quarta-feira, 1 de agosto de 2018

De 1999 a 2018. O que mudou entre as duas gerações portuguesas campeãs da Europa

Campeões de 1999 recebidos pelo então Presidente da República

Portugal conquistou neste domingo o Campeonato da Europa de sub-19 pela primeira vez, depois de ter vencido por três ocasiões o torneio antecessor, com o mesmo formato, mas destinado ao escalão sub-18, que funcionou até 2001. Depois dos triunfos em 1961 e 1994 e das finais perdidas em 1964, 1971, 1988, 1992 e 1997, uma jovem armada lusa sagrou-se campeã continental em 1999, na Suécia, curiosamente, tal como sucedeu neste domingo, com um triunfo diante da Itália.


Dos 18 convocados por Agostinho Oliveira há 19 anos, seis chegaram à seleção principal, dos quais apenas três foram titulares na final diante da Itália, decidida por um golo solitário do avançado João Paulo. Uns construíram carreiras bastante razoáveis, outros nem sequer se estrearam na I Liga. Uns ainda jogam, outros pararam há mais de uma década. Independentemente do desfecho das carreiras de cada um, formavam uma geração promissora, tal como esta agora orientada por Hélio Sousa. No entanto, há um mundo a separar as condições de trabalho que estes têm e que os de 1999 não tiveram, como reconheceu o próprio selecionador, que no rescaldo do título europeu realçou o "investimento cada vez maior para ajudar no desenvolvimento destes jogadores" por parte dos clubes.

"A diferença de infraestruturas é abismal, não há comparação. Estive cinco épocas em Braga (2002-03 a 2006-07) e o Sp. Braga não tinha as infraestruturas que tem hoje. O próprio Boavista, onde fiz a minha formação, e o FC Porto têm mais condições de trabalho. Não falta nada e, dadas as condições existentes, os jogadores são obrigados a evoluir mais rapidamente", considerou ao DN o antigo lateral Pedro Costa, campeão europeu sub-18 nessa seleção de 1999.

"No meu tempo, apostar na formação significava pegar num jovem e colocá-lo num plantel principal a treinar e a jogar. Hoje isso significa criar infraestruturas e condições. Hoje, a maior parte dos jogadores vive no centro de estágios. Isso tem um preço, mas no futuro consegue-se tirar partido disso", acrescentou o ex-futebolista de 36 anos.

Moreira, com o dorsal 22, ao lado de Duda e Tonel

Sem treinador de guarda-redes

Também o guarda-redes Moreira, que esteve 12 anos no Benfica após concluir a formação no Salgueiros, encontra diferenças colossais entre o que houve e há ao dispor dos jovens futebolistas. "Naquele tempo, se não estou em erro, só o Vitória de Guimarães é que tinha centro de estágios. Nem Benfica, nem FC Porto e nem Sporting tinham. Hoje, as academias são uma antítese do que havia antes", contou o atual guardião do Cova da Piedade ao DN, que há 19 anos era suplente de Pedro Albergaria.

"Lembro-me de que estava no Salgueiros e treinava em pelados. O futebol de formação evoluiu imenso em Portugal de um dia para o outro. Em 1999, era difícil encontrar um treinador de guarda-redes. Hoje, existe um treinador de guarda-redes para cada escalão, e ainda bem. Em clubes mais pequenos, como o Salgueiros, solicitava-se campo ao Rio Tinto ou ao Desportivo Portugal, e os juniores treinavam apenas três vezes por semana. Hoje, os juniores treinam quase diariamente, como os profissionais", aditou o internacional português, também com 36 anos.

Moreira considera que "hoje qualquer miúdo tem um acompanhamento completamente diferente a nível escolar, físico e psicológico" e salienta a importância do crescimento das equipas técnicas e da especialização no seio das mesmas. "Na altura, clubes como o Salgueiros tinham um treinador principal, uma espécie de adjunto, um massagista e um diretor. Hoje existem também preparadores físicos, treinadores de guarda-redes e analistas de vídeo. As estruturas técnicas são muito maiores. Em 1999, não tínhamos treinador de guarda-redes na seleção sub-18. A primeira vez que apanhei um treinador de guarda-redes foi em 2004, no Europeu sub-21, e foi o Pedro Espinha, com o qual também trabalhei no Salgueiros e agora também foi campeão europeu. Foi a primeira vez que tive um treinador de guarda-redes", contou.
Pedro Costa ladeado por Miguel e Jorge Sampaio


Pormenores mais trabalhados

Questionados sobre as mudanças nos métodos de treino de 1999 para agora, Pedro Costa e Moreira frisam a objetividade presente atualmente em cada sessão de trabalho. "O futebol é o mesmo. Continua a ser um jogo num retângulo e com duas balizas, mas evoluiu e preocupa-se cada vez mais com os pormenores. Treina-se mais o pormenor do que o global", apontou o veterano guarda-redes, que após sair da Luz, em 2011, representou o Swansea (Inglaterra), o Omonia (Chipre), o Olhanense e o Estoril.

