segunda-feira, 3 de junho de 2019

Cinco razões para Jorge Jesus dar certo no Flamengo

Jorge Jesus assinou por uma temporada pelo Flamengo
Aos 64 anos, Jorge Jesus prepara-se para a segunda aventura fora de Portugal, a primeira no Brasil, e logo num clube com uma massa adepta tão grande como o Flamengo. Depois de se ter afirmado como um dos melhores treinadores portugueses e ter mostrado o seu valor à Europa, vai rumar a um futebol bem com características bem diferentes, com conceitos táticos e um calendário muito próprios e um equilíbrio competitivo que torna possível uma escorregadela em qualquer campo, diante de qualquer adversário. Ainda assim, há razões para acreditar que o amadorense vai deixar a sua marca no emblema rubro-negro. Conheça as cinco principais.



1. Conhecimento do futebol brasileiro

Quem orienta uma equipa em Portugal e está limitado orçamentalmente, sabe que tem de ser engenhoso na abordagem ao mercado para acrescentar qualidade a um plantel. E esse engenho passa muitas vezes por recorrer ao mercado sul-americano, nomeadamente ao brasileiro, e acenar aos futebolistas canarinhos a possibilidade de rumar ao futebol europeu.
A ligação de Jorge Jesus à contratação de futebolistas brasileiros é forte, longa e quase que se pode dizer que histórica, mas recordemos só as que aconteceram desde que o treinador rumou ao Benfica, há dez anos. Umas correram tremendamente bem, outras nem tanto. Afinal, só depois de se abrir um melão é que se pode garantir que ele é bom.
Ramires (ex-Cruzeiro), Patric (ex-São Caetano), Weldon (ex-Cruzeiro, dois anos depois de o ter levado para o Belenenses), Keirrison (ex-Palmeiras), Júlio César (ex-Belenenses, mas contratado ao Botafogo por ele quando estava no Restelo), Felipe Menezes (ex-Goiás), Alan Kardec (ex-Vasco), Airton (ex-Flamengo), Éder Luís (ex-Atlético Mineiro), Bruno César (ex-Corinthians), Bruno Cortez (ex-São Paulo), César (ex-Ponte Preta), Luís Felipe (ex-Criciúma), Talisca (ex-Bahia) foram contratados por indicação de Jesus pelo Benfica entre 2009 e 2015, André e Elias (ambos ex-Corinthians) e Wendel (ex-Fluminense) pelo Sporting entre 2015 e 2018.
Este conhecimento logicamente que não será apenas de jogadores observados mas também dos sistemas táticos, modelos de jogo e estratégias adotadas pelos treinadores brasileiros e pelos conceitos muito próprios do futebol brasileiro, como volante e meia, que não significam médio defensivo e médio ofensivo na totalidade da sua essência.



2. Flamengo ainda pode ganhar tudo

O Flamengo já venceu o Campeonato Carioca nesta época e ainda está envolvido em três frentes. No Brasileirão, ocupa o pelotão da frente e vai bem a tempo de ser campeão sem estar muito preocupado com os resultados dos adversários mais diretos. Na Copa do Brasil, há um encontro escaldante com o Corinthians esta terça-feira, mas mesmo em caso de eliminação há mais para ganhar. Nas suas primeiras palavras como treinador do gigante carioca, Jorge Jesus mencionou a possibilidade de chegar à final do Mundial de Clubes, o que teria necessariamente pela conquista da Libertadores, prova em que o rubro-negro tem um confronto agendado com os equatorianos do Emelec nos oitavos de final.
Ainda assim, convém recordar que o Flamengo já não é campeão brasileiro desde 2009, não ganha a Copa desde 2013 e não vence a Libertadores desde 1981.



