Estádio do Bonfim é a casa do Vitória Futebol Clube |
Inaugurado a 16 de setembro de
1962, o Estádio do Bonfim sucedeu ao antigo Campo dos Arcos como casa do
Vitória Futebol Clube. Situado no centro de Setúbal, junto ao Parque do Bonfim,
o palco sadino já recebeu públicos de mais de 30 mil pessoas, mas atualmente
está homologado com uma capacidade total para 15.497 espetadores.
Construído a mando do histórico
presidente Mário Ledo, com grande ajuda do povo setubalense e de empresas da
região, recebeu tem recebido ao longo de várias décadas jogos da I Liga, Taça de Portugal, competições europeias e até das seleções nacionais. Em 2002, foi
mesmo palco da Supertaça Cândido de Oliveira.
Além do campo principal, o
Complexo do Bonfim alberga ainda dois campos de relvado sintético para o
futebol de formação e o Pavilhão Antoine Velge para as modalidades indoor, com
principal destaque para o andebol, que tem grande tradição no clube.
16 de setembro de 1962 – Jogo de inauguração
Dia de grande festa para Setúbal.
O Presidente da República, o almirante Américo Thomaz, estava na cidade para
inaugurar o Estádio do Bonfim, colocando no estandarte vitoriano a Medalha de
Mérito Desportivo e recebendo o diploma de honra do clube setubalense. A
cerimónia, que começou pela manhã com alvorada de foguetes e morteiros e a
chegada de excursionistas vestidos a rigor, estendeu-se pela tarde, com o
desfile de todas as modalidades do Vitória e um jogo entre os sadinos e a
Académica.
Os estudantes ganharam por 1-0,
mas nem por isso as festividades azedaram. Na altura, apenas existia a bancada
poente e os jogadores equipavam-se nos balneários do pavilhão. “O Estádio do
Bonfim que foi ontem inaugurado pelo chefe do estado reflete o esforço de um
clube – o Vitória – e de uma cidade – Setúbal”, podia
ler-se na capa do Diário de Notícias no dia seguinte.
23 de setembro de 1962 – Taça das Taças (primeira-mão da ronda de qualificação)
O primeiro jogo oficial da história do Bonfim e logo na estreia do Vitória nas competições europeias.
Os sadinos, finalistas vencidos da Taça de Portugal e recém-promovidos à I Divisão, encontraram pela frente o vencedor da Taça de França, o Saint-Étienne.
Depois de um promissor empate a um golo em solo gaulês - golo de Manuel Mateus para os setubalenses e de Roland Mitoraj para os franceses, os vitorianos foram dizimados no seu novo estádio. Jacques Faivre (44 e 55 minutos) e Jean-Claude Baulu (72') marcaram para o Saint-Étienne, que nessa temporada competiu na II Liga francesa.
30 de outubro de 1968 – Taça das Cidades com Feiras (primeira-mão da
2.ª eliminatória)
Vitória FC 5-0 Lyon
Depois de ter despachado os
norte-irlandeses do Linfield na primeira ronda, na segunda os sadinos
defrontaram o carrasco da Académica, os franceses do Lyon. Com uma exibição
categórica, a equipa de Fernando Vaz goleou por 5-0, com um hat trick de Tomé
(32’, 57’ e 70’) depois do golo inaugural de Carriço (30’) e antes de Petita
sentenciar o resultado final na conversão de uma grande penalidade (81’), para
gáudio dos cerca de 10 mil espetadores que estiveram no Bonfim nessa
quarta-feira à tarde.
“Recordo-me que nesse jogo até
poderia ter feito quatro golos, pois pedi ao Sr. Fernando Vaz para me deixar
marcar a grande penalidade, mas ele preferiu que fosse o Petita a fazê-lo. Só
mais tarde compreendi a sua decisão. O Petita era um avançado que fazia golos e
como nesse jogo tinha sido suplente precisava de ganhar moral. Em primeiro
lugar está a equipa”, afirmou Tomé,
em declarações reproduzidas pelo site oficial do
Vitória.
No dia seguinte, o jornal
desportivo gaulês L’Equipe apelidou Tomé
de “Fachetti de Setúbal” e considerou a exibição da equipa do seu país uma
“deceção”.
Na segunda mão, os vitorianos
foram a França vencer por 2-0.