"Os treinadores estão mais informados do que antes, e incidem mais no aspeto tático. Os treinos têm objetivos mais concretos e há mais material e condições. Só não joga futebol quem não quer. Fartei-me de jogar em pelados e hoje já nem nos distritais são permitidos", analisou o antigo lateral, que orienta o Alvarenga, da 1.ª Divisão dos campeonatos da Associação de Futebol de Aveiro.

Mais facilitada, no entender do ex-futebolista, está também a transição de júnior para sénior. "As equipas B vieram facilitar, ajudar e desenvolver muito. Há uma diferença muito grande", atirou. Já Moreira acredita que não é bem assim. "O que existe hoje é uma maior facilidade em movimentar jogadores. Naquela altura, olhava-se mais para dentro de Portugal, hoje olha-se muito para fora. Mas é verdade que com as equipas B não existe um fosso competitivo tão grande entre o futebol júnior e sénior", considera o guarda-redes, que saltou diretamente dos juniores do Salgueiros para a equipa principal do Benfica em 1999.


Os campeões de 1999 na chegada a Lisboa

As carreiras dos campeões de há 19 anos

Pedro Albergaria: foi o guarda-redes titular na final do Europeu de 1999, mas não chegou a estrear-se na I Liga. Representa o Vizela, do Campeonato de Portugal.

Moreira: era o guardião suplente no Euro sub-18, mas construiu uma carreira muito interessante, tendo jogado 148 vezes pela equipa principal do Benfica e uma vez pela seleção AA. Defende a baliza do Cova da Piedade, na II Liga.

Tonel: formou-se no FC Porto, mas foi ao serviço do Sporting que mais se destacou, entre 2005 e 2010. Este antigo central foi duas vezes internacional AA, pendurou as botas em 2016 e já conta com duas experiências como treinador, no União de Lamas e Lusitânia Lourosa, ambas nos distritais de Aveiro.

Ricardo Costa: após o Europeu sub-18, saltou do Boavista para o FC Porto, clube pelo qual venceu uma Taça UEFA e uma Liga dos Campeões. Jogou no estrangeiro em clubes como o Wolfsburgo, o Lille e o Valência antes de voltar a Portugal no ano passado, pela porta do Tondela. Foi 22 vezes internacional AA, esteve em três Mundiais e num Europeu.

Vasco Faísca: central formado no Sporting, fez praticamente toda a carreira em Itália, tendo chegado a jogar na Serie A em 2001, ao serviço do Vicenza. Atual adjunto do Vilafranquense (Campeonato de Portugal), atuou na I Liga ao serviço de Académica e Belenenses.

Capitão Ricardo Costa entrega camisola a António Guterres
Pedro Costa: começou e terminou a carreira com épocas com poucos jogos no Boavista. Lateral de baixa estatura, viveu os seus momentos de maior fulgor no Sp. Braga e na Académica. Retirado em 2015, orienta o Alvarenga, dos distritais de Aveiro.

Semedo: defesa formado no Vitória de Setúbal, jogou duas épocas no Bonfim e uma no Campomaiorense na I Liga e passou uma temporada na II Divisão B ao serviço do Imortal antes de rumar ao futebol norte-americano, onde encerrou a carreira em 2007.

Miguel: dos campeões europeus sub-18 de 1999, foi o que conseguiu ter um papel mais importante na seleção principal, uma vez que somou 59 internacionalizações, foi titular no Euro 2004 e no Mundial 2006 e ainda esteve no Euro 2008 e no Mundial 2010. A nível de clubes, começou a extremo no Estrela da Amadora, mas foi convertido a lateral no Benfica, pelo qual foi campeão e de onde saiu para a Liga Espanhola, tendo atuado sete temporadas no Valência antes de pendurar as botas, em 2012.

