Suk foi a principal arma do Vitória nas bolas divididas |
O Vitória abandonou o 4x3x3
habitual das últimas temporadas e aderiu à moda do 4x4x2 (ou 4x1x3x2), seguindo
Benfica, Sporting, SC Braga e Paços de Ferreira. Mas muito mais importante que
o sistema tático é o modelo de jogo, ou seja, as movimentações dos jogadores e
o movimento que eles dão à bola.
Apesar da presença de dois homens
no ataque, cada treinador dá-lhes uma utilização diferente. No Sporting e no
Benfica, por exemplo, Slimani e Mitroglou ficam mais fixos na área enquanto o
outro avançado (Teo Gutiérrez e Jonas, consoante o caso) jogam mais soltos. Quim
Machado optou por dar grande liberdade não só a um deles, mas a ambos. Suk e
André Claro, muito móveis, caem alternadamente no flanco e baixam para receber
a bola.
Tenho também lido que o Vitória é
uma equipa que privilegiava a circulação de bola, mas a única circulação que
vejo é entre os elementos da zona mais recuada quando é necessário reorganizar
a equipa.
Fig. 1 |
Fig. 2 |
O emblema de Setúbal é, sim, uma
equipa de transições: Paulo Tavares baixa até junto dos centrais e bombeia a
bola para direita, entre o central e lateral adversários, espaço atacado por
Suk ou por Costinha na direita [ver fig. 1]. Outras vezes é Frederico Venâncio, com
qualidade técnica e visão de jogo, a desmarcar um colega de ataque, até mesmo
com um passe rente à relva [ver fig. 2]. E ainda houve alturas em que os sadinos optaram ou
viram-se obrigados a bombear bolas, com Suk como referência a tentar ganhar o
duelo aéreo.
Depois, na segunda parte, tudo se
desmoronou. Talvez alguns jogadores tivessem acusado excesso de confiança pela
vantagem que levavam tanto no resultado como em número de jogadores em campo e
pelo que o Boavista não mostrou na etapa inicial.
Mas a equipa setubalense também
recuou em demasia – que é como quem diz: pôs-se a jeito -, convidou os
axadrezados a atacar a baliza de Raeder e estes, mesmo reduzidos a dez, num
lance em que Paulo Tavares estava caído (e assim sendo a vantagem numérica
pouco contou), reduziram para 1-2. Numa bola parada, ou seja, noutro lance em
que a vantagem/desvantagem numérica também pouco contava, os homens de Petit
chegaram ao empate. Assim se explica o resultado.
Ficha de jogo
4x1x3x2 de Quim Machado |
Vitória (4x1x3x2): Raeder; William Alves, Frederico Venâncio, Fábio
Pacheco e Nuno Pinto; Paulo Tavares c (Dani, 78);
Costinha, André Horta a Ruca (Uli Dávila, 83); Suk e André Claro (Zequinha, 86)
Suplentes não utilizados:
Miguel Lázaro (GR), François, Miguel Lourenço e Vasco Costa
Treinador: Quim Machado
Disciplina: Cartão amarelo
a Costinha (35) e Uli Dávila (90+3)
Boavista (4x3x3): Gideão; Inkoom, Phillipe Sampaio, Paulo Vinicius
e Afonso Figueiredo; Tengarrinha c, Idris e Rúben
Gabriel (Leozinho, 29); Diego Lima (Anderson Carvalho, 69), Uchebo (José
Manuel, 60) e Luisinho
Suplentes não utilizados: Mika
(GR), Nuno Henrique, Pouga e Anderson Correia
Treinador: Petit
Disciplina: Cartão amarelo
a Idris (45+1 e 68) e Inkoom (90); Cartão vermelho por acumulação a Idris (68)
Árbitro: Vasco Santos (AF Porto), assistido por Bruno Rodrigues e Sérgio
Jesus e com João Bento como 4.º árbitro
Golos
1-0, por André Claro (17’ ). Suk, que estava no flanco
direito, atrasou a bola para Frederico Venâncio, que por sua vez passou
rasteiro de primeira para André Claro. Este escapou à tentativa de desarme de
Idris e de fora da área, descaído para o lado direito, rematou, a bola ainda
bateu no relvado antes de chegar à baliza e só parou no fundo das redes.
