quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Que saudades da grande União de Leiria

Equipa da União de Leiria na temporada 2001-02
Lamento de igual forma todos os casos de salários em atraso no futebol português, mas confesso que me entristece especialmente o que se passa na União de Leiria. Em quase uma década, os leirienses têm sido notícia quase exclusivamente por situações de incumprimento salarial e problemas entre administração da SAD, direção do clube e Câmara Municipal, entre outros episódios completamente dispensáveis.


Recorde-se que, na última presença na I Liga, em 2011-12, o emblema da cidade do Lis chegou a apresentar-se com apenas oito jogadores num encontro do campeonato diante do Feirense. E desses oito, três estavam emprestados por outros clubes (Oblak e Shaffer pelo Benfica e Bärkroth pelo Gotemburgo) e dois ainda eram juniores (Pedro Almeida e Filipe Oliveira).

Hoje, no Campeonato de Portugal e oito anos depois, vira o disco e toca o mesmo. Os problemas de salários em atraso continuam a fazer parte do quotidiano da equipa principal e o ponto alto desta nova crise aconteceu a 15 de dezembro do ano passado, quando os jogadores ficaram imóveis e abraçados durante o primeiro minuto de um jogo com o Torreense que estava a ser transmitido pelo Canal 11.

Estas deverão ser as principais memórias que os adolescentes e pós-adolescentes de hoje têm da União de Leiria, mas as minhas são bem diferentes.

Recordo com saudade um clube que não levava muitos adeptos atrás mas que tinha bons jogadores, belíssimas equipas e fazia a vida negra aos grandes.

Recordo com saudade um clube que alcançou o quinto lugar na I Liga em 2000-01 e 2002-03 e que, após a 20.ª jornada do campeonato de 2001-02, era orientado por José Mourinho e ocupava a terceira posição, à frente de FC Porto e Benfica e apenas atrás de Sporting e Boavista.

Recordo com saudade um clube que tinha um núcleo duro composto pelos experientes Costinha, Bilro, Paulo Duarte, Renato, Leão e o malogrado João Manuel, que alicerçavam jogadores que viriam a dar o salto a carreira, como Nuno Valente (e depois Edson), Tiago, Silas, Maciel e Derlei (e depois Douala).

Recordo com saudade um clube capaz de feitos que hoje são praticamente inatingíveis para emblemas de média dimensão, como aplicar uma goleada de 7-0 num jogo do campeonato (ao Salgueiros em dezembro de 2001), concluir três épocas consecutivas com um saldo positivo entre golos marcados e sofridos (+5 em 2000-01, +7 em 2001-02 e +2 em 2002-03) e chegar ao fim da temporada com um futebolista com 21 golos marcados só na I Liga, como foi o caso de Derlei em 2001-02.

Recordo com saudade um clube cujos direitos televisivos dos principais jogos em casa foram adquiridos pela TVI e que chegou à final da Taça de Portugal em 2002-03, sob a orientação de Manuel Cajuda.

Recordo com saudade um clube que travou em casa não só o FC Porto de Mourinho (2-2 em outubro de 2002) como se manteve invicto nas receções aos dragões durante três épocas (2000-01 a 2002-03).


Recordo com saudade um clube que travou em casa o Benfica entre 1998-99 e 2001-02 e entre 2003-04 e 2005-06 e ainda arrancou uma vitória e três empates na Luz nesse período.


Recordo com saudade um clube que travou em casa não só o Sporting nas épocas dos dois últimos títulos nacionais dos leões como em seis épocas consecutivas (entre 1999-00 e 2004-05), tendo possibilitado ao FC Porto de José Mourinho sagrar-se bicampeão no hotel graças a uma vitória sobre os verde e brancos em Leiria.


Recordo com saudade um clube que travou em casa o Boavista campeão de 2000-01.


Recordo com saudade um clube que, apesar de nunca ter tido a regularidade que o Sp. Braga tem exibido nos últimos 15 anos, roubava pontos com mais frequência aos grandes.

Recordo um clube que, em conjunto com o Boavistão, o bom arranque do Belenenses no século XXI, os sempre difíceis de bater Sp. Braga e Vitória de Guimarães, as deslocações tradicionalmente complicadas como a Barreiros, Mata Real, Alverca ou Barcelos, o período de menor fulgor do Benfica e uma maior irregularidade do FC Porto, ajudava a tornar o campeonato muito mais competitivo do que é hoje.

Que saudades que eu tenho dessa grande União de Leiria.













1 comentário:

  1. Que prazer que tive ao ler sua solicitação, David. Seu trabalho é magnífico e fico feliz por teres gostado do meu. O link para o teu blog já está disponível no Bola de Bigode.
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