Campeões de 1999 recebidos pelo então Presidente da República |
Portugal conquistou neste domingo
o Campeonato da Europa de sub-19 pela primeira vez, depois de ter vencido por
três ocasiões o torneio antecessor, com o mesmo formato, mas destinado ao
escalão sub-18, que funcionou até 2001. Depois dos triunfos em 1961 e 1994 e
das finais perdidas em 1964, 1971, 1988, 1992 e 1997, uma jovem armada lusa
sagrou-se campeã continental em 1999, na Suécia, curiosamente, tal como sucedeu
neste domingo, com um triunfo diante da Itália.
Dos 18 convocados por Agostinho
Oliveira há 19 anos, seis chegaram à seleção principal, dos quais apenas três
foram titulares na final diante da Itália, decidida por um golo solitário do
avançado João Paulo. Uns construíram carreiras bastante razoáveis, outros nem
sequer se estrearam na I Liga. Uns ainda jogam, outros pararam há mais de uma
década. Independentemente do desfecho das carreiras de cada um, formavam uma
geração promissora, tal como esta
agora orientada por Hélio Sousa. No
entanto, há um mundo a separar as condições de trabalho que estes
têm e que os de 1999 não tiveram, como reconheceu o próprio selecionador,
que no rescaldo do título europeu realçou o "investimento cada vez maior
para ajudar no desenvolvimento destes jogadores" por parte dos clubes.
"A diferença de
infraestruturas é abismal, não há comparação. Estive cinco épocas em Braga
(2002-03 a 2006-07) e o Sp. Braga não tinha as infraestruturas que tem hoje. O
próprio Boavista, onde fiz a minha formação, e o FC Porto têm mais condições de
trabalho. Não falta nada e, dadas as condições existentes, os jogadores são
obrigados a evoluir mais rapidamente", considerou ao DN o antigo lateral
Pedro Costa, campeão europeu sub-18 nessa seleção de 1999.
"No meu tempo, apostar na formação significava pegar num jovem e
colocá-lo num plantel principal a treinar e a jogar. Hoje isso significa criar
infraestruturas e condições. Hoje, a maior parte dos jogadores vive no centro
de estágios. Isso tem um preço, mas no futuro consegue-se tirar partido disso",
acrescentou o ex-futebolista de 36 anos.
Moreira, com o dorsal 22, ao lado de Duda e Tonel |
Sem treinador de guarda-redes
Também o guarda-redes Moreira,
que esteve 12 anos no Benfica após concluir a formação no Salgueiros, encontra
diferenças colossais entre o que houve e há ao dispor dos jovens futebolistas.
"Naquele tempo, se não estou em erro, só o Vitória de Guimarães é que
tinha centro de estágios. Nem Benfica, nem FC Porto e nem Sporting tinham.
Hoje, as academias são uma antítese do que havia antes", contou o atual
guardião do Cova da Piedade ao DN, que há 19 anos era suplente de Pedro
Albergaria.
"Lembro-me de que estava no
Salgueiros e treinava em pelados. O
futebol de formação evoluiu imenso em Portugal de um dia para o outro. Em 1999,
era difícil encontrar um treinador de guarda-redes. Hoje, existe um treinador
de guarda-redes para cada escalão, e ainda bem. Em clubes mais pequenos, como o
Salgueiros, solicitava-se campo ao Rio Tinto ou ao Desportivo Portugal, e os
juniores treinavam apenas três vezes por semana. Hoje, os juniores treinam
quase diariamente, como os profissionais", aditou o internacional
português, também com 36 anos.
Moreira considera que "hoje
qualquer miúdo tem um acompanhamento completamente diferente a nível escolar,
físico e psicológico" e salienta a importância do crescimento das equipas
técnicas e da especialização no seio das mesmas. "Na altura, clubes como o
Salgueiros tinham um treinador principal, uma espécie de adjunto, um massagista
e um diretor. Hoje existem também preparadores físicos, treinadores de guarda-redes
e analistas de vídeo. As estruturas técnicas são muito maiores. Em 1999, não tínhamos treinador de
guarda-redes na seleção sub-18. A primeira vez que apanhei um treinador de
guarda-redes foi em 2004, no Europeu sub-21, e foi o Pedro Espinha, com o
qual também trabalhei no Salgueiros e agora também foi campeão europeu. Foi a
primeira vez que tive um treinador de guarda-redes", contou.
