivo de enorme
orgulho e satisfação para mim, já que lhes entrego uma grande responsabilidade
e seria uma frustração que eles não fossem capazes de vencer. Certamente que Mourinho
recordará este seu primeiro título como treinador principal para sempre, da
mesma maneira que tenho a certeza de que irá ganhar muitos mais”, disse o
presidente portista,
que acertou em cheio: Mourinho
conquistou mais cinco troféus no FC
Porto, com destaque para a Liga dos Campeões, e de duas dezenas na carreira,
tendo continuado o ciclo vencedor no Chelsea (por duas vezes), Inter Milão,
Real Madrid e Manchester United.
Uma das melhores equipas de sempre do FC Porto
Mas este não foi apenas mais um
de muitos títulos nacionais. Foi o consagrar de uma das melhores e mais
bem-sucedidas equipas de sempre do FC
Porto, comandada por arrojado José
Mourinho, que transmitia constantemente uma arrogância positiva a uma equipa
alicerçada pelos capitães Vítor Baía e Jorge Costa, mas recheada de jovens
talentos à procura de se afirmarem no futebol nacional e internacional. Os
reforços Pedro Emanuel (ex-Boavista), Paulo Ferreira (ex-Vitória
de Setúbal), Nuno Valente e Derlei (ambos ex-União
de Leiria) e Maniche (ex-Benfica,
clube pelo qual não jogava há mais de um ano) tiveram entrada direta no onze.
Ricardo Carvalho, que já começava a ganhar o rótulo de promessa adiada depois
de três empréstimos, foi recuperado. Costinha, que nem para o Mundial
2002 foi recuperado, ganhou protagonismo. A principal figura da equipa nas
épocas anteriores, Deco, teve finalmente um papel ativo na conquista de um
título nacional. E havia ainda um Hélder Postiga a viver a melhor temporada da
carreira em termos de golos, um Capucho que servia de abre-latas, um Jankauskas
que era a arma secreta no ataque e um Alenichev que refrescava o meio-campo nas
segundas partes, entre outros.
Embora a temporada seguinte seja
mais recordada pelos adeptos do futebol e pelos portistas
em particular, em virtude da conquista do título europeu, a equipa de 2002-03
tinha um futebol mais vistoso, enquanto a de 2003-04 era mais cerebral, cínica,
pragmática. Basta dizer que o FC
Porto de 2002-03 marcou mais 10 golos (e sofreu mais quatro) no campeonato
e fez mais seis pontos do que o da temporada seguinte. E nos confrontos
diretos, venceu todos os jogos diante de Benfica
e Sporting.
Também na Europa a superequipa do
FC
Porto fez notar a sua força. Em quatro das cinco eliminatórias na caminhada
até à final da Taça UEFA, diante de Polónia Varsóvia (6-0), Lens (3-0), Denizlispor
(6-1) e uma Lazio que era das principais equipas de Itália na altura (4-1),
despachou o assunto logo na primeira-mão em casa. E na outra, corrigiu no
ambiente adverso de Atenas (2-0) diante de um poderoso Panathinaikos uma derrota
pela margem mínima nas Antas (0-1). Na final, os dragões
venceram o Celtic
após prolongamento numa autêntica batalha em Sevilha (3-2).
Mas este blog é benfiquista? Não nos esqueçamos que é com o porto de Mourinho que se revela apito dourado!
ResponderEliminarBoa David.obrigado por apresentar mais um pouco do Campeonato Português.
ResponderEliminar