Flamengo e Fluminense são rivais no Rio de Janeiro desde 1912 |
Flamengo e Fluminense são
protagonistas do único clássico de futebol com o estatuto de património imaterial
de uma cidade, neste caso do Rio de Janeiro. O Fla-Flu, considerado um dos
principais dérbis do futebol mundial, detém o recorde mundial de público em jogos
entre clubes e foi descrito pelo jornalista carioca e adepto dos rubro-negros
Mário Filho como o Clássico das Multidões. Já o seu irmão Nelson Rodrigues,
igualmente jornalista, mas torcedor
do tricolor, foi autor de frases como “O Fla-Flu não tem começo. O Fla-Flu não
tem fim” ou “O Fla-Flu começou quarenta minutos antes do nada”.
Rivalidade secular, com início em
1912, tem sido alimentada por mais de 400 jogos e mil golos presenciados ao
vivo, em alguns dos casos, por mais de 100 mil espetadores. Desde finais do
Campeonato Carioca a eliminatórias da Copa Sul-Americana, são tantos e tantos
os duelos inesquecíveis entre os gigantes da Cidade Maravilhosa. Veja aqui a
nossa seleção dos dez melhores, por ordem cronológica.
7 de julho de 1912 – Campeonato Carioca (5.ª jornada da fase regular)
O primeiro jogo entre as duas
equipas, com um contexto a fazer lembrar o primeiro dérbi
lisboeta entre Sporting e Benfica. Isto porque nove titulares do Fluminense
deixaram o clube para fundar o departamento de futebol do Flamengo, que começou
o Campeonato Carioca com goleadas sobre Mangueira (16-2), América (6-3) e Bangu
(7-4), ainda que com uma derrota com o Paysandu (1-2) pelo meio. Já o tricolor parecia estar fragilizado,
depois de derrotas com o Rio Cricket (1-2) e Paysandu (0-5) e do empate com o
América (0-0), embora tenha vencido o São Cristóvão (1-0).
Perante 800 espetadores no Campo
da Guanabara, nas Laranjeiras, o Flamengo era favorito por maioria de razões,
mas o Fluminense não se mostrou intimidado e inaugurou o marcador logo no
primeiro minuto, por Edward Calvert, naquele que seria o primeiro golo da
história do clássico. Arnaldo empatou pouco depois, mas James Calvert voltou a
dar vantagem ao Flu. O Fla empatou novamente, por Píndaro, mas Bartholomeu
marcou o golo da vitória tricolor.
22 de outubro de 1916 – Campeonato Carioca (fase única)
Mais um duelo marcante nas Laranjeiras.
O Flamengo vencia por 3-2 quando o árbitro R. Davies assinalou um penálti a
favorecer os rubro-negros. Riemer encarrega-se da execução, mas atira para
fora. Depois é marcado outro penálti a favorecer o Flamengo, mas Sidney Pullen
permitiu a defesa de Marcos de Mendonça. O árbitro mandou repetir alegando que
ainda não tinha apitado, mas o guarda-redes dos tricolores voltam a negar o
golo a Sidney. O juiz voltou a mandar repetir, alegando que um jogador do
Flamengo tinha invadido a área. Então os futebolistas do Fluminense protestaram
bastante, acusando o árbitro de beneficiar o Flamengo. O árbitro não voltou
atrás na decisão, o que gerou ainda mais protestos e uma invasão de campo por
parte dos adeptos do Fluminense.
O regulamento do Campeonato Carioca
dizia que se um jogo estivesse parado mais de cinco minutos seria anulado, o
que acabou por acontecer, pois a paralisação durou mais de sete minutos. Foi a
primeira vez que um Fla-Flu do Campeonato Carioca foi anulado, tendo sido
disputada nova partida a 8 de dezembro, no campo do Botafogo, com o Fluminense
a vencer por 3-1. Curiosamente, esse segundo jogo esteve interrompido durante
20 minutos depois de a bola ter ido parar em cima de uma das bancadas.
