sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Os 10 clássicos mais marcantes entre Benfica e Vitória FC

Vitória FC e Benfica na final da Taça de Portugal de 2004-05
Há muito que os jogos entre Benfica e Vitória de Setúbal ganharam o estatuto de clássico de futebol português. Afinal, ambos já se defrontaram em quase duas centenas de ocasiões, incluindo quatro finais da Taça de Portugal e uma decisão da Supertaça Cândido de Oliveira.


Os primeiros confrontos oficiais remontam a 1919, quando os sadinos participaram pela primeira vez no Campeonato de Lisboa. Mas seis anos antes, a 15 de setembro de 1993, as águias apadrinharam a inauguração do Campo dos Arcos, o primeiro recinto desportivo dos setubalenses.

Mais tarde, depois de se ter sagrado campeão lisboeta em 1923-24 e 1926-27, o Vitória abandonou a Associação de Futebol de Lisboa e fundou a congénere de Setúbal, juntamente com outros clubes no recinto. A partir daí os duelos entre vitorianos e benfiquistas tiveram exclusivamente dimensão nacional, na I Divisão e na Taça de Portugal. 

Entre tantos duelos, vale a pena ver aqui a nossa seleção dos dez mais marcantes, por ordem cronológica.


20 de janeiro de 1935 – I Divisão (1.ª jornada)
Um jogo histórico para os dois clubes, pois foi o primeiro encontro de cada um deles na I Divisão. Qualificaram-se para este campeonato oito representantes dos quatro torneios regionais considerados mais competitivos: quatro da AF Lisboa (Benfica, Sporting, Belenenses e União Lisboa), dois da AF Porto (FC Porto e Académico do Porto), um da AF Coimbra (Académica) e um da AF Setúbal (Vitória FC).
No Campo das Amoreiras, o primeiro estádio do Benfica, os encarnados venceram por 3-1, com um bis de Alfredo Valadas na primeira parte (6 e 15 minutos) e um golo de Carlos Torres (70’), com o sadino Rendas a reduzir já perto do final (84’).

Campo das Amoreiras, palco do encontro


20 de junho de 1943 – Taça de Portugal (final)
Uma final histórica, por ser a primeira do Vitória de Setúbal, que nessa época competiu na II Divisão, naquela que foi a primeira presença de uma equipa de uma divisão secundária no jogo de atribuição da Taça de Portugal. Mas também foi uma final histórica para o Benfica, que garantiu nesse encontro a sua primeira dobradinha, imitando o feito do Sporting em 1940-41, e tornou-se o primeiro clube a vencer pela segunda vez a prova.
O que teve pouca história foi mesmo a partida, praticamente de sentido único, disputada nas Salésias. As águias então orientadas pelo húngaro János Biri golearam por 5-1, com golo de Rogério Pipi (12’) – o primeiro de 15 dele em finais da Taça, o que ainda é recorde -, outro de Manuel da Costa (23’), um bis de Julinho (32’ e 88’) e um autogolo de Armindo (75’). Para os sadinos, comandados por Armando Martins, marcou Amador (58’).

Salésias acolheram final da Taça de Portugal de 1943


1 de junho de 1961 – Taça de Portugal (Oitavos de final)
A 7 de maio de 1961, o Benfica vence o Vitória na Luz por 3-1 no jogo da primeira-mão. Porém, o segundo jogo foi agendado para 1 de junho, precisamente um dia depois da final da Taça dos Campeões Europeus em que as águias bateram o Barcelona em Berna para se sagrarem campeãs continentais pela primeira vez.
O Benfica tentou que a visita aos sadinos fosse adiada, mas o Vitória não aceitou e a Federação Portuguesa de Futebol também não fez muita questão. Uma vez que a equipa principal estava a voltar da Suíça, os encarnados fizeram-se representar no Campo dos Arcos com a equipa de reservas, o que acabou por marcar a estreia de Eusébio de águia ao peito.
Eusébio marcou um golo (64’) e desperdiçou um penálti – o primeiro de cinco que falhou em toda a carreira -, mas o Vitória, então na II Divisão, venceu por 4-1, com bis de Quim (6’ e 12’) e de Pompeu (59’ e 81’).