22 de agosto de 1970 – Jogo de inauguração da iluminação artificial
Vitória FC 2-1 Sporting Gijón
Apenas oito anos depois da
inauguração do estádio é que o recinto recebeu iluminação artificial, depois de
um grupo de sócios se ter juntado, criado uma comissão e oferecido a luz. De
acordo com o site do Vitória, a instalação a cargo da Philips “compreendia
quatro postes de iluminação com 46 metros de altura” e “era composta por 96
projetores, equipados com 96 lâmpadas de vapor de mercúrio com a potência de 2
kw cada e que seria considerada, para a época, como a tecnologicamente mais
avançado do nosso país”.
Antes do jogo com os espanhóis do
Sporting de Gijón, foi descerrada uma lápide junto a um dos postes de
iluminação, pelo então Subsecretário de Estado da Juventude e do Desporto,
Augusto Ataíde. Depois disso, os sadinos venceram por 2-1, com golos de Wagner
e Vítor Batista. “Setúbal viveu uma grande noite. Vitória (equipa) é que
demorou mais a acender a luz”, destacou A
Bola.
4 de novembro de 1971 – Taça UEFA (segunda-mão da segunda eliminatória)
Vitória FC 4-0 Spartak Moscovo
Na altura ainda não havia registo
de espetadores, mas muitos acreditam que a maior enchente do Bonfim foi na
receção ao Spartak Moscovo, naquela que foi a primeira vez que uma equipa
soviética visitou Portugal. Foi a primeira vez que uma bandeira da União
Soviética foi içada em solo nacional, porém, por imposição do regime que então
vigorava, foi proibido de ser tocado o hino soviético, tendo este sido
substituído pela “Internacional”.
“Quando o Spartak Moscovo veio cá
jogar para a Taça das Cidades com Feira, o estádio encheu. As pessoas pensavam
que os russos vinham de saia, não sei…. Veio gente de todo o distrito e até de
Lisboa. Acho que foi o jogo que levou mais gente ao Bonfim. Deviam estar umas
32 mil pessoas no estádio”, afirmou o ex-dirigente Rui Salas ao jornal O Setubalense, em setembro de 2016.
Os sadinos golearam por 4-0, com
dois golos de José Torres, um de Jacinto
João e outro de Octávio Machado, depois de terem empatado a zero em
Moscovo.
23 de setembro de 1973 – I Divisão (3.ª jornada)
Vitória FC 9-0 Olhanense
O Vitória vivia o seu período
áureo e, no arranque do campeonato de 1973/74, tinha derrotado o Sporting em
casa (1-0) e a Académica em Coimbra (3-0). Seguiu-se a receção ao
recém-promovido Olhanense, naquela que acabou por ser a maior goleada de sempre
dos sadinos na I Divisão. Dois golos do uruguaio Henrique Câmpora (16 e 41
minutos), outros dois de Augusto Matine (49’ e 82’), três do brasileiro Duda
(60’, 77’ e 90’) e um de José Torres (32’) e ouro de José Maria (78’)
construíram um recorde que ainda hoje perdura.
12 de dezembro de 1973 – Taça UEFA (segunda-mão da 3.ª eliminatória)
Depois de ter eliminado duas
equipas belgas nas rondas anteriores, o Beerschot e o Molenbeek, calhou em
sorte ao Vitória os ingleses do Leeds, que nessa época se haveriam de sagrar
campeões do seu país. Perante o finalista vencido da Taça das Taças da
temporada anterior, os sadinos de José Maria Pedroto foram derrotados em Elland
Road na primeira-mão.
No entanto, no segundo jogo, os
vitorianos fizeram valer a fortaleza Bonfim e venceram por 3-1, tendo chegado a
estar a ganhar por três golos de vantagem. O brasileiro Duda bisou (51 e 74
minutos) e pelo meio José Torres fez o outro golo (62’). Na reta final do
encontro, o recém-entrado Gary Liddell ainda deu alguma esperança aos whites.
21 de novembro de 1993 – I Divisão (10.ª jornada)
Vitória FC 5-2 Benfica
Ao cabo das nove primeiras
jornadas, o Vitória de Raul Águas era último classificado e o Benfica de Toni
primeiro. Quando as duas equipas se defrontaram no Bonfim, as águias eram
claras favoritas, mas durante os 90 minutos foram os sadinos a mostrar grande
categoria.