João Pedro: defesa formado no FC Porto, fez quase toda a carreira em Portugal, mas jogou apenas quatro temporadas na I Liga, uma ao serviço do Estoril e três pelo Gil Vicente. Pôs um ponto final no seu percurso profissional há dois anos, no Trofense.

Hugo Cruz: também foi formado no FC Porto, mas deu-se pouco por este médio a nível sénior. O melhor que conseguiu foi jogar na II Liga, por Leça e Arouca.

Cândido Costa
João Alves: médio natural de Chaves, iniciou-se no futebol no Desportivo local, antes de dar o salto para o Sp. Braga. Uma boa temporada no Minho, em 2004-05, catapultou-o para o Sporting e para a seleção principal, que chegou a representar por três vezes. Começou bem de leão ao peito, mas foi perdendo fulgor e saiu ao fim de dois anos para o V. Guimarães. Pendurou as botas em 2015, no Freamunde.

Cândido Costa: era jogador do Benfica quando do Campeonato da Europa de sub-18 de 1999, mas é ao FC Porto que associamos este extremo, que pendurou as botas em 2015 e orientava a equipa feminina do Cesarense na época passada. Fez mais de 50 jogos pelo FC Porto e passou noutros emblemas da I Liga como V. Setúbal, Sp. Braga ou Belenenses.

Carlos Mota: produto da formação do Benfica, integrou a antiga equipa B dos encarnados antes de emigrar por um ano para a Alemanha, para representar o Dínamo Dresden. Voltou a Portugal pela porta do Felgueiras, mas desde 2004 que tem estado quase sempre ao serviço de clubes do Algarve nas divisões inferiores. Na época passada este médio vestiu as cores do Quarteira, nos distritais algarvios.

Ernesto: na altura do título europeu, o avançado luso-angolano era júnior do Boavista. Passou por Leça, Salgueiros, Gondomar, Olhanense e Mafra. Teve experiências no estrangeiro na Grécia, na Indonésia e na Suécia, em equipas de segundo plano. O último clube conhecido foi o Procyon BK, da Suécia, em 2013. Aos 38 anos está retirado do futebol.

Pepa: foi considerado o melhor jogador no torneio ganho por Portugal em 1999, onde chegou já depois de se ter estreado pela equipa principal do Benfica. Era apontado como uma das grandes promessas do futebol português, mas nunca chegou a esse patamar. Jogou no Lierse (Bélgica), Varzim, P. Ferreira e Olhanense, e foi no clube algarvio que terminou a carreira de jogador em 2007. Hoje é treinador do Tondela.


Duda: o médio, hoje com 38 anos, foi dos jogadores desta geração que tiveram mais sucesso, apesar de ter feito a carreira sempre fora de Portugal. Nesse mesmo ano de 1999 rumou a Espanha para representar o Cádis e seguiu-se o Málaga, onde jogou praticamente toda a carreira, exceção feita a um ano no Levante e dois em Sevilha. Ainda foi 18 vezes internacional A e atualmente é olheiro do Málaga.

Pepa na final diante de Itália
João Paulo: o avançado foi o autor do golo na final frente à Itália que valeu o título de campeão europeu a Portugal em 1999. Realizou um total de 140 jogos na I Liga e passou por clubes como Estoril, Leixões. U. Leiria. P. Ferreira, Beira Mar, Varzim e Boavista. Teve ainda quatro experiências no estrangeiro: Tenerife (Espanha), Rapid Bucareste (Roménia), Khazar (Azerbaijão) e Apollon Limassol (Chipre). Na época passada alinhou no Futebol Clube da Foz, dos distritais.

Filipe Teixeira: aos 37 anos, o médio/extremo ainda continua no ativo, na Roménia, ao serviço do Steaua de Bucareste. No Europeu de 1999 era jogador do Felgueiras e na época 2002-03 chegou ao Paris-Saint Germain, equipa onde em duas épocas ainda realizou 25 jogos. Regressou a Portugal para jogar duas temporadas na Académica e voltou a emigrar em 2007-08. A partir daí jogou no West Bromwich e no Barnsley (Inglaterra), Metalurh Donetsk (Ucrânia), Al-Shaab (Emirados), Brasov, Rapid Bucareste, Petrolul, Astra Giurgiu e Steaua de Bucareste (Roménia).


Link original: https://www.dn.pt/edicao-do-dia/31-jul-2018/interior/de-1999-a-2018-o-que-mudou-entre-as-duas-geracoes-portuguesas-campeas-da-europa--9656911.html









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