quinta-feira, 16 de julho de 2020

A minha primeira memória de… FC Porto campeão

FC Porto de 2002-2003 dominou campeonato de início ao fim
Tinha 11 anos de idade quando pela primeira vez vi o FC Porto campeão. Como nasci em 1992 e só comecei a ligar a futebol em 2000, não acompanhei o pentacampeonato e por isso só presenciei a festa do título portista em 2003.

Residia no Barreiro, onde os portistas tinham (e têm) uma expressão diminuta, e por isso terão sido raras ou até nenhumas as buzinadelas e cânticos que terei escutado a propósito da ocasião. Mas se a festa foi discreta pelas minhas redondezas, o título acabou por ser marcante pelo desempenho fantástico do FC Porto de José Mourinho durante toda a temporada. Basta dizer que os azuis e brancos estabeleceram o recorde de pontos na altura (86) e ganharam ainda a Taça de Portugal e sobretudo a Taça UEFA.

Na noite chuvosa de 4 de maio de 2003, no Estádio das Antas, os portistas cumpriram a promessa deixada pelo treinador setubalense durante a sua apresentação como técnico dos dragões, a 23 de janeiro do ano anterior: “Tenho a certeza de que no próximo ano vamos ser campeões nacionais.”


E Mourinho não podia estar mais certo. Os dragões dominaram a edição de 2002-03 da I Liga de início ao fim, confirmando a conquista do 19.º título nacional - e o 12.º da era Pinto da Costa - com uma goleada ao Santa Clara (5-0), um dia depois de o vice-líder Benfica ter sido derrotado pelo Sporting num dérbi disputado no Estádio Nacional.

O empate bastava aos azuis e brancos e Mourinho ficou na bancada a cumprir castigo, mas nem por isso os jogadores portistas tiraram o pé do acelerador, começando a construir desde cedo uma vitória confortável. Maniche deu o mote, logo aos seis minutos, a desviar ao segundo poste um cruzamento/remate de Hélder Postiga. Aos 10’, Derlei apontou o 2-0, a passe de Capucho, e logo se percebeu que aquela seria a noite da consagração. Seguiram-se mais três golos na segunda parte, com as assinaturas de Derlei (48’), Deco (78’) e Hélder Postiga (87’). Pelo meio, os capitães Jorge Costa e Vítor Baía foram substituídos, de forma a serem homenageados pelo eufórico público que enchia as bancadas das Antas.


Na tribuna presidencial, o então treinador de 40 anos começava a partilhar a alegria com a mulher e os filhos, que o acompanhavam. “Quando faltavam 20 minutos para o final comecei a explicar aos meus filhos que ia ser campeão, mas a verdade é que eles já estavam preparados, pois já lhes vinha explicando há algumas semanas”, confessou após o jogo, numa conferência de imprensa em que revelou não sentir “aquela euforia que seria natural” pela conquista do primeiro título da carreira. “Como tive a sorte de ganhar quatro títulos como adjunto, se calhar não estou bem com o sentimento de primeira vez, mas apenas com um sentimento diferente. De facto, não estou com aquela euforia que seria natural, também porque ainda tenho muito para ganhar este ano. O balão não esvaziou por completo, porque ainda faltam duas finais”, atirou, em alusão aos encontros decisivos da Taça UEFA e da Taça de Portugal, que viriam igualmente a ser vencidos, à custa do Celtic e da União de Leiria, respetivamente.

“Não gosto de dedicatórias, mas posso dizer que o segredo do nosso sucesso foi todos sermos competentes, pois, como já disse, um treinador competente, não é mais importante do que um roupeiro competente. Este título é nosso, é dos portistas e de todos os que gostam de nós. Mas é óbvio que há pessoas especiais de quem nos lembramos, ainda que alguns tenham estado perto e outros a 300 quilómetros, como é o caso dos meus pais. E depois há outras, especiais para mim e para a minha mulher, que devem estar a rir lá em cima”, afirmou, tendo merecido os elogios do presidente Pinto da Costa.


“Tenho tido a felicidade de quase todos os treinadores que fui buscar terem sido campeões. É um motivo de enorme orgulho e satisfação para mim, já que lhes entrego uma grande responsabilidade e seria uma frustração que eles não fossem capazes de vencer. Certamente que Mourinho recordará este seu primeiro título como treinador principal para sempre, da mesma maneira que tenho a certeza de que irá ganhar muitos mais”, disse o presidente portista, que acertou em cheio: Mourinho conquistou mais cinco troféus no FC Porto, com destaque para a Liga dos Campeões, e de duas dezenas na carreira, tendo continuado o ciclo vencedor no Chelsea (por duas vezes), Inter Milão, Real Madrid e Manchester United.

Uma das melhores equipas de sempre do FC Porto

Mas este não foi apenas mais um de muitos títulos nacionais. Foi o consagrar de uma das melhores e mais bem-sucedidas equipas de sempre do FC Porto, comandada por arrojado José Mourinho, que transmitia constantemente uma arrogância positiva a uma equipa alicerçada pelos capitães Vítor Baía e Jorge Costa, mas recheada de jovens talentos à procura de se afirmarem no futebol nacional e internacional. Os reforços Pedro Emanuel (ex-Boavista), Paulo Ferreira (ex-Vitória de Setúbal), Nuno Valente e Derlei (ambos ex-União de Leiria) e Maniche (ex-Benfica, clube pelo qual não jogava há mais de um ano) tiveram entrada direta no onze. Ricardo Carvalho, que já começava a ganhar o rótulo de promessa adiada depois de três empréstimos, foi recuperado. Costinha, que nem para o Mundial 2002 foi recuperado, ganhou protagonismo. A principal figura da equipa nas épocas anteriores, Deco, teve finalmente um papel ativo na conquista de um título nacional. E havia ainda um Hélder Postiga a viver a melhor temporada da carreira em termos de golos, um Capucho que servia de abre-latas, um Jankauskas que era a arma secreta no ataque e um Alenichev que refrescava o meio-campo nas segundas partes, entre outros.


Embora a temporada seguinte seja mais recordada pelos adeptos do futebol e pelos portistas em particular, em virtude da conquista do título europeu, a equipa de 2002-03 tinha um futebol mais vistoso, enquanto a de 2003-04 era mais cerebral, cínica, pragmática. Basta dizer que o FC Porto de 2002-03 marcou mais 10 golos (e sofreu mais quatro) no campeonato e fez mais seis pontos do que o da temporada seguinte. E nos confrontos diretos, venceu todos os jogos diante de Benfica e Sporting.

Também na Europa a superequipa do FC Porto fez notar a sua força. Em quatro das cinco eliminatórias na caminhada até à final da Taça UEFA, diante de Polónia Varsóvia (6-0), Lens (3-0), Denizlispor (6-1) e uma Lazio que era das principais equipas de Itália na altura (4-1), despachou o assunto logo na primeira-mão em casa. E na outra, corrigiu no ambiente adverso de Atenas (2-0) diante de um poderoso Panathinaikos uma derrota pela margem mínima nas Antas (0-1). Na final, os dragões venceram o Celtic após prolongamento numa autêntica batalha em Sevilha (3-2).

















2 comentários:

  1. Mas este blog é benfiquista? Não nos esqueçamos que é com o porto de Mourinho que se revela apito dourado!

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  2. Boa David.obrigado por apresentar mais um pouco do Campeonato Português.

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