O avançado nigeriano Rashidi
Yekini foi a grande figura do encontro, ao apontar dois golos, o primeiro (29’)
e o penúltimo da tarde (73’). Com o resultado ainda a zeros, o jogador africano
protagonizou um grande momento, ao arrancar com a bola a meio do seu meio-campo
e, na cara de Neno, a rematar ao poste. E já com os sadinos a vencer por 1-0,
acertou com estrondo na trave. O estreante brasileiro Sérgio Araújo (39’) e o
esquerdino Paulo Gomes de livre direto (52’) dilataram a vantagem, Vítor
Paneira (55’) e Aílton (66’) reduziram-a, antes de Chiquinho Conde dar a
estocada final (82’).
“Lembro-me de o Vitória de Setúbal ter dois jogadores muito importantes. Sobre a direita tinha um
brasileiro muito rápido que era o Sérgio Araújo e depois um ponta-de-lança
nigeriano, que infelizmente já morreu, que era o Yekini. Não era um jogador
muito dotado do ponto de vista técnico, mas fisicamente era impressionante… O
Vitória de Setúbal chega de forma muito fácil ao 3-0, depois houve uma reação e
chegamos ao 3-2 e estamos perto do 3- 3, mas aparece o 4-2 que sentencia o
jogo. Realmente, houve Vitória de Setúbal a mais para Benfica a menos”, afirmou
Toni ao jornal I duas décadas depois.
“Não houve uma preparação
especial. Éramos uma equipa de vocação ofensiva, mas no início as coisas não
estavam a sair. Depois acabámos em sexto. Podíamos ter marcado mais golos.
Éramos fortes no contra-ataque e o Benfica apostou tudo na frente, mas não
aproveitámos”, recordou Raúl Águas ao Record em 2014.
27 de maio de 2001 – II Liga (34.ª jornada)
Depois de ter descido de divisão
na época anterior, o Vitória procurava rapidamente fugir ao inferno da II Liga
e regressar ao patamar maior do futebol português. À entrada para a última
jornada, os sadinos eram os segundos classificados, com os mesmos pontos que o
Varzim, que era terceiro e também estava em zona de promoção, e o Maia. Nos
últimos minutos do campeonato, a equipa de Jorge
Jesus empatava em casa com a Naval, enquanto varzinistas e maiatos cumpriu
o seu trabalho. Porém, um golo de Meyong
mesmo a acabar deu um triunfo por 2-1, depois de Wender ter adiantado os
figueirenses e Fernando Mendes empatado logo a seguir de grande penalidade.
Seguiu-se a festa no lotado
Bonfim e pelas ruas de Setúbal. “Queria dedicar esta vitória a esta massa
associativa. Esta cidade tem uma paixão pelo futebol que tirando Benfica, Sporting
e FC Porto mais ninguém tem. Ninguém consegue arrastar tanta gente atrás como o
Vitória arrastou aqui hoje, 30 mil pessoas, todos eles vitorianos. Esta subida
à I Liga vai inteiramente para os sócios e simpatizantes”, afirmou Jorge
Jesus após o encontro decisivo.
19 de abril de 2005 – Taça de Portugal (meias-finais)
Depois de 32 anos sem qualquer
presença em finais de Taça de Portugal, o Vitória tinha a possibilidade de
decidir no Bonfim o apuramento para o Jamor frente a um Boavista que já não era
o Boavistão do início do milénio. Os axadrezados até se adiantaram no marcador
logo aos 8 minutos, com um golo de Zé Manel de grande penalidade, mas os
sadinos, orientados por José Rachão, haveriam de responder. Meyong
empatou ainda na primeira parte, a passe de Bruno
Ribeiro, mas desperdiçou um penálti no segundo tempo. Com uma igualdade no
fim dos 90 minutos mas com o Boavista já em desvantagem numérica devido à
expulsão de João Pedro, os setubalenses completaram a reviravolta no início do
prolongamento com um golo memorável de Bruno
Ribeiro, que do meio da rua rematou muito forte e levou a bola a embater na
trave antes de entrar na baliza de Carlos. A imagem do remate do lateral/extremo
esquerdo e os festejos efusivos do treinador são imagens que perduram na memória
dos adeptos vitorianos.
Sobre o jogo com o Spartak o texto tem uma errada informação . Ninguém proibiu o hino mas foi um erro na colocação do disco que tinha sido trazido pelos russos. Fui eu o responsável por esse erro que foi aceite com naturalidade pelo Presidente do Spartak quando tudo lhe expliquei.
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