Pedro Costa ladeado por Miguel e Jorge Sampaio |
Pormenores mais trabalhados
Questionados sobre as mudanças
nos métodos de treino de 1999 para agora, Pedro Costa e Moreira frisam a
objetividade presente atualmente em cada sessão de trabalho. "O futebol é o mesmo. Continua a ser
um jogo num retângulo e com duas balizas, mas evoluiu e preocupa-se cada vez
mais com os pormenores. Treina-se mais o pormenor do que o global",
apontou o veterano guarda-redes, que após sair da Luz, em 2011, representou o
Swansea (Inglaterra), o Omonia (Chipre), o Olhanense e o Estoril.
"Os treinadores estão mais
informados do que antes, e incidem mais no aspeto tático. Os treinos têm
objetivos mais concretos e há mais material e condições. Só não joga futebol
quem não quer. Fartei-me de jogar em pelados e hoje já nem nos distritais são
permitidos", analisou o antigo lateral, que orienta o Alvarenga, da 1.ª
Divisão dos campeonatos da Associação de Futebol de Aveiro.
Mais facilitada, no entender do
ex-futebolista, está também a transição de júnior para sénior. "As equipas B vieram facilitar, ajudar
e desenvolver muito. Há uma diferença muito grande", atirou. Já
Moreira acredita que não é bem assim. "O que existe hoje é uma maior
facilidade em movimentar jogadores. Naquela altura, olhava-se mais para dentro
de Portugal, hoje olha-se muito para fora. Mas é verdade que com as equipas B
não existe um fosso competitivo tão grande entre o futebol júnior e sénior",
considera o guarda-redes, que saltou diretamente dos juniores do Salgueiros
para a equipa principal do Benfica em 1999.
Os campeões de 1999 na chegada a Lisboa |
As carreiras dos campeões de há 19 anos
Pedro Albergaria: foi o guarda-redes titular na final do Europeu de
1999, mas não chegou a estrear-se na I Liga. Representa o Vizela, do Campeonato
de Portugal.
Moreira: era o guardião suplente no Euro sub-18, mas construiu uma
carreira muito interessante, tendo jogado 148 vezes pela equipa principal do
Benfica e uma vez pela seleção AA. Defende a baliza do Cova da Piedade, na II
Liga.
Tonel: formou-se no FC Porto, mas foi ao serviço do Sporting que
mais se destacou, entre 2005 e 2010. Este antigo central foi duas vezes
internacional AA, pendurou as botas em 2016 e já conta com duas experiências
como treinador, no União de Lamas e Lusitânia Lourosa, ambas nos distritais de
Aveiro.
Ricardo Costa: após o Europeu sub-18, saltou do Boavista para o FC
Porto, clube pelo qual venceu uma Taça UEFA e uma Liga dos Campeões. Jogou no
estrangeiro em clubes como o Wolfsburgo, o Lille e o Valência antes de voltar a
Portugal no ano passado, pela porta do Tondela. Foi 22 vezes internacional AA,
esteve em três Mundiais e num Europeu.
Vasco Faísca: central formado no Sporting, fez praticamente toda a
carreira em Itália, tendo chegado a jogar na Serie A em 2001, ao serviço do
Vicenza. Atual adjunto do Vilafranquense (Campeonato de Portugal), atuou na I
Liga ao serviço de Académica e Belenenses.
Capitão Ricardo Costa entrega camisola a António Guterres |
Pedro Costa: começou e terminou a carreira com épocas com poucos
jogos no Boavista. Lateral de baixa estatura, viveu os seus momentos de maior
fulgor no Sp. Braga e na Académica. Retirado em 2015, orienta o Alvarenga, dos
distritais de Aveiro.
Semedo: defesa formado no Vitória de Setúbal, jogou duas épocas no
Bonfim e uma no Campomaiorense na I Liga e passou uma temporada na II Divisão B
ao serviço do Imortal antes de rumar ao futebol norte-americano, onde encerrou
a carreira em 2007.
Miguel: dos campeões europeus sub-18 de 1999, foi o que conseguiu
ter um papel mais importante na seleção principal, uma vez que somou 59
internacionalizações, foi titular no Euro 2004 e no Mundial 2006 e ainda esteve
no Euro 2008 e no Mundial 2010. A nível de clubes, começou a extremo no Estrela
da Amadora, mas foi convertido a lateral no Benfica, pelo qual foi campeão e de
onde saiu para a Liga Espanhola, tendo atuado sete temporadas no Valência antes
de pendurar as botas, em 2012.
