terça-feira, 18 de agosto de 2015

Das boas transições ao amargo empate

Suk foi a principal arma do Vitória nas bolas divididas
O Vitória abandonou o 4x3x3 habitual das últimas temporadas e aderiu à moda do 4x4x2 (ou 4x1x3x2), seguindo Benfica, Sporting, SC Braga e Paços de Ferreira. Mas muito mais importante que o sistema tático é o modelo de jogo, ou seja, as movimentações dos jogadores e o movimento que eles dão à bola.

Apesar da presença de dois homens no ataque, cada treinador dá-lhes uma utilização diferente. No Sporting e no Benfica, por exemplo, Slimani e Mitroglou ficam mais fixos na área enquanto o outro avançado (Teo Gutiérrez e Jonas, consoante o caso) jogam mais soltos. Quim Machado optou por dar grande liberdade não só a um deles, mas a ambos. Suk e André Claro, muito móveis, caem alternadamente no flanco e baixam para receber a bola.


Tenho também lido que o Vitória é uma equipa que privilegiava a circulação de bola, mas a única circulação que vejo é entre os elementos da zona mais recuada quando é necessário reorganizar a equipa.

Fig. 1
Fig. 2
O emblema de Setúbal é, sim, uma equipa de transições: Paulo Tavares baixa até junto dos centrais e bombeia a bola para direita, entre o central e lateral adversários, espaço atacado por Suk ou por Costinha na direita [ver fig. 1]. Outras vezes é Frederico Venâncio, com qualidade técnica e visão de jogo, a desmarcar um colega de ataque, até mesmo com um passe rente à relva [ver fig. 2]. E ainda houve alturas em que os sadinos optaram ou viram-se obrigados a bombear bolas, com Suk como referência a tentar ganhar o duelo aéreo.

 No encontro com o Boavista, de domingo (2-2), o primeiro golo dos sadinos até nasceu num dos tais passes rasteiros de Frederico Venâncio a queimar linhas, com André Claro a tratar do resto da jogada. No segundo tento, uma bola bombeada para a frente pelo mesmo André Claro levou Suk a ganhar a dividida a Paulo Vinícius e a assistir Ruca. Bonito ou não de se ver, a turma de Quim Machado construiu assim a vantagem.

Depois, na segunda parte, tudo se desmoronou. Talvez alguns jogadores tivessem acusado excesso de confiança pela vantagem que levavam tanto no resultado como em número de jogadores em campo e pelo que o Boavista não mostrou na etapa inicial.

Mas a equipa setubalense também recuou em demasia – que é como quem diz: pôs-se a jeito -, convidou os axadrezados a atacar a baliza de Raeder e estes, mesmo reduzidos a dez, num lance em que Paulo Tavares estava caído (e assim sendo a vantagem numérica pouco contou), reduziram para 1-2. Numa bola parada, ou seja, noutro lance em que a vantagem/desvantagem numérica também pouco contava, os homens de Petit chegaram ao empate. Assim se explica o resultado.


Ficha de jogo


4x1x3x2 de Quim Machado
Vitória (4x1x3x2): Raeder; William Alves, Frederico Venâncio, Fábio Pacheco e Nuno Pinto; Paulo Tavares c (Dani, 78); Costinha, André Horta a Ruca (Uli Dávila, 83); Suk e André Claro (Zequinha, 86)

Suplentes não utilizados: Miguel Lázaro (GR), François, Miguel Lourenço e Vasco Costa

Treinador: Quim Machado

Disciplina: Cartão amarelo a Costinha (35) e Uli Dávila (90+3)


Boavista (4x3x3): Gideão; Inkoom, Phillipe Sampaio, Paulo Vinicius e Afonso Figueiredo; Tengarrinha c, Idris e Rúben Gabriel (Leozinho, 29); Diego Lima (Anderson Carvalho, 69), Uchebo (José Manuel, 60) e Luisinho