Lance do jogo disputado no Campo dos Arcos, em Setúbal


1 de julho de 1962 – Taça de Portugal (final)
Um ano depois da estreia de Eusébio, as duas equipas voltam a defrontar-se na Taça de Portugal, mas desta vez na final, disputada no Jamor. Tal como em 1943, os sadinos competiam nessa época na II Divisão e voltaram a sair derrotados. Desta feita, o resultado foi ligeiramente mais simpático para os setubalenses.
Após um nulo ao intervalo, coube a Eusébio bisar no decorrer da segunda parte (57 e 84 minutos) para a formação orientada por Fernando Caiado. Pelo meio, Cavém também marcou para os encarnados (68’), que cerca de dois meses antes se tinham sagrado bicampeões europeus.
Esta foi a 11.ª Taça de Portugal para o Benfica, que na altura tinha conquistado tantas vezes a prova rainha como o resto dos clubes na globalidade: Sporting (5), Belenenses (2), FC Porto (2), Leixões (1) e Académica (1).



4 de julho de 1965 – Taça de Portugal (final)
Para o Vitória, à quarta é que foi de vez. Depois dos insucessos das finais de 1943, 1954 e 1962, os sadinos juntaram-se ao restrito lote de clubes vencedores da Taça de Portugal em 1965.
Pela frente estava o tricampeão Benfica, que nessa época tinha sido vice-campeão europeu e contava com um inspirado Eusébio, que nesse mesmo ano ganhou a Bola de Ouro. Porém, o conjunto orientado por Fernando Vaz venceu por 3-1, com golos de José Maria (8 minutos), Jaime Graça (57’) e Armando Bonjour (83’). Pelas águias, tal como em 1962, marcou Cavém.



21 de novembro de 1993 – I Divisão (10.ª jornada)
Depois dos tempos áureos dos dois clubes na década de 1960, o Vitória perdeu algum fulgor e chegou a andar pela II Divisão. Já o Benfica continuava a ser um crónico candidato ao título, como sempre o foi, mas ia sentindo dificuldades para travar a hegemonia iniciada pelo FC Porto no final dos anos 1970.
À entrada para a 10.ª jornada do campeonato de 1993-94, as águias lideravam a prova em igualdade pontual com o Boavista e o Sporting, sem qualquer derrota, enquanto os sadinos seguravam a lanterna-vermelha. Contudo, nada disso contou na tarde de 21 de novembro de 1993.
O avançado nigeriano Rashidi Yekini foi a grande figura do encontro, ao apontar dois golos, o primeiro (29’) e o penúltimo da tarde (73’). Com o resultado ainda a zeros, o jogador africano protagonizou um grande momento, ao arrancar com a bola a meio do seu meio-campo e, na cara de Neno, a rematar ao poste. E já com os sadinos a vencer por 1-0, acertou com estrondo na trave. O estreante brasileiro Sérgio Araújo (39’) e o esquerdino Paulo Gomes de livre direto (52’) dilataram a vantagem, Vítor Paneira (55’) e Aílton (66’) reduziram-na, antes de Chiquinho Conde dar a estocada final (82’).
“Lembro-me de o Vitória de Setúbal ter dois jogadores muito importantes. Sobre a direita tinha um brasileiro muito rápido que era o Sérgio Araújo e depois um ponta-de-lança nigeriano, que infelizmente já morreu, que era o Yekini. Não era um jogador muito dotado do ponto de vista técnico, mas fisicamente era impressionante… O Vitória de Setúbal chega de forma muito fácil ao 3-0, depois houve uma reação e chegamos ao 3-2 e estamos perto do 3- 3, mas aparece o 4-2 que sentencia o jogo. Realmente, houve Vitória de Setúbal a mais para Benfica a menos”, afirmou Toni ao jornal I duas décadas depois.
“Não houve uma preparação especial. Éramos uma equipa de vocação ofensiva, mas no início as coisas não estavam a sair. Depois acabámos em sexto. Podíamos ter marcado mais golos. Éramos fortes no contra-ataque e o Benfica apostou tudo na frente, mas não aproveitámos”, recordou Raúl Águas ao Record em 2014.



22 de fevereiro de 2003 – I Liga (23.ª jornada)
Vitória FC 2-6 Benfica
Mais um duelo de extremos, com o Vitória a apresentar-se neste jogo na zona de despromoção, enquanto o Benfica era segundo classificado. A classificação, porém, não se refletiu em campo durante praticamente toda a primeira parte, uma vez que os sadinos já venciam por 2-0 aos 23 minutos, com golos de Pascal e Rui Miguel.
Contudo, as águias não só não baixaram os braços como deram a volta ao resultado e construíram uma goleada, numa noite memorável para Simão Sabrosa, autor de um hat trick. O internacional português reduziu para 2-1 no final da primeira parte, na execução de um livre direto. Depois fez o cruzamento para o autogolo de Carlos (61’), antes de Tiago ter estabelecido a reviravolta (63’), e colocou o resultado em 2-4 na conversão de uma grande penalidade (70’). Sokota, com um remate à meia volta (80’), e novamente Simão, através de um remate colocado (90+4’), completaram a goleada benfiquista.
“Uma segunda parte demolidora do Benfica arrasou literalmente com a resistência dos sadinos, que tinham sido superiores até ao intervalo, ao qual chegaram em vantagem amplamente merecida. De resto, não fora um erro crasso do árbitro Mário Mendes à beira do intervalo, ao deixar-se levar pela simulação de Zahovic, livre do qual resultou o primeiro golo encarnado, e o Vitória teria entrado para o segundo tempo com dois golos de vantagem. O que, como é evidente, teria repercussões diferentes a nível psicológico numa e noutra equipa”, escreveu o Record na crónica do jogo.