2-0, por Ruca (45’ ). André Claro, junto à
linha de meio-campo, bombeou uma bola para as costas da defesa boavisteira. Suk
ganhou a dividida a Paulo Vinícius – nortenhos ficaram a pedir falta – e
encontrou Ruca desmarcado na esquerda, que completamente à vontade bateu Gideão
de pé esquerdo.
2-1, por Afonso Figueiredo
(74’ ).
Numa altura em que Paulo Tavares
estava caído no relvado, Luisinho progrediu pela esquerda, chegou à linha de
fundo e atrasou para Afonso Figueiredo, que rematou em arco de pé esquerdo e
bateu Raeder. A bola ainda embateu no poste antes de beijar a rede.
2-2, por Luisinho (81’ ). Livre lateral cobrado a
meia altura, no lado esquerdo, numa espécie de cruzamento/remate. Ninguém
desviou a bola e esta acabou por bater no relvado e trair Raeder.
Apreciação individual
Raeder: Não me convence
minimamente. É incapaz de agarrar uma bola nos cruzamentos pelo ar, é pouco
expedito a sair de entre os postes, não é fiável a jogar com os pés e ficou mal
na fotografia em ambos os golos. No primeiro (74’ ) até podia não ter
hipóteses de defesa, mas a sua expressão corporal deu a entender que tinha tudo
sob controlo… quando não tinha. No segundo (81’) atirou-se demasiado cedo para
o relvado, não conseguindo perceber que o esférico ainda iria embater no
relvado, podendo-o trair, como veio a acontecer.
William Alves: Central adaptado
ao lado direito da defesa, por falta de opções, uma vez que o croata Gorupec tinha
acabado de ser contratado e Fábio Pala não conta para Quim Machado. Como era de
esperar, não deu grande profundidade, mas cumpriu defensivamente, embora o 2-1
tenha nascido no seu lado.
Frederico Venâncio foi dos melhores em campo |
Frederico Venâncio: Foi o
protagonista da primeira grande ocasião de golo, ao aparecer ao segundo poste
para cabecear para fora após livre de Nuno Pinto na direita (9’ ). Sem medo de arriscar no
jogo com os pés, foi dele o último passe para o primeiro tento, marcado por
André Claro (17’ ).
Com mais um passe rasteiro, isolou Suk aos 27’ .
Fábio Pacheco: Outro que
jogou adaptado a uma nova posição. É médio defensivo mas atuou a central. Não
sei se por algum nervosismo pela estreia na Liga, o ex-Tondela pareceu-me muito
menos fiável que o companheiro do centro da defesa a jogar com os pés e apesar
da elevada estatura não se fez impor assim tanto no jogo aéreo.
Nuno Pinto: Dos mais
experientes nestas andanças, não acusou ansiedade neste arranque de campeonato,
mas deixou algo a desejar. Pouca profundidade e várias bolas perdidas. Foi o
homem das bolas paradas. Aos 90’
atirou para as nuvens um livre direto potencialmente perigoso.
Paulo Tavares: Envergou a
braçadeira de capitão e foi o patrão do meio campo. Baixou até junto aos
centrais para pegar no jogo. Geralmente foi dele o passe longo para o espaço
entre o central e lateral ou para as costas do lateral adversário. Entregou
quase sempre a bola redondinha, sendo uma espécie de Pirlo do Bonfim, salvo as
devidas proporções – o italiano deve ser mesmo uma referência para o médio
sadino, a julgar pelo estilo de jogo e pela… barba. Foi substituído aos 79’ com queixas na coxa
direita, quando estava a ser o melhor em campo.