Suplentes não utilizados: Mika (GR), Nuno Henrique, Pouga e Anderson Correia

Treinador: Petit

Disciplina: Cartão amarelo a Idris (45+1 e 68) e Inkoom (90); Cartão vermelho por acumulação a Idris (68)


Árbitro: Vasco Santos (AF Porto), assistido por Bruno Rodrigues e Sérgio Jesus e com João Bento como 4.º árbitro


Golos


1-0, por André Claro (17’). Suk, que estava no flanco direito, atrasou a bola para Frederico Venâncio, que por sua vez passou rasteiro de primeira para André Claro. Este escapou à tentativa de desarme de Idris e de fora da área, descaído para o lado direito, rematou, a bola ainda bateu no relvado antes de chegar à baliza e só parou no fundo das redes.

2-0, por Ruca (45’). André Claro, junto à linha de meio-campo, bombeou uma bola para as costas da defesa boavisteira. Suk ganhou a dividida a Paulo Vinícius – nortenhos ficaram a pedir falta – e encontrou Ruca desmarcado na esquerda, que completamente à vontade bateu Gideão de pé esquerdo.

2-1, por Afonso Figueiredo (74’). Numa altura em que Paulo Tavares estava caído no relvado, Luisinho progrediu pela esquerda, chegou à linha de fundo e atrasou para Afonso Figueiredo, que rematou em arco de pé esquerdo e bateu Raeder. A bola ainda embateu no poste antes de beijar a rede.

2-2, por Luisinho (81’). Livre lateral cobrado a meia altura, no lado esquerdo, numa espécie de cruzamento/remate. Ninguém desviou a bola e esta acabou por bater no relvado e trair Raeder.




Apreciação individual


Raeder: Não me convence minimamente. É incapaz de agarrar uma bola nos cruzamentos pelo ar, é pouco expedito a sair de entre os postes, não é fiável a jogar com os pés e ficou mal na fotografia em ambos os golos. No primeiro (74’) até podia não ter hipóteses de defesa, mas a sua expressão corporal deu a entender que tinha tudo sob controlo… quando não tinha. No segundo (81’) atirou-se demasiado cedo para o relvado, não conseguindo perceber que o esférico ainda iria embater no relvado, podendo-o trair, como veio a acontecer.

William Alves: Central adaptado ao lado direito da defesa, por falta de opções, uma vez que o croata Gorupec tinha acabado de ser contratado e Fábio Pala não conta para Quim Machado. Como era de esperar, não deu grande profundidade, mas cumpriu defensivamente, embora o 2-1 tenha nascido no seu lado.

Frederico Venâncio foi dos melhores em campo
Frederico Venâncio: Foi o protagonista da primeira grande ocasião de golo, ao aparecer ao segundo poste para cabecear para fora após livre de Nuno Pinto na direita (9’). Sem medo de arriscar no jogo com os pés, foi dele o último passe para o primeiro tento, marcado por André Claro (17’). Com mais um passe rasteiro, isolou Suk aos 27’.

Fábio Pacheco: Outro que jogou adaptado a uma nova posição. É médio defensivo mas atuou a central. Não sei se por algum nervosismo pela estreia na Liga, o ex-Tondela pareceu-me muito menos fiável que o companheiro do centro da defesa a jogar com os pés e apesar da elevada estatura não se fez impor assim tanto no jogo aéreo.

Nuno Pinto: Dos mais experientes nestas andanças, não acusou ansiedade neste arranque de campeonato, mas deixou algo a desejar. Pouca profundidade e várias bolas perdidas. Foi o homem das bolas paradas. Aos 90’ atirou para as nuvens um livre direto potencialmente perigoso.

Paulo Tavares: Envergou a braçadeira de capitão e foi o patrão do meio campo. Baixou até junto aos centrais para pegar no jogo. Geralmente foi dele o passe longo para o espaço entre o central e lateral ou para as costas do lateral adversário. Entregou quase sempre a bola redondinha, sendo uma espécie de Pirlo do Bonfim, salvo as devidas proporções – o italiano deve ser mesmo uma referência para o médio sadino, a julgar pelo estilo de jogo e pela… barba. Foi substituído aos 79’ com queixas na coxa direita, quando estava a ser o melhor em campo.