10 de junho de 1945 – Torneio Municipal (7.ª jornada)
A maior goleada num Fla-Flu. O
Fluminense até ficou à frente do Flamengo nesse campeonato vencido pelo Vasco,
mas os rubro-negros presentearam os rivais com uma vitória por 7-0. Pirillo foi
o protagonista desse encontro realizado em São Januário, ao apontar quatro
golos. Foi dele o golo que levou o Flamengo para intervalo com a vantagem
mínima. Na segunda parte, foram uns atrás dos outros: Adilson fez o terceiro,
Tião o quarto e o quinto.
No dia seguinte, o Jornal dos Sports resumiu o jogo numa
frase: “Houve Fla-Flu apenas no primeiro tempo…”
15 de dezembro de 1963 – Campeonato Carioca (24.ª jornada)
O nulo que se registou no final
do jogo contrasta com a importância do mesmo, que valeu um recorde mundial de
público num encontro entre clubes: 194.603 espetadores no Maracanã. Em partida
a contar para a última jornada do Campeonato Carioca, o Flamengo precisava
apenas de um empate para garantir o título, enquanto o Fluminense tinha de
ganhar para ultrapassar o rival.
O tricolor adotou uma estratégia
muito ofensiva, especialmente durante a segunda parte, e exerceu uma pressão
sufocante nos derradeiros dez minutos, mas faltou eficácia na hora da
finalização. Assim sendo, o emblema rubro-negro sagrou-se campeão, colocando um
ponto final a um jejum que durava há oito anos.
2 de dezembro de 1989 – Campeonato Brasileiro (7.ª jornada da 2.ª fase)
Jogo que ficou marcado pela
despedida de Zico, num clássico disputado na cidade de Juiz de Fora. Os
rubro-negros entraram empenhados em tornar o encontro numa festa inesquecível
para o lendário jogador, que acabou mesmo por inaugurar o marcador na execução
de um livre a punir falta que o próprio sofreu de Donizete, aos 22 minutos. Mas
Zico não se ficou por aí, tendo feito a assistência para o segundo golo, obra de
Renato Gaúcho no início do segundo tempo. Zico sai em seguida e é ovacionado
pelos adeptos, mas dentro de campo os jogadores do Flamengo queriam mais e
marcaram por mais três vezes, por Luís Carlos, Uidemar e Bujica.
25 de junho 1995 – Campeonato Carioca (14.ª jornada do Octagonal final)
O jogo do título do Campeonato
Carioca, na última jornada. Um encontro eletrizante, emocionante, recheado de
golos, presenteado por 120 mil pessoas no Maracanã e resolvido com um golo… com
a barriga. O Fluminense precisava de ganhar e foi para intervalo a vencer por
2-0, com remates certeiros da estrela Renato Gaúcho e de Leonardo. O 2-0
persistiu até aos derradeiros 20 minutos, mas depois Romário reduziu para os
rubro-negros e Fabinho deixou a partida igualada.
Com um resultado que não servia,
a jogar em desvantagem numérica de nove contra dez e aparentemente sem força
anímica, o tricolor parecia impotente para evitar que o rival ficasse com o
título. Porém, um remate torto de Aílton fez a bola embater na barriga de
Renato Gaúcho e tomar o rumo da baliza do Flamengo, aos 87 minutos. Entretanto,
o Flu ficou a jogar com oito devido à expulsão de Lima, mas resistiu à pressão
do Fla e conquistou o campeonato que lhe fugia há dez anos.
Embora este jogo tivesse ficado
marcado pelo golo de barriga de Renato Gaúcho, é comum encontrar fichas de jogo
em que o 3-2 é atribuído a Aílton.
21 de fevereiro de 2004 - Taça Guanabara (final)
76 mil espetadores lotaram o
Maracanã para assistir à final que colocava à prova os galácticos tricolores,
designação inspirada no Real Madrid de então e que se devia ao facto de o
Fluminense ter na equipa alguns dos jogadores mais conceituados no Brasil na
altura, como Romário, Edmundo, Roger, Ramon ou Léo Moura.
