quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Quem se lembra de quando o Leixões, então na II Divisão B, chegou à final da Taça de Portugal?

Leixões atingiu a final da Taça de Portugal em 2001-02
O Leixões está entre os 13 clubes que já ergueram a Taça de Portugal, tendo-o conseguido através de uma vitória sobre o FC Porto na final de 1961, disputada nas Antas. Mas é também o autor de uma façanha inédita na história da prova rainha: foi a única equipa a atingir o jogo decisivo enquanto militava no terceiro escalão, na altura a II Divisão B, em 2001-02.
 
Comandada por Carlos Carvalhal, a equipa matosinhense contava com jogadores como o goleador gabonês Henri Antchouet, os experientes médicos Besirovic, Abílio Novais e Tozé, o veterano central Sérgio Abreu e os jovens Pedras e Bruno China. Era uma equipa recheada de jogadores com experiência na I Liga e desenhada para subir à II Liga, mas que até nem cumpriu o principal objetivo da temporada, uma vez que foi o Marco, que somou os mesmos 83 pontos, a almejar a desejada promoção na Zona Norte da II B.
 
A histórica caminhada do Leixões até à final da Taça de Portugal começou na segunda eliminatória, numa visita ao terreno do Pevidém, na altura a militar nos campeonatos distritais da AF Braga, tendo valido o golo solitário de Pedras aos nove minutos para selar a vitória e o apuramento.
 
 
Seguiu-se a receção a um emblema de uma divisão superior, o Desportivo de Chaves, que na altura até se encontrava nos lugares cimeiros da II Liga. Os leixonenses necessitaram de prolongamento, mas alcançaram o triunfo com um golo ao cair do pano, quando já se pensava em jogo de desempate. Pedras foi, uma vez mais, o autor do único remate certeiro da partida, aos 119 minutos.
 
“O final do Leixões-Chaves deixou bem claro o porquê de a Taça de Portugal ser a festa do futebol, mesmo quando se assiste a uma partida sofrível, monótona até. O golo, praticamente de ouro, de Pedras, a um minuto do final do prolongamento, levou os cerca de 5000 adeptos leixonenses a uma explosão de alegria digna dos bons velhos tempos. Até aí foi sofrer a bom sofrer, com a tarde de enorme inspiração do guardião espanhol Carou - um forte candidato ao regresso à baliza flaviense - e o desacerto escandaloso dos dianteiros da casa, fatores que levaram a adiar o que parecia, e foi, inadiável”, escreveu o jornal O Jogo na edição do dia seguinte, as 12 de novembro.



Uma semana depois, o Leixões jogou para a quarta eliminatória da Taça de Portugal na casa do quase vizinho Varzim, que na altura militava na I Liga. Os leixonenses voltaram a transcender-se. Primeiro levaram o 0-0 para prolongamento, depois responderam da melhor maneira ao golo inaugural de Paulo Piedade aos 105 minutos, conseguindo empatar por Detinho (107’) e virar para 1-2 por Antchouet (114’). Contudo, os varzinistas então comandados por Rogério Gonçalves restabelecer a igualdade ao cair do pano, por Vítor Manuel (118’), que atirou a decisão para o jogo de desempate, em Matosinhos.
 
No Estádio do Mar, o Leixões voltou a resolver o assunto à… pedrada. Sim, Pedras voltou a ser decisivo, desta vez com dois golos, precisamente o que abriu (ao 35’) e fechou (81’) uma vitória por 3-1 sobre os poveiros. Pelo meio, Mendonça empatou para o Varzim (43’) e Antchouet (66’) devolvem a vantagem aos matosinhenses.
 
“Parece estar de volta a velha escola leixonense, que deixou marcas indeléveis no futebol português, nos anos 70, com a célebre equipa dos ‘bebés’, construída por António Teixeira. Vinte anos de pois, após uma autêntica ‘travessia no deserto’, o Leixões, pela mão do seu jovem e promissor treinador, Carlos Carvalhal, volta a chamar a atenção do tecido futebolístico português, com uma equipa que encanta. Como ontem aconteceu. Aliás, como já havia acontecido no jogo da primeira mão, porque o Leixões só não resolveu a eliminatória na Póvoa devido a um ‘frango’ de Ferreira no último minuto do prolongamento”, podia ler-se no jornal O Jogo na edição do dia seguinte, a 6 de dezembro de 2001.

 

À medida que a Taça de Portugal foi avançando, praticamente só equipas das ligas profissionais foram continuando em prova, mas o Leixões de Carlos Carvalhal nunca se importou com isso, nem quando visitou a equipa que nessa época se viria a sagrar campeã da II Liga, o Moreirense de Manuel Machado. Antchouet abriu o ativo logo aos sete minutos, ao passo que Roberto empatou aos 18’, estabelecendo uma igualdade que viria a durar até ao final da primeira parte do prolongamento, quando Luís Barros apontou o golo que deu a vitória aos matosinhenses (104’).
 