29 de maio de 2005 – Taça de Portugal (final)
40 anos depois, os dois clubes voltavam a defrontar-se no Jamor, naquele que era o regresso do Vitória à final da Taça de Portugal após 32 anos de ausência. O Benfica, que uma semana antes se tinha sagrado campeão nacional após 11 anos de jejum, tinha a possibilidade de conquistar a décima dobradinha da sua história, a primeira desde 1987.
O favoritismo era dos encarnados, que tinham vencido os dois jogos entre as duas equipas para o campeonato – 4-0 na Luz e 2-0 no Bonfim -, e começou a refletir-se bem cedo no resultado, com um golo madrugador de Simão Sabrosa, aos quatro minutos, na conversão de uma grande penalidade.
No entanto, a formação orientada por José Rachão queria fazer história e chegou ao empate aos 26 minutos, através de um remate de Manuel José desviado por Ricardo Rocha para a baliza benfiquista. Já no segundo tempo, Meyong aproveitou uma defesa incompleta de Moreira para dar a volta ao marcador (72’).
Vários anos depois, Nuno Gomes admitiu que houve “excesso de festejos” do título nacional por parte do plantel benfiquista em vésperas da final, o que levou a desgaste e excesso de confiança no Jamor.



5 de janeiro de 2008 – I Liga (15.ª jornada)
Um jogo que estava empatado a zero e a ser jogado com absoluta normalidade até aos 63 minutos, quando Luisão trava Edinho em falta e em seguida reclama veemente com Katsouranis. O grego não gostou e foi direto ao brasileiro, havendo troca de empurrões e de palavras azedas entre ambos, o que obrigou à intervenção de companheiros de equipa como David Luiz, Petit ou Maxi Pereira.
O treinador benfiquista José Antonio Camacho agiu de imediato, retirando de campo os dois jogadores, que cederam os respetivos lugares a Edcarlos e Mantorras. O avançado angolano apenas precisou de três minutos em campo para inaugurar o marcador (72’), mas Edinho restabeleceu a igualdade à beira do tempo de compensação (88’).
Na sequência do desentendimento, a SAD encarnada começou por suspender preventivamente os dois jogadores, mas decidiu por levantar primeiro a suspensão a Luisão, um dos capitães de equipa. “Conversámos e já sei o que ele não gostou. Está tudo bem entre nós como sempre esteve”, afirmou o brasileiro dias depois.
“Tivemos aquela discussão muito feia em Setúbal, mas isso aproximou-nos ainda mais. Somos duas pessoas com uma personalidade muito forte, muito vincada, e depois acabámos por falar cara a cara. Foi muito importante”, recordou o grego ao Record, em fevereiro de 2017.



31 de agosto de 2009 – I Liga (3.ª jornada)
Não foi a maior goleada nos confrontos entre os dois clubes. Essa ocorreu em 1954, quando o Benfica goleou por 9-0. Porém, esses números já tinham caído em desuso quando as águias então orientadas por Jorge Jesus, uma superequipa em que coabitavam nomes como Cardozo, Saviola, Ramires, Di María e Aimar receberam o remendado Vitória de Carlos Azenha, que se apresentou na Luz com um onze em que apenas Sandro transitava da época anterior.
Para se ter a noção, ao intervalo já havia 5-0, com golos de Javi García (16 minutos), Luisão (21’), Cardozo (29’ de grande penalidade), Aimar (35’) e Ramires (37’). No segundo tempo, Cardozo completou o hat trick (65’ e 75’) – o primeiro dele em Portugal - e o recém-entrado Nuno Gomes fechou a contagem encarnada (85’), antes de Hélder Barbosa ter apontado o golo de honra dos sadinos (90’).
No rescaldo da goleada, o jornal A Bola dedicou uma capa a Jorge Jesus, apelidando-o de “exterminador implacável”, dando conta da palestra agressiva do treinador ao intervalo, pedindo mais golos.

































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