Jorge Jesus assinou por uma temporada pelo Flamengo |
Aos 64 anos, Jorge
Jesus prepara-se para a segunda aventura fora de Portugal, a primeira no
Brasil, e logo num clube com uma massa adepta tão grande como o Flamengo.
Depois de se ter afirmado como um dos melhores treinadores portugueses e ter
mostrado o seu valor à Europa, vai rumar a um futebol bem com características
bem diferentes, com conceitos táticos e um calendário muito próprios e um
equilíbrio competitivo que torna possível uma escorregadela em qualquer campo,
diante de qualquer adversário. Ainda assim, há razões para acreditar que o
amadorense vai deixar a sua marca no emblema rubro-negro. Conheça as cinco principais.
1. Conhecimento do futebol brasileiro
Quem orienta uma equipa em
Portugal e está limitado orçamentalmente, sabe que tem de ser engenhoso na
abordagem ao mercado para acrescentar qualidade a um plantel. E esse engenho
passa muitas vezes por recorrer ao mercado sul-americano, nomeadamente ao
brasileiro, e acenar aos futebolistas canarinhos a possibilidade de rumar ao
futebol europeu.
A ligação de Jorge
Jesus à contratação de futebolistas brasileiros é forte, longa e quase que
se pode dizer que histórica, mas recordemos só as que aconteceram desde que o
treinador rumou ao Benfica, há dez anos. Umas correram tremendamente bem,
outras nem tanto. Afinal, só depois de se abrir um melão é que se pode garantir
que ele é bom.
Ramires (ex-Cruzeiro), Patric
(ex-São Caetano), Weldon (ex-Cruzeiro, dois anos depois de o ter levado para o
Belenenses), Keirrison (ex-Palmeiras), Júlio César (ex-Belenenses, mas
contratado ao Botafogo por ele quando estava no Restelo), Felipe Menezes
(ex-Goiás), Alan Kardec (ex-Vasco), Airton (ex-Flamengo), Éder Luís
(ex-Atlético Mineiro), Bruno César (ex-Corinthians), Bruno
Cortez (ex-São Paulo), César
(ex-Ponte Preta), Luís Felipe (ex-Criciúma), Talisca (ex-Bahia) foram
contratados por indicação de Jesus pelo Benfica entre 2009 e 2015, André e
Elias (ambos ex-Corinthians) e Wendel (ex-Fluminense) pelo Sporting entre 2015
e 2018.
Este conhecimento logicamente que
não será apenas de jogadores observados mas também dos sistemas táticos,
modelos de jogo e estratégias adotadas pelos treinadores brasileiros e pelos
conceitos muito próprios do futebol brasileiro, como volante e meia, que não
significam médio defensivo e médio ofensivo na totalidade da sua essência.
2. Flamengo ainda pode ganhar tudo
O Flamengo já venceu o Campeonato
Carioca nesta época e ainda está envolvido em três frentes. No Brasileirão,
ocupa o pelotão da frente e vai bem a tempo de ser campeão sem estar muito
preocupado com os resultados dos adversários mais diretos. Na Copa do Brasil,
há um encontro escaldante com o Corinthians esta terça-feira, mas mesmo em caso
de eliminação há mais para ganhar. Nas suas primeiras palavras como treinador
do gigante carioca, Jorge
Jesus mencionou a possibilidade de chegar à final do Mundial de Clubes, o
que teria necessariamente pela conquista da Libertadores,
prova em que o rubro-negro tem um confronto agendado com os equatorianos do
Emelec nos oitavos de final.
Ainda assim, convém recordar que
o Flamengo já não é campeão brasileiro desde 2009, não ganha a Copa desde 2013
e não vence a Libertadores
desde 1981.
3. Qualidade do plantel
Subaproveitado por Abel Braga,
que taticamente está a anos-luz de conseguir construir e organizar uma equipa
nos vários momentos do jogo como Jorge
Jesus, o plantel do Flamengo é um dos melhores do Brasileirão, se não mesmo
o melhor. O
experiente guarda-redes Diego Alves, o
central que há muito se tem falado para clubes europeus Rodrigo Caio, os
médios internacionais brasileiros Willian
Arão, Éverton Ribeiro e Diego, os extremos desequilibradores Vitinho e
Bruno Henrique, a contratação mais cara de sempre do clube De Arrascaeta e o
goleador Gabriel Barbosa são algumas das unidades que compõem o elenco.
