Elpídio Silva entre Cléber e Romeu, com Frechaut atento ao lance |
A minha primeira memória
de um jogo entre o Vitória
de Guimarães e o Boavista remonta ao período do Boavistão mas
também de um Vitória
que tinha uma equipa com grande qualidade, embora nem sempre isso se
traduzisse em boas classificações.
A 12 de outubro de 2001,
quando as duas se defrontaram no Estádio D. Afonso Henriques para a
8.ª jornada da I Liga, os axadrezados de Jaime Pacheco envergavam o
estatuto de campeão em título e de líder do campeonato, com um
plantel em que pontificavam os internacionais portugueses Ricardo,
Frechaut e Petit, o maestro boliviano Erwin Sánchez e o pistoleiro
Elpídio
Silva.
Os vimaranenses
de Augusto Inácio vinham de uma derrota pesada em Alvalade (0-5),
mas apresentavam no onze os futuros internacionais portugueses
Rogério Matias, Pedro Mendes, Nuno
Assis e Romeu, o guarda-redes francês Palatsi e brasileiros já
com alguma experiência no futebol português como o central Cléber
e o extremo Guga (ambos ex-Belenenses).
A rivalidade entre os
dois clubes históricos, criada pelas lutas por apuramentos europeus
no final dos anos 1970 e pelas batalhas pessoais entre os presidentes
Pimenta Machado e Valentim Loureiro, era um ingrediente-extra.
Bem, vamos ao jogo! Nessa
noite de sexta-feira, quase 10 mil espetadores assistiram ao vivo a
uma exibição de gala do Vitória,
que durante a primeira parte arrumou o assunto no espaço de cinco
minutos. Primeiro pelo avançado brasileiro Ceará, a cabecear
certeiro na resposta a um cruzamento de Guga, aos 32'. Depois através
de um golpe magistral de calcanhar por parte de Romeu, que fez o 2-0
na sequência de um cruzamento rasteiro de Nuno
Assis (37').
Na verdade, esse
memorável golo de calcanhar, dos melhores que vi até hoje, é a
minha única memória deste jogo. Não assisti ao vivo nem através
da televisão, mas lembro-me bem de acompanhar o resumo.
“Ganho pelos
calcanhares. Menos de dez minutos foram suficientes para o Guimarães
destruir a intenção boavisteira de repetir tradições antigas,
expressas em vitórias. Desta vez, o campeão não conseguiu
disfarçar algumas fragilidades e os vimaranenses
têm parte substancial da culpa”, podia ler-se no dia seguinte no
jornal O Jogo.
“A história do jogo
resume-se a dois calcanhares: um de Romeu, outro de Aquiles, que o
Boavista tomou por empréstimo durante longos minutos. Para os menos
identificados com a mitologia, esclareça-se que Aquiles era uma
figura indestrutível - um pouco à imagem da forma como os
boavisteiros surgem aos olhos de muitos adversários... - com um
único ponto fraco: o calcanhar. Atingido esse ponto fatal, Aquiles
tornou-se tão vulnerável como os outros. Vida dos deuses à parte,
parece legítimo considerar que o Guimarães
se deliciou com alguns pontos fracos que o Boavista foi evidenciando
numa primeira parte que, se não foi das piores, terá sido uma das
mais desastrosas dos últimos tempos. Nada de anormal, a menos que se
pense que o campeão nacional é imune a dias maus...”, escreveu o
diário desportivo no primeiro parágrafo da crónica do encontro.
O triunfo permitiu ao
Vitória
igualar o Sporting no quarto lugar e ficar a três pontos da
liderança, então repartida por FC Porto e Boavista. Porém, quando
boavisteiros e vimaranenses
se defrontaram na segunda volta, o cenário era bem diferente. A
equipa de Jaime Pacheco tinha a oportunidade de aproveitar o empate
caseiro do Sporting diante do Sp. Braga para subir ao topo da
classificação, enquanto os homens de Augusto Inácio seguiam na
sétima posição, já bastante afastados dos lugares europeus. Ainda
assim, houve empate a zero no Bessa.
Da época seguinte,
marcada por um tremendo abaixamento de forma do Boavista no
campeonato e do regresso do Vitória
de Guimarães aos lugares cimeiros, recordo um jogo que os
axadrezados venceram no Bessa por 3-1, mas com o golo dos minhotos
a ser apontado por Pedro Mendes a partir do meio-campo, depois de um
livre batido por Ricardo fora da sua área.
Sem comentários:
Enviar um comentário