João Pedro: defesa formado no FC Porto, fez quase toda a carreira
em Portugal, mas jogou apenas quatro temporadas na I Liga, uma ao serviço do
Estoril e três pelo Gil Vicente. Pôs um ponto final no seu percurso
profissional há dois anos, no Trofense.
Hugo Cruz: também foi formado no FC Porto, mas deu-se pouco por
este médio a nível sénior. O melhor que conseguiu foi jogar na II Liga, por
Leça e Arouca.
Cândido Costa |
João Alves: médio natural de Chaves, iniciou-se no futebol no
Desportivo local, antes de dar o salto para o Sp. Braga. Uma boa temporada no
Minho, em 2004-05, catapultou-o para o Sporting e para a seleção principal, que
chegou a representar por três vezes. Começou bem de leão ao peito, mas foi
perdendo fulgor e saiu ao fim de dois anos para o V. Guimarães. Pendurou as
botas em 2015, no Freamunde.
Cândido Costa: era jogador do Benfica quando do Campeonato da
Europa de sub-18 de 1999, mas é ao FC Porto que associamos este extremo, que
pendurou as botas em 2015 e orientava a equipa feminina do Cesarense na época
passada. Fez mais de 50 jogos pelo FC Porto e passou noutros emblemas da I Liga
como V. Setúbal, Sp. Braga ou Belenenses.
Carlos Mota: produto da formação do Benfica, integrou a antiga
equipa B dos encarnados antes de emigrar por um ano para a Alemanha, para
representar o Dínamo Dresden. Voltou a Portugal pela porta do Felgueiras, mas
desde 2004 que tem estado quase sempre ao serviço de clubes do Algarve nas
divisões inferiores. Na época passada este médio vestiu as cores do Quarteira,
nos distritais algarvios.
Ernesto: na altura do título europeu, o avançado luso-angolano era
júnior do Boavista. Passou por Leça, Salgueiros, Gondomar, Olhanense e Mafra.
Teve experiências no estrangeiro na Grécia, na Indonésia e na Suécia, em
equipas de segundo plano. O último clube conhecido foi o Procyon BK, da Suécia,
em 2013. Aos 38 anos está retirado do futebol.
Pepa: foi considerado o melhor jogador no torneio ganho por
Portugal em 1999, onde chegou já depois de se ter estreado pela equipa
principal do Benfica. Era apontado como uma das grandes promessas do futebol
português, mas nunca chegou a esse patamar. Jogou no Lierse (Bélgica), Varzim,
P. Ferreira e Olhanense, e foi no clube algarvio que terminou a carreira de
jogador em 2007. Hoje é treinador do Tondela.
Duda: o médio, hoje com 38 anos, foi dos jogadores desta geração
que tiveram mais sucesso, apesar de ter feito a carreira sempre fora de
Portugal. Nesse mesmo ano de 1999 rumou a Espanha para representar o Cádis e
seguiu-se o Málaga, onde jogou praticamente toda a carreira, exceção feita a um
ano no Levante e dois em Sevilha. Ainda foi 18 vezes internacional A e
atualmente é olheiro do Málaga.
Pepa na final diante de Itália |
João Paulo: o avançado foi o autor do golo na final frente à Itália
que valeu o título de campeão europeu a Portugal em 1999. Realizou um total de
140 jogos na I Liga e passou por clubes como Estoril, Leixões. U. Leiria. P.
Ferreira, Beira Mar, Varzim e Boavista. Teve ainda quatro experiências no
estrangeiro: Tenerife (Espanha), Rapid Bucareste (Roménia), Khazar (Azerbaijão)
e Apollon Limassol (Chipre). Na época passada alinhou no Futebol Clube da Foz,
dos distritais.
Filipe Teixeira: aos 37 anos, o médio/extremo ainda continua no
ativo, na Roménia, ao serviço do Steaua de Bucareste. No Europeu de 1999 era
jogador do Felgueiras e na época 2002-03 chegou ao Paris-Saint Germain, equipa
onde em duas épocas ainda realizou 25 jogos. Regressou a Portugal para jogar
duas temporadas na Académica e voltou a emigrar em 2007-08. A partir daí jogou
no West Bromwich e no Barnsley (Inglaterra), Metalurh Donetsk (Ucrânia),
Al-Shaab (Emirados), Brasov, Rapid Bucareste, Petrolul, Astra Giurgiu e Steaua
de Bucareste (Roménia).
Link original: https://www.dn.pt/edicao-do-dia/31-jul-2018/interior/de-1999-a-2018-o-que-mudou-entre-as-duas-geracoes-portuguesas-campeas-da-europa--9656911.html
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