3. Qualidade do plantel

Subaproveitado por Abel Braga, que taticamente está a anos-luz de conseguir construir e organizar uma equipa nos vários momentos do jogo como Jorge Jesus, o plantel do Flamengo é um dos melhores do Brasileirão, se não mesmo o melhor. O experiente guarda-redes Diego Alves, o central que há muito se tem falado para clubes europeus Rodrigo Caio, os médios internacionais brasileiros Willian Arão, Éverton Ribeiro e Diego, os extremos desequilibradores Vitinho e Bruno Henrique, a contratação mais cara de sempre do clube De Arrascaeta e o goleador Gabriel Barbosa são algumas das unidades que compõem o elenco.
O gigante carioca foi mesmo o clube que (de longe!) gastou mais dinheiro em contratações nesta época no Brasil: 38,33 milhões de euros. As principais foram Giorgian de Arrascaeta por 13 milhões de euros ao Cruzeiro, Vitinho por 12 M ao CSKA Moscovo, Bruno Henrique por 5,33 M ao Santos, Rodrigo Caio por 5 M ao São Paulo e Piris da Motta por 3 M ao San Lorenzo.
Em termos de valor de mercado, o transfermarkt diz que o Flamengo é a terceira equipa mais cotada do campeonato brasileiro, com 95,7 M, sendo apenas superado pelo Santos de Jorge Sampaoli (97,95 M) e pelo Palmeiras de Luiz Felipe Scolari (116,05 M).
A qualidade do elenco e estes valores poderão aumentar caso o Flamengo venha mesmo a avançar para as contratações dos laterais Rafinha e Filipe Luís, em final de contrato com Bayern Munique e Atlético Madrid.



4. Dimensão do Flamengo

Depois de ter orientado o Benfica e o Sporting em Portugal, Jorge Jesus terá agora a oportunidade de treinar um grande clube no Brasil, o Flamengo. É verdade que os torcedores rubro-negros não têm estado habituados a conquistar grandes títulos nos últimos anos, mas se há coisa que nunca diminui no Brasil é a exigência.
Com uma massa adepta entre 30 a 40 milhões de pessoas, o Flamengo é nessa vertente o maior clube do Brasil e, segundo alguns estudos, o maior clube do mundo.
Ou seja, se para muitos o principal obstáculo para Jorge Jesus no estrangeiro seria o idioma, agora o treinador amadorense vai orientar o maior clube de língua portuguesa que existe.



5. Qualidade de Jorge Jesus

Os leitores brasileiros que não tenham dúvidas: Jorge Jesus é um extraordinário treinador, muito avançado apesar dos 64 anos e se não fossem as dificuldades linguísticas e a idade, certamente que clubes de topo europeu já teriam apostado nele.
Estamos a falar de um treinador que há dez anos assumiu o comando técnico do Benfica, prometeu uma equipa a jogar o dobro e devolveu o clube da Luz não só aos títulos como a um nível de exigência que há muito tempo os benfiquistas não estavam habituados a ter. Com ele, os encarnados conseguiram ganhar dois campeonatos consecutivos mais de 30 anos depois e chegar a duas finais europeias, etapa em que não marcavam presença desde 1990.
Mas mais do que os resultados, importa salientar a criatividade ofensiva e a organização defensiva das suas equipas, assim como os jogadores que tem potenciado sobretudo ao longo destes dez últimos anos. David Luiz, Fábio Coentrão, Matic, Di María, Rodrigo e Enzo Pérez foram alguns dos que atingiram um nível elevadíssimo nas mãos de Jesus.
A exigência que o treinador português coloca em cada jogador é tremenda e, embora sejam muitos casos de futebolistas que lhe tecem rasgados elogios às qualidades táticas de Jesus, também há relatos de que o técnico não seja muito humano na forma como lida com os atletas. Esse poderá ser o principal entrave para ele no Brasil, um país que por ter sido campeão mundial por cinco vezes – mais do que qualquer outro – resiste à entrada de treinadores estrangeiros por algum complexo de superioridade. E uma coisa é potenciar jogadores de várias proveniências e desenvolver um modelo de jogo em Portugal, outra é ter toda aquela tremenda exigência técnico-tática no Brasil, perante um grupo de jogadores maioritariamente brasileiros e uma crítica que já torcia o nariz ainda antes de a contratação de Jesus se consumar.
Para o bem ou para o mal, a pausa de um mês das competições brasileiras entre meio de junho e de julho poderá ser decisiva para o sucesso de Jorge Jesus no Flamengo.























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