Costinha: Viu cartão
amarelo aos 35’ ,
por falta sobre Tengarrinha. Não gostei da sua atuação. Não foi bem-sucedido em
dribles ou passes e além disso não apoiou convenientemente William Alves nas
tarefas defensivas durante a primeira parte. Já na segunda, por força do recuo
do coletivo, foi praticamente um segundo lateral.
André Horta: Jogou a um
ritmo alto e utilizou a sua qualidade técnica para dar conta do recado em
espaços curtos, qual jogador de futsal. No segundo tempo pareceu-me mais
desconcentrado. Dores de crescimento normais para um futebolista que já é
titular numa equipa da Liga aos 18 anos.
Ruca: Não foi muito
solicitado, até porque a equipa atacou preferencialmente pelo direito. O
extremo esquerdo (que também pode jogar a lateral) apareceu pouco, mas das
poucas vezes que o fez, apontou o 2-0 (45’ ). Defensivamente, dobrou muito bem Nuno
Pinto.
Suk: Caiu inúmeras vezes
no flanco direito, procurando arrastar marcações e integrar-se na construção de
jogo da equipa. Isolado por Frederico Venâncio, rematou para defesa de Gideão (27’ ). Foi também a referência
nas primeiras bolas, quando a equipa optava ou se via obrigada a jogar pelo ar.
No segundo golo dos sadinos ganhou a dividida a Paulo Vinícius e encontrou Ruca
desmarcado no lado esquerdo (45’ ).
Recebeu um grande incentivo no dia a seguir ao encontro, ao ser pré-convocado
para a seleção da Coreia do Sul.
André Claro foi um autêntico vagabundo em campo |
André Claro: Arriscou de
meia distância e marcou um bonito golo (17’ ). Um autêntico vagabundo em campo, foi
aparecendo à direita, à esquerda e ao meio, na tentativa de acrescentar algo ao
ataque dos setubalenses. Também esteve no lance do 2-0, ao bombear a bola para
Suk (45’ ).
Quando André Horta apareceu mais adiantado, recuou no terreno, para manter a
equipa equilibrada.
Dani: Cumpriu durante os
cerca de 15 minutos que esteve em campo, apesar do pouco trabalho.
Uli Dávila: Mal entrou,
teve um drible bem-sucedido e um bom cruzamento para Suk (84’ ). Segundos depois, voltou a
fazer um magnífico cruzamento para o segundo poste, onde apareceu Costinha a
cabecear para defesa de Gideão (85’ ).
Entrou muito bem e deixou água na boca. Deu a criatividade e o toque de bola
que faltava, mas não teve tempo para mudar muito.
Zequinha: Entrou com a
‘pica’ toda, mas pouco mais podia fazer em menos de dez minutos.
Outras notas
François e Dani estavam em dúvida
para o encontro e ambos acabaram por começar no banco. Surpreendentemente, o
senegalês não foi o único central na condição de suplente, pois Miguel Lourenço
também constava na ficha de jogo e até esteve para entrar, antes do Boavista alcançar
o empate.
Rúben Semedo e Gorupec acabaram
de se juntar ao plantel e por isso não foram convocados. Já Hamdou Elhouni
estava lesionado, mas mesmo que estivesse disponível, não podia ir a jogo, uma
vez que o seu certificado internacional e o do irmão Mohamed El Gadi ainda não
chegaram.
Diego não foi convocado. Ainda
não o vi em qualquer treino ou jogo, mas pelas fotografias que tenho visto,
parece-me com quilos a mais. Foi talvez o melhor guarda-redes da Liga em
2010/11 e 2011/12, onde ajudou a salvar o Vitória da despromoção. Mas o passado
não conta e tem de responder ao carinho da massa adepta e associativa com, para
já, uma melhor forma física.
3.300 espetadores no Bonfim. Quim
Machado tinha pedido 6.000…
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