“A disputar a II Divisão B, mas com jogadores habituados a um escalão superior, como, por exemplo, Abílio, Besirovic e José António, o Leixões deu ontem mais uma prova cabal do seu valor, eliminando o Moreirense da Taça de Portugal. A praticar um futebol agradável, e contando com o apoio dos seus adeptos, que se superiorizaram em número aos da equipa da casa, o Leixões entrou melhor no jogo e cedo se adiantou no marcador através de Antchouet, que finalizou uma excelente jogada entre Calica e José António. O Moreirense reagiu, mas o golo do empate, marcado de cabeça por Roberto, só surgiu devido a um erro do guarda-redes Ferreira, que hesitou a sair da baliza, na marcação de um canto. Na parte complementar, e principalmente na última meia-hora, a qualidade do jogo decaiu, já que, e com a proximidade do prolongamento, as equipas arriscaram menos, pois um golo sofrido seria sinónimo de eliminação. No prolongamento, e apesar de um maior inconformismo do Moreirense, foi o Leixões a marcar o golo da vitória”, resumiu o jornal O Jogo na edição do dia seguinte, a 13 de dezembro de 2001.



Nos quartos de final, o Estádio do Mar voltou a receber a visita de uma equipa da II Liga, o Portimonense, que na altura até ocupava um dos lugares cimeiros do segundo escalão. No entanto, os algarvios também caíram aos pés dos bebés do Mar, que venceram por 3-1. Antchouet (35 e 80 minutos) abriu e fechou o resultado, ao passo que Detinho ampliou a vantagem (68’) e Toni (72’) reduziu para os alvinegros.
 
“41 anos depois de ter conquistado a Taça de Portugal, a primeira e única do seu rico historial, o Leixões carimbou categoricamente o passaporte para as meias-finais da ‘festa do futebol’, ao bater por 3-1 o Portimonense. Uma partida em que se destacou o gabonês Antchouet, autor de dois golos, e um adversário com uma defesa surpreendentemente frágil para quem chegou tão longe”, sintetizou o jornal O Jogo na edição do dia seguinte, 17 de janeiro de 2002.

 
Nas meias-finais, o Leixões foi jogar a casa do Sp. Braga, que ainda não tinha a força que tem hoje no futebol português, mas que já era um clube estabilizado na primeira metade da tabela da I Liga e que contava já com algumas participações nas competições europeias. Mas nem isso nem o coração bracarense de Carlos Carvalhal impediram mais um tomba-gigantes, com os matosinhenses a triunfar por 3-1 no Estádio 1º de Maio. Abílio abriu o ativo aos 49 minutos e Nené fez o segundo golo aos 80’, antes de Barroso reduzir para os minhotos (83’) e Detinho estabelecer o resultado final ao cair do pano (90’).
 
“Diz-se que a Taça de Portugal é a prova mais democrática do futebol português e ontem o Leixões justificou-o, em campo, ao ‘ignorar’ o favoritismo atribuído ao seu adversário, cujas credenciais exibiam a chancela de equipa primodivisionária, à partida mais acostumada a pressões e palcos competitivos de maior dimensão. Pura ilusão, porém. A turma matosinhense, ciosa da sua ‘origem de classe’ de militante da II Divisão B, cedo ‘socializou’ o desafio, mostrando-se indiferente a escalões e estratos ‘sócio desportivos’, adotando uma atitude que teve tanto de inteligente como de matreira, evidenciando ainda uma maturidade assinalável: concedeu a iniciativa ofensiva ao Braga e procurou contra-atacar pelo seguro, sem pressas nem atabalhoamentos, aproveitando a experiência de alguns dos seus mais tarimbados jogadores, casos, por exemplo, de Abílio, Besirovic e Sérgio, grande conhecedor de uma casa por onde já passou e se deu bem”, podia ler-se na edição do dia seguinte do jornal O Jogo, a 22 de fevereiro de 2002.
 
 
 
Por fim, a tão desejada festa do Jamor. Quem levou a melhor foi o Sporting, que assim conquistou a dobradinha, graças a um golo solitário de Mário Jardel (em posição irregular) aos 40 minutos. Mas a forma briosa como minimizaram as diferenças, tendo enviado duas bolas aos ferros da baliza leonina – livre de Abílio e cabeceamento de Antchouet – e a caminhada até à final encheu todos os adeptos matosinhenses de orgulho.
 
“Não era bem assim que a ‘nação’ sportinguista, ainda na ressaca de prolongados festejos, gostaria de ter juntado ao Campeonato a vitória na Taça de Portugal, num ‘dois em um’ que por força de um brasileirismo se chama ‘dobradinha’. Mas por força de um... brasileiro, que se chama Jardel, nem poderia ter sido de outra maneira. O homem-golo do futebol europeu selou uma vitória minguada, suadíssima e deveras penalizadora para um fabuloso Leixões, que se apresentou no Jamor completamente despido de complexos e que por isso mesmo obrigou o Sporting a sofrer, a sofrer muito. O ‘KO’ que a plateia leonina pedia, com exibição, golos, magia e tudo mais a que um campeão tem direito, acabou, pois, por dar lugar a uma vitória aos pontos. E por escassa margem, deve dizer-se”, escreveu o jornal O Jogo na edição do dia a seguir à final, a 13 de maio de 2002.
 
 








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