Como muitas outras no que
concernem a futebol, a minha primeira memória de um jogo entre
Sporting e Paços de Ferreira remonta à temporada 2000-01, a
primeira época futebolística que acompanhei de fio a pavio.
Curiosamente, os dois clubes tinham o estatuto de campeões em título
da I e da II Liga, respetivamente.
No campeonato, os leões
sentiram bastantes dificuldades para acompanhar a pedalada de
Boavista e FC Porto e passaram grande parte das jornadas na terceira
posição. Os pacenses, apesar do estatuto de recém-promovido,
fizeram uma época tranquila, a meio da tabela, sob o comando de José
Mota. O eterno guarda-redes Pedro, o igualmente eterno central
Adalberto, o médio brasileiro Beto – que cinco épocas depois
reforçaria o Benfica -, o também médio brasileiro Glauber – que
na temporada seguinte daria o salto para o Boavista -, o médio
ofensivo/avançado e grande estrela da equipa Rafael – que na época
a seguir se transferiu para o FC Porto - e o extremo sempre muito
irrequieto Zé Manel eram algumas das figuras dos castores.
Na primeira volta, na
15.ª ronda, houve empate a zero na Mata Real a 17 de dezembro de
2000, mas não me recordo de nada desse jogo. O que me recordo bem
foi do encontro da segunda volta, em Alvalade, a 11 de maio de 2001,
a contar para a 32.ª jornada.
À entrada para essa
ronda, a antepenúltima do campeonato, o Sporting de Manuel
Fernandes já não tinha hipóteses matemáticas em chegar ao
título e só um milagre permitiria alcançar o FC Porto no segundo
lugar, mas o último degrau do pódio ainda estava em perigo, com o
Sp. Braga à espreita. O Paços seguia tranquilamente em 9.º lugar,
com uma regularidade impressionante. Nesta altura, os pacenses
participavam pela quarta vez na I Liga e tinham como melhor
classificação de sempre a 10.ª posição, alcançada em 1992-93.
Ainda assim, nada fazia
prever o que se passou nessa noite de sexta-feira. Recordo-me de ter
acompanhado o jogo através da rádio e de a dada altura ouvir que a
equipa de José Mota vencia por 0-3. Pensei que fosse gozo, mas era
mesmo verdade. Aos 22 minutos, já era esse o resultado. Cortesia de
Leonardo, que inaugurou o marcador aos 10' na resposta de um
cruzamento do lado direito por Paulito, e de Rafael, que aproveitou
uma escorregadela de André Cruz para fazer o segundo (12') e um
cruzamento atrasado de Leonardo para escandalizar Alvalade (22').
Entretanto, Rafael foi
expulso ainda antes do intervalo, mas o melhor que o Sporting
conseguiu fazer contra dez foi marcar um único golo, apontado à
passagem da hora de jogo pelo avançado croata Robert Spehar. Até ao
apito final, Glauber também viu o cartão vermelho e deixou os
nortenhos reduzidos a nove (82').
“Terão sido os 22
minutos mais amarelos da história recente do futebol do Sporting: a
cor das camisolas do Paços de Ferreira, também preferida do
espalhafatoso árbitro de serviço, espraiou-se pelo tapete verde e
tomou conta de um adversário tolhido e sobranceiro, incapaz de
reagir com o profissionalismo e o savoir faire que a diferença
de orçamentos exigiria e justificaria. Quando Manuel
Fernandes alterou a constituição da equipa, o resultado de 0-3
era já praticamente irrecuperável, sabendo-se que ninguém
conseguiu marcar esta temporada mais de dois golos aos marceneiros,
confortavelmente instalados a meio da classificação. Nem se pode
dizer que eles não avisaram, pois a primeira jogada do jogo podia
logo ter dado golo”, podia
ler-se na crónica do Record,
que não poupou nas críticas ao juiz Luís Miranda (AF Lisboa),
então na reta final da carreira.
Na época seguinte, o
reencontro entre as duas equipas não podia ser mais desequilibrado.
O Sporting goleou por 6-0 na Mata Real, sendo que ao intervalo já
ganhava por quatro e estabeleceu o resultado final à passagem da
hora de jogo. Beto (22'), Sá Pinto (30'), Jardel (43' e 44') e
Niculae (53' e 60') fizeram os golos da formação então orientada
por Laszlo Bölöni, em franca recuperação no campeonato depois de
um arranque em falso. Do outro lado, estava um Paços de Ferreira
ainda comandado por José Mota que atravessava dificuldades na tabela
classificativa, ao ponto de ocupar um dos lugares da zona de
despromoção.
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