No entanto, as estrelas ainda
procuravam o melhor entrosamento e o Flamengo entrou melhor, inaugurando o
marcador através de um cabeceamento certeiro de Fabiano Eller, aos 34 minutos.
O rubro-negro continuou em vantagem até aos 65’, quando o jogo ganhou contornos
diabólicos, com quatro golos em dez minutos. Antônio Carlos fez o empate num
lance em que Júlio César deixou a bola passar entre as pernas, Rafael fez o 1-2
para o Fla praticamente na resposta, mas um autogolo do central flamenguista
Henrique voltou a deixar tudo empatado. Com as bancadas ao rubro perante uma
fase estonteante, Ibson isolou Roger Guerreiro que, entre dois defesas e o
guarda-redes do Fluminense, tocou subtilmente a bola para o fundo das redes de
Kléber, estabelecendo o resultado final.
31 de janeiro de 2010 - Taça Guanabara (6.ª jornada)
Mesmo privado de Fred, o
Fluminense teve um primeiro tempo avassalador e foi para intervalo a vencer por
3-1, com golos de Alan, Conca e Cássio contra um de Adriano. Ainda antes de se
chegar à meia hora de jogo, já se ouviam olés
no Maracanã.
A segunda parte foi bem
diferente. O técnico rubro-negro
Andrade substituiu Pet e Fernando por Willians e Vinícius Pacheco e o Flamengo
apresentou-se transfigurado. Depois de Vinícius Pacheco ter acertado na trave,
Vagner Love reduziu a desvantagem aos 52 minutos. No minuto seguinte, Vinícius
Pacheco serviu Kleberson para o 3-3.
Embora embalado por dois golos de
rajada, o Flamengo sofreu um revés com a expulsão de Álvaro, que viu o segundo
amarelo por falta sobre Maicon. O Fluminense ganhou algum ânimo e passou a ter
mais posse de bola, mas o rubro-negro não deixou de incomodar e aos 82’
completou a reviravolta, por Adriano. O Imperador viria a sentenciar o
resultado sete minutos depois, completando o hat trick.
7 de maio de 2017 – Campeonato Carioca (segunda-mão da final)
Depois de o Flamengo ter vencido por
1-0 como visitante na primeira-mão, as duas equipas voltaram a marcar presença
no Maracanã, mas desta vez com o rubro-negro como anfitrião.
Decidido a dar a volta ao texto,
o Fluminense colocou-se em vantagem logo aos três minutos, por Henrique Dourado.
O 0-1 manteve-se até bem perto do final, quando Guerrero empatou o encontro aos
84’ e voltou a colocar o mengão na
frente. Entretanto, já com o Flu com menos um, devido a expulsão do
guarda-redes Diego Cavalieri e com o volante
Orejuela na baliza, Rodinei estabeleceu o resultado final aos 95 minutos e
confirmou o Flamengo como novo campeão carioca, três anos depois.
1 de novembro de 2017 – Copa Sul-Americana (segunda-mão dos quartos de
final)
Mais um jogo de voltas e
reviravoltas a opor os dois rivais do Rio de Janeiro. Tal como na final do
Campeonato Carioca, o Flamengo tinha vencido a primeira-mão como visitante por
1-0, com um golo de Éverton.
Porém, o Fluminense tornou a
entrar forte no segundo jogo, inaugurando o marcador logo aos dois minutos, por
Lucas. Diego empatou aos 9’, mas dois cabeceamentos certeiros de Renato Chaves
colocaram o tricolor a vencer por 3-1
aos no início do segundo tempo.
Posto isto, o Flamengo precisava
de pelo menos dois golos para seguir em frente, algo que haveria de conseguir.
Felipe Vizeu fez o primeiro aos 67’, Willian
Arão empatou o encontro através de um cabeceamento certeiro aos 83’,
motivando a explosão de alegria no Maracanã e a qualificação do rubro-negro
para a fase seguinte da Copa Sul-Americana.
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