terça-feira, 11 de maio de 2021

A minha primeira memória de… um jogo entre Benfica e Nacional

Benfiquista Geovanni e nacionalista Adriano lutam pela bola
O Nacional regressou à I Liga em 2002-03, após onze anos de ausência, mas não precisou de muito tempo para se consolidar como uma equipa da primeira metade da tabela classificativa. E mesmo que andasse pela segunda metade, era longe da zona de despromoção e não deixava de causar grandes dificuldades aos clubes grandes.
 
No que concerne aos jogos com o Benfica, não me recordo da vitória nacionalista na Choupana em setembro de 2002 (1-0, golo de Serginho) nem do triunfo benfiquista na velha Luz em fevereiro de 2003 (2-0, bis de Zahovic), até porque nessa altura não tinha Sport TV nem Internet em casa. Tenho uma vaga ideia da vitória encarnada no Jamor em setembro de 2003 (1-0, golo de Tiago a meias com um defesa madeirense) e de um jogo da Taça de Portugal na nova Luz em que os benfiquistas estiveram mais de uma hora em desvantagem e só deram a volta nos instantes finais (2-1, golos de Tiago e Sokota para o Benfica e de Serginho Baiano para os insulares).
 
Assim sendo, o primeiro jogo de que me recordo (mesmo, mesmo!) entre Benfica e Nacional foi o da segunda volta do campeonato de 2003-04, em que os nacionalistas então orientados por Casemiro Mior bateram as águias comandadas por José Antonio Camacho por 3-2.
 
Lembro-me de estar a passar umas miniférias na aldeia em que os meus pais nasceram no Alentejo aquando desse encontro, que iniciou logo a seguir a um empate a um golo entre Gil Vicente e Sporting em Barcelos (1-1). Na altura, leões e águias encontravam-se a discutir o segundo lugar, enquanto o FC Porto seguia imparável na liderança. Já o Nacional estava em posição de apuramento europeu, com uma equipa composta em grande parte por jogadores brasileiros talentosos como Rossato, Paulo Assunção, Alexandre Goulart, Serginho Baiano e o goleador Adriano – na baliza estava Hilário, que dois anos depois haveria de se transferir diretamente dos madeirenses para o Chelsea de José Mourinho.



 
Esse encontro de 22 de fevereiro de 2004 na Choupana ficou marcado por voltas e reviravoltas. O Nacional adiantou-se aos dez minutos, pelo inevitável Adriano, a cabecear certeiro ao segundo poste na resposta a um livre da esquerda executado por Patacas.
 
No entanto, o Benfica chegou ao empate à passagem da meia através da sua estrela da companhia no início do século XXI, Simão Sabrosa, na cobrança de um livre direto bem ao seu estilo: remate colocado de pé direito, a partir da meia esquerda, com a bola a entrar num dos ângulos da baliza.
 
Na segunda parte, os encarnados colocaram-se pela primeira vez em vantagem, por Nuno Gomes, que aproveitou uma escorregadela de Hilário para introduzir a bola no fundo das redes (51’).
 
Estaria feito o mais difícil para a formação benfiquista? Nada disso. Logo a seguir, Adriano voltou a cabecear certeiro, desta vez na sequência de um canto da esquerda marcado por Alexandre Goulart (54’).
 
E praticamente de rajada, Gouveia fez o 3-2 para os insulares, ao aparecer ao segundo poste a cabecear para o interior da baliza encarnada após um canto apontado na direita pelo pé esquerdo de Rossato (56’).
 
Além do resultado, lembro-me que este jogo serviu de ponto de viragem na forma como os adeptos das águias e os críticos passaram a ver o guarda-redes benfiquista Moreira. Antes, era um titular indiscutível e era visto como um futuro guardião da seleção nacional AA e o dono da baliza encarnada para muitos anos. No entanto, nesse encontro saiu em falso aos cruzamentos que deram o 1-0 e o 3-2, ficou sem saber o que fazer no lance do 2-2 e passou a ser visto como um guarda-redes débil a sair da baliza e sem categoria para defender a baliza do Benfica. Coincidência ou não, meses depois foi contratado Quim, que lhe viria a roubar a titularidade.

 
“O Nacional voltou a fazer mossa no confronto com os grandes do futebol português, aplicando ao Benfica a chapa 3 que já tinha apresentado ao Sporting, quando os leões viajaram até à Choupana. A equipa de Fernando Santos, no entanto, ainda conseguiu marcar tanto como o opositor, mas ontem os encarnados saíram vergados a uma derrota, ainda que tangencial, quase dramática. Por um lado, viram-se mais longe do rival de Alvalade, que conseguiu transformar um empate em Barcelos num bom resultado (tem agora cinco pontos de vantagem) e, ainda mais grave, voltou a demonstrar lacunas defensivas dramáticas. Sofrer três (!!!) golos na sequência de lances de bola parada (dois cantos e um livre) é, de facto, muito para uma equipa que ainda na passada semana acreditava (e fazia os adeptos acreditarem, como se viu na presença em massa no encontro com o FC Porto) que o título era possível. A verdade é que o FC Porto já está a 12 pontos e o Sporting a cinco”, podia ler-se no dia seguinte no jornal O Jogo, numa crónica assinada por Ricardo Lemos, que anos mais tarde viria a integrar o departamento de comunicação do Benfica.











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