Costinha: Viu cartão amarelo aos 35’, por falta sobre Tengarrinha. Não gostei da sua atuação. Não foi bem-sucedido em dribles ou passes e além disso não apoiou convenientemente William Alves nas tarefas defensivas durante a primeira parte. Já na segunda, por força do recuo do coletivo, foi praticamente um segundo lateral.

André Horta: Jogou a um ritmo alto e utilizou a sua qualidade técnica para dar conta do recado em espaços curtos, qual jogador de futsal. No segundo tempo pareceu-me mais desconcentrado. Dores de crescimento normais para um futebolista que já é titular numa equipa da Liga aos 18 anos.

Ruca: Não foi muito solicitado, até porque a equipa atacou preferencialmente pelo direito. O extremo esquerdo (que também pode jogar a lateral) apareceu pouco, mas das poucas vezes que o fez, apontou o 2-0 (45’). Defensivamente, dobrou muito bem Nuno Pinto.

Suk: Caiu inúmeras vezes no flanco direito, procurando arrastar marcações e integrar-se na construção de jogo da equipa. Isolado por Frederico Venâncio, rematou para defesa de Gideão (27’). Foi também a referência nas primeiras bolas, quando a equipa optava ou se via obrigada a jogar pelo ar. No segundo golo dos sadinos ganhou a dividida a Paulo Vinícius e encontrou Ruca desmarcado no lado esquerdo (45’). Recebeu um grande incentivo no dia a seguir ao encontro, ao ser pré-convocado para a seleção da Coreia do Sul.

André Claro foi um autêntico vagabundo em campo
André Claro: Arriscou de meia distância e marcou um bonito golo (17’). Um autêntico vagabundo em campo, foi aparecendo à direita, à esquerda e ao meio, na tentativa de acrescentar algo ao ataque dos setubalenses. Também esteve no lance do 2-0, ao bombear a bola para Suk (45’). Quando André Horta apareceu mais adiantado, recuou no terreno, para manter a equipa equilibrada.

Dani: Cumpriu durante os cerca de 15 minutos que esteve em campo, apesar do pouco trabalho.

Uli Dávila: Mal entrou, teve um drible bem-sucedido e um bom cruzamento para Suk (84’). Segundos depois, voltou a fazer um magnífico cruzamento para o segundo poste, onde apareceu Costinha a cabecear para defesa de Gideão (85’). Entrou muito bem e deixou água na boca. Deu a criatividade e o toque de bola que faltava, mas não teve tempo para mudar muito.

Zequinha: Entrou com a ‘pica’ toda, mas pouco mais podia fazer em menos de dez minutos.


Outras notas


François e Dani estavam em dúvida para o encontro e ambos acabaram por começar no banco. Surpreendentemente, o senegalês não foi o único central na condição de suplente, pois Miguel Lourenço também constava na ficha de jogo e até esteve para entrar, antes do Boavista alcançar o empate.

Rúben Semedo e Gorupec acabaram de se juntar ao plantel e por isso não foram convocados. Já Hamdou Elhouni estava lesionado, mas mesmo que estivesse disponível, não podia ir a jogo, uma vez que o seu certificado internacional e o do irmão Mohamed El Gadi ainda não chegaram.

Diego não foi convocado. Ainda não o vi em qualquer treino ou jogo, mas pelas fotografias que tenho visto, parece-me com quilos a mais. Foi talvez o melhor guarda-redes da Liga em 2010/11 e 2011/12, onde ajudou a salvar o Vitória da despromoção. Mas o passado não conta e tem de responder ao carinho da massa adepta e associativa com, para já, uma melhor forma física.

3.300 espetadores no Bonfim. Quim Machado tinha pedido 6.000…








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