O gigante carioca foi mesmo o
clube que (de longe!) gastou mais dinheiro em contratações nesta época no
Brasil: 38,33 milhões de euros. As principais foram Giorgian de Arrascaeta por
13 milhões de euros ao Cruzeiro, Vitinho por 12 M ao CSKA Moscovo, Bruno
Henrique por 5,33 M ao Santos, Rodrigo
Caio por 5 M ao São Paulo e Piris da Motta por 3 M ao San Lorenzo.
Em termos de valor de mercado, o transfermarkt diz que o Flamengo é a
terceira equipa mais cotada do campeonato brasileiro, com 95,7 M, sendo apenas
superado pelo Santos de Jorge Sampaoli (97,95 M) e pelo Palmeiras
de Luiz Felipe Scolari (116,05 M).
A qualidade do elenco e estes
valores poderão aumentar caso o Flamengo venha mesmo a avançar para as
contratações dos laterais Rafinha e Filipe Luís, em final de contrato com
Bayern Munique e Atlético
Madrid.
4. Dimensão do Flamengo
Depois de ter orientado o Benfica
e o Sporting em Portugal, Jorge
Jesus terá agora a oportunidade de treinar um grande clube no Brasil, o
Flamengo. É verdade que os torcedores
rubro-negros não têm estado habituados a conquistar grandes títulos nos
últimos anos, mas se há coisa que nunca diminui no Brasil é a exigência.
Com uma massa adepta entre 30 a
40 milhões de pessoas, o Flamengo é nessa vertente o maior clube do Brasil e,
segundo alguns estudos, o maior clube do mundo.
Ou seja, se para muitos o
principal obstáculo para Jorge
Jesus no estrangeiro seria o idioma, agora o treinador amadorense vai
orientar o maior clube de língua portuguesa que existe.
5. Qualidade de Jorge Jesus
Os leitores brasileiros que não
tenham dúvidas: Jorge
Jesus é um extraordinário treinador, muito avançado apesar dos 64 anos e se
não fossem as dificuldades linguísticas e a idade, certamente que clubes de
topo europeu já teriam apostado nele.
Estamos a falar de um treinador
que há dez anos assumiu o comando técnico do Benfica, prometeu uma equipa a
jogar o dobro e devolveu o clube da Luz não só aos títulos como a um nível de
exigência que há muito tempo os benfiquistas não estavam habituados a ter. Com
ele, os encarnados conseguiram ganhar dois campeonatos consecutivos mais de 30
anos depois e chegar a duas finais europeias, etapa em que não marcavam
presença desde 1990.
Mas mais do que os resultados,
importa salientar a criatividade ofensiva e a organização defensiva das suas
equipas, assim como os jogadores que tem potenciado sobretudo ao longo destes
dez últimos anos. David Luiz, Fábio Coentrão, Matic, Di María, Rodrigo e Enzo
Pérez foram alguns dos que atingiram um nível elevadíssimo nas mãos de Jesus.
A exigência que o treinador
português coloca em cada jogador é tremenda e, embora sejam muitos casos de
futebolistas que lhe tecem rasgados elogios às qualidades táticas de Jesus,
também há relatos de que o técnico não seja muito humano na forma como lida com
os atletas. Esse poderá ser o principal entrave para ele no Brasil, um país que
por ter sido campeão mundial por cinco vezes – mais do que qualquer outro –
resiste à entrada de treinadores estrangeiros por algum complexo de
superioridade. E uma coisa é potenciar jogadores de várias proveniências e
desenvolver um modelo de jogo em Portugal, outra é ter toda aquela tremenda
exigência técnico-tática no Brasil, perante um grupo de jogadores
maioritariamente brasileiros e uma crítica que já torcia o nariz ainda antes de
a contratação de Jesus se consumar.
Para o bem ou para o mal, a pausa
de um mês das competições brasileiras entre meio de junho e de julho poderá ser
decisiva para o sucesso de Jorge
Jesus